SOTERIOLOGIA
Pr. Pedro Rocha
CONTEÚDO
INTRODUÇÃO
I. TRÊS ABORDAGENS TEOLÓGICAS SOBRE A SALVAÇÃO
II. A ORDEM DA SALVAÇÃO
III. ELEIÇÃO ( ESCOLHA DAS PESSOAS A SEREM SALVAS POR DEUS)
IV. VOCAÇÃO (O CHAMADO DO EVANGELHO)
V. GRAÇA COMUM E GRAÇA EFICAZ
VI. REGENERAÇÃO (O SER NASCIDO DE NOVO)
VII. CONVERSÃO (FÉ E ARREPENDIMENTO)
VIII. JUSTIFICAÇÃO (O DIREITO LEGAL DE ESTAR DIANTE DE DEUS)
IX. ADOÇÃO (FILIAÇÃO NA FAMÍLIA DIVINA)
X. SANTIFICAÇÃO (TORNAR-SE SEMELHANTE A CRISTO)
XI. PERSEVERANÇA DOS SALVOS (CONSERVAR-SE CRISTÃO)
XII. GLORIFICAÇÃO
NOTAS
BIBLIOGRAFIA
INTRODUÇÃO: Soteriologia trata da aplicação da obra de redenção, ou seja, trata da apropriação da salvação. Mas o conceito de “salvação” é bem complexo. Primeiro porque não é ligado a um significado especificamente cristão. O termo também pode ser utilizado conforme um entendimento secular. Por exemplo, no final da década de 1920, os escritores soviéticos referiam a Lênin como o “salvador”. Na década de 1980, os golpes militares em vários países africanos eram visto como “movimentos para a salvação nacional”.
Mesmo no âmbito religioso, a idéia da salvação não é especificamente cristã. Diversas religiões tem seus conceitos de salvação. No entanto, existe uma grande distinção entre esses conceitos, tanto no que concerne a seu entendimento sobre a maneira como se alcança a salvação, quanto à forma que ela assume. O respeito à integridade das religiões mundiais requer o respeito à forma como cada religião oferece ou concebe a salvação.
A perspectiva cristã a respeito da salvação reside em duas áreas distintas. Primeiro, reside no fato de que o cristianismo entende que o fundamento da salvação reside na vida, morte e ressurreição de Cristo. Segundo, pela questão de que a forma específica que a salvação assume na tradição cristã. É a partir desta forma complexa cristã, que analisaremos a nossa matéria.
I. TRÊS ABORDAGENS TEOLÓGICAS SOBRE A SALVAÇÃO
1.1. O universalismo: Todos serão salvos – “Defende a tese de que todos serão salvos, a despeito do fato de ter ou não ouvido ou respondido à proclamação cristã de redenção em Cristo”(1).Este pensamento tem exercido uma forte influência no seio da tradição cristã. Representa a idéia da vontade redentora universal de Deus e sua concretização final na redenção universal de todas as pessoas. Orígenes, foi seu representante mais importante entre os primeiros escritores cristãos. Orígenes não aceitava o dualismo, isto é, sistema de crença que reconhecia a existência de dois poderes supremos, um bom e outro mal. Essa crença era característica de várias formas de gnosticismo, muito influente no final do século II. Sua soteriologia era restauracionista, e a versão final redimida da criação não poderia incluir um inferno ou um reino de Satanás. No final tudo será restaurado àquela unidade prometida por nosso Senhor Jesus Cristo.Karl Barth, no século XX, desenvolveu idéias semelhantes. John A T. Robinson, teólogo inglês radical, que atuou na década de 1960, apresenta uma abordagem distinta a partir da análise sobre a natureza do amor de Deus. “Em um universo de amor é impossível que exista um céu que tolere uma câmara de horrores”. Esta abordagem também foi defendida por F. E. Schleiermacher, G. C. Berkower, William Barclay, Jacques Ellul.
1.2. Somente os que crerem serão salvos: Enfatizam a necessidade da fé como pré-requisito da salvação. Agostinho foi um forte defensor deste ponto de vista. Essa posição foi mantida pela maior parte dos escritores da Idade Média. Tomás de Aquino ensinava que um ato de fé era condição necessária à salvação. João Calvino assumiu esta mesma posição contra o reformador Ulrico Zuínglio, que afirmava que os pagãos piedosos podiam alcançar a salvação. No entanto esta abordagem foi modificada. Por exemplo John Wesley, defendia a necessidade da fé em Deus para a salvação, embora esta fé não precisava ser abertamente cristã em seu caráter. C. S. Lewis, crítico literário e apologista do século XX, alega que aqueles que se comprometem com a busca do bem e da verdade serão salvos, mesmo que não tenha um conhecimento formal de Cristo. Afirmava que existem pessoas em religiões diferentes do cristianismo, mas que em algumas partes se assemelham ao cristianismo e que, portanto, pertencem a Cristo mesmo sem sabê-lo. A afirmação do teólogo jesuíta Karl Rahner é parecida.
1.3. A salvação particular: somente os eleitos serão salvos – O fundamento desta doutrina encontra-se na doutrina reformada da predestinação. Ela possui várias designações como “expiação limitada” ou “salvação particular”. Tem ligações reformadas, e atualmente é muito influente em círculos desse tipo nos Estado Unidos. Contudo suas origens remontam ao século IX, nas obras de Godescalc de Orbais. Seu raciocínio desenvolve no seguinte sentido. Suponhamos que Cristo morreu por todos. Mas nem todos serão salvos. Portanto, conclui-se que a morte de Cristo não teve efeito para aqueles que não serão salvos. Isso torna a morte de Cristo ineficaz. No entanto, se Cristo morreu somente pelos eleitos (aqueles que devem ser salvos), ele teve êxito em sua missão em todos os sentidos.
Linhas de argumentação semelhantes a esta podem ser notadas no final do século XVI e particularmente no século XVII. Esta doutrina, surgida nos círculos puritanos, pode ser assim resumida: Cristo morreu somente pelos eleitos. Embora sua morte seja suficiente para salvar todos, ela somente é eficaz para os eleitos. Em decorrência disso se concluí que a obra de Cristo não foi em vão. Todos aqueles por quem ele morreu são salvos.
II. A ORDEM DA SALVAÇÃO
2.1. O que queremos dizer sobre a ordem da salvação: Quando falamos de uma ordem da salvação, não estamos dizendo que a ação de aplicar a graça de Deus ao pecador individual não seja um processo unitário, mas simplesmente estamos dizendo que é possível distinguir vários movimentos no processo de aplicação da redenção, e de que esse processo segue uma ordem definida razoável.
2.2. A Bíblia indica uma ordem definida da salvação? : Não, ela não nos dá uma ordem da salvação completa, mas oferece-nos uma base suficiente para a referida ordem. Ela nos dá duas coisas que nos ajudam a elaborara esta ordem:
1. Dá-nos uma completa e rica enumeração das operações do Espírito Santo na aplicação da obra realizada por Cristo.
2. Ela indica em muitas passagens e de muitas maneiras , a relação que os diferentes movimentos atuantes na obra de redenção mantêm uns com os outros.
2.3. As igrejas não estão todas em acordo quanto a ordem da salvação: A doutrina da ordem da salvação é fruto da Reforma. Não se achará nas obras dos escolásticos, por exemplo, algo que lhe assemelhe. Mesmo Pedro Lombardo e Tomás de Aquino, os maiores escolásticos, passam da encarnação diretamente para a discussão da igreja e dos sacramentos. Calvino foi o primeiro a agrupar as várias partes da ordem da salvação de maneira sistemática.
2.4. Diferentes conceitos sobe a ordem da salvação:
2.4.1. O Conceito Reformado (calvinista): Na soteriologia calvinista o ponto de partida é a união estabelecida na aliança da redenção entre Cristo e aqueles que o Pai lhe deu, em virtude da qual há uma imputação eterna da justiça de Cristo àqueles que lhe pertencem. Assim eles principiam com a regeneração ou com a vocação, mostrando que a aplicação da obra de redenção é uma obra de Deus. Em seguida discutem a conversão. A conversão por sua vez inclui o arrependimento e a fé. A fé por sua vez leva naturalmente à justificação, visto que esta nos é mediada pela fé. E porque a justificação coloca o homem numa nova relação com Deus, levando consigo a dádiva do Espírito de adoção, impondo ao homem uma nova obediência e também lhe dando a capacidade para obedecer, a próxima obra será a da santificação. Terminando com a perseverança dos santos e a sua glorificação. Em resumo a ordem da salvação no conceito reformado é:
1. Eleição ( a escolha das pessoas a serem salvas por Deus)
2. Chamado do evangelho (a proclamação da mensagem do evangelho)
3. Regeneração (o ser nascido de novo)
4. Conversão (fé e arrependimento)
5. Justificação (o direito legal de estar diante de Deus)
6. Adoção (a filiação na família de Deus)
7. Santificação (a conduta correta na vida)
8. Perseverança (o permanecer cristão)
9. Morte (partir para estar com o Senhor)
10.Glorificação (a ressurreição do corpo)
2.4.2. O conceito luterano: Os luteranos colocam a principal ênfase em sua ordem de salvação, naquilo que é feito pelo homem, antes daquilo que é feito por Deus. Eles vêem a fé como um dom de Deus, mas, ao mesmo tempo, fazem da fé uma atividade humana, por isso a fé é o fator determinante em sua ordem de salvação. Depois da fé, virá o arrependimento, seguido da regeneração, pela qual o Espírito Santo dá ao pecador a graça salvadora. A vocação (a chamada), a iluminação, o arrependimento e a regeneração, são apenas preparatórios para receber as bênçãos da graça. O homem pode ter essas experiências independente de sua relação com Cristo, e elas servem apenas para levar o pecador a Cristo. Tudo depende da conduta do pecador em receber ou não a regeneração. Se o homem aceitar a regeneração, segue-se uma fé salvadora, seguida da justificação, a qual o pecador é adotado como filho de Deus, unido à Cristo, recebe o espírito de renovação e santificação, que o princípio vivificante de uma vida de obediência. A posse permanente das bênçãos depende da continuidade da fé. A perseverança do crente é que lhe garantirá a salvação. Se ele deixar de crer, há uma possibilidade de que este crente perca tudo o que possui. A ordem de salvação é:
1. Fé
2. Arrependimento
3. Regeneração
4. Justificação
5. Santificação
6. Perseverança (depende da continuidade da fé)
7. Glorificação
2.4.3. O Conceito Católico Romano: A doutrina da Igreja, vem primeiro que a doutrina da salvação. As crianças são regeneradas pelo batismo. Aqueles que conhecem o Evangelho mais tarde, recebem a “graça suficiente”, que é uma iluminação da mente e um fortalecimento da vontade. O homem pode resistir ou não a esta graça. Se lhe der assentimento, ela se transforma em “graça cooperante”, sob a qual o homem coopera para a sua justificação. Esta preparação para a justificação tem sete partes: aceitação da Palavra de Deus, reconhecimento da condição de pecador, esperança na misericórdia divina, o amor de Deus, aversão pelo pecado, resolução em obedecer os mandamentos de Deus, e desejo de ser batizado. A fé neste esquema é apenas um simples elemento de coordenação com os outros preparativos. Após esta preparação, vem a justificação, seguida do batismo, que é a infusão da graça, das virtudes sobrenaturais, seguida do perdão dos pecados. O dom da justificação é preservado pela obediência aos mandamentos e pela prática das boas obras, que para deste modo receber um merecimento a toda graça e finalmente a vida eterna. Aqui a graça de Deus, atende ao propósito de tornar o homem capacitado para a salvação. Mas não há certeza que o homem poderá ter o perdão dos pecados. A justificação pode ser perdida, mas poderá ser recuperada pelo sacramento da penitência, que remove a culpa do pecado pela absolvição sacerdotal, e cancela as penalidades temporais pelas obras de satisfação. Neste caso a ordem é confusa, mas pode ser:
1. Batismo (para as crianças). Graça suficiente (para os demais)
2. Graça cooperante (os atos de assentimentos)
3. Justificação
4. Batismo (os que foram iluminados na idade adulta)
5. Perdão dos pecados
6. Perseverança (depende da obediência e do sacramento da penitência)
7. Glorificação
2.4.4. O Conceito Arminiano: Embora os arminianos atribuem a obra da salvação a Deus, eles a torna dependente da atitude e da obra do homem. Deus abre a possibilidade para o homem ser salvo, mas cabe ao homem aproveitar a oportunidade. Eles negam a doutrina da depravação total e crê que embora a natureza humana esteja prejudicada e deteriorada como resultado da Queda, o homem, mesmo assim, pode fazer aquilo que é espiritualmente bom e se converter a Deus. Deus infunde a todos os homens a assistência de sua graça, capacitando-os, se quiserem a aceitar as bênçãos espirituais, e por último a salvação. Se o homem render a esta graça, converter-se-ão a Cristo com arrependimento e fé. Vindo então a serem justificados (que no conceito arminiano significa simplesmente ter o perdão dos pecados). Uma vez justificados, a fé gera neles a regeneração. Vindo então a obediência evangélica (santificação), e esta, se deixada em ação através da vida, vai dar na graça da perseverança. A ordem da salvação aqui é a seguinte:
1. Graça preveniente
2. Fé
3. Conversão
4. Arrependimento
5. Regeneração
6. Justificação (perdão dos pecados)
7. Santificação (obediência evangélica)
8. Perseverança (depende da obediência)
9. Glorificação
2.4.5. O conceito do arminianismo wesleyano ou evangélico: Admite que a culpa do pecado é imputada a todos os descendentes de Adão. Mas por causa da justiça de Cristo, que é concedida a todos os homens, esta culpa é retirada imediatamente, em seu nascimento, visto que há uma aplicação universal da obra de Cristo mediante o Espírito santo, pela qual o pecador é habilitado a cooperar com a graça de Deus. Ensina que esta graça é necessária para efetuar a renovação e a santificação do pecador. Ensina ainda a doutrina da perfeição cristã ou da santificação completa na presente existência. Este é o tipo de arminianismo mais comum em nossos dias. A ordem da salvação não muda em relação ao arminianismo do século XVII.
III. ELEIÇÃO ( ESCOLHA DAS PESSOAS A SEREM SALVAS POR DEUS)
3.1. ELEIÇÃO: A Eleição se refere ao decreto divino de escolher, dentre a humanidade condenada, certos indivíduos para serem beneficiários do Dom gratuito da salvação. Deus fez isso sem referência aos méritos, ao estado da vontade, ou a fé prevista dos eleitos. Esta doutrina faz parte do esquema agostiniano que inclui os seguintes pontos:
1. Que a glória de Deus é o fim supremo e último de todas as coisas.
2. Para este fim Ele propôs a criação do universo e todo o plano da providência e da redenção.
3. Que ele pôs o homem em estado de provação, fazendo de Adão, seu primeiro pai, o cabeça e representante.
4. Que a queda de Adão conduziu toda a sua posteridade a um estado de condenação, pecado e miséria, do qual ela é incapaz de livrar-se.
5. Da massa de homens caídos, Deus elegeu um incontável número para a vida eterna, e deixou o restante do gênero humano entregue à justa recompensa de seus pecados.
6. Que a base desta eleição não é a provisão de algo neste escolhidos, mas o beneplácito de Deus.
7. Que Deus, para a salvação dos escolhidos, deu seu Filho Unigênito, para satisfação pelo pecado introduzindo a justiça eterna e assegurando definitiva e absolutamente a salvação dos eleitos.
8. Que embora o Espírito Santo, em suas operações comuns, esteja operando na vida de cada pessoa, reprimindo o mal e induzindo ao bem, seu poder certamente eficaz e salvador é exercido exclusivamente a favor dos eleitos.
9. Que todo aquele a quem Deus tem escolhido para a vida, e pelos quais Cristo se entregou a si mesmo, serão certamente levados ao conhecimento da verdade, ao exercício da fé e à perseverança na santidade até o fim.
3.1.1. A importância da Eleição: A Eleição é como uma luz que ilumina o significado da palavra "graça". Sem ela, a graça é entendida como a recompensa por alguma atividade ou disposição humana, e não como a causa desta disposição. Se a definição correta da palavra "graça" é "um favor imerecido", então a graça tem que ser independente de qualquer atividade humana. No momento em que aceitamos este conceito, entendemos porque a graça e a eleição são inseparáveis. Não é lógico proclamar a doutrina da salvação pela graça enquanto negamos que a Eleição o seja. Paulo expressou esta unidade com estas palavras: "Assim pois também agora, no tempo de hoje sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça.” (Rm 11:5)
3.1.2. A Bíblia fala de diferentes tipos de eleição: Vejamos alguns:
3.1.2. A Bíblia fala de diferentes tipos de eleição: Vejamos alguns:
1. Eleição para serviço ou testemunho: Deus elege certas pessoas ou nação, como no caso de Israel, para serem suas testemunhas diante dos homens dando a eles oportunidade de conhecer ao Senhor e serem nele abençoados. No caso de Abraão e sua posteridade há pelo menos três razões desta escolha : 1).Manter acessa uma luz de conhecimento do verdadeiro Deus no mundo. Se não fora Israel este conhecimento teria desaparecido da terra. (2).Deus queria se revelar ao mundo por meio de Israel. Este povo foi o depositário dos “oráculos de Deus” (Rm 3.1,2). (3).Deus quis por meio deles enviar o Salvador ao mundo. “A salvação vem dos judeus”, disse Jesus (Jo 4.22).
2. Eleição de nações e comunidades para o conhecimento e para os privilégios do Evangelho: Este tipo de eleição tem sido chamado de “Eleição Nacional”. Tal eleição pode ser exemplificada na nação judaica, no passado, e em certas nações européias, assim como na América, na era cristã. É inegável que Deus concedeu privilégios a Israel, que não concedeu a nenhuma outra nação no passado, bem como é inegável que Deus, durante a era Cristã tem, dado oportunidades a certas nações que recusou a outras. Quando o Espírito Santo impediu Paulo de anunciar o evangelho na Ásia e teve a visão de um homem da Europa, uma parte do mundo foi soberanamente excluída do anúncio do evangelho, e outra parte soberanamente foi dada os privilégios do evangelho (At 16.6-10). Samuel Falcão em seu livro “Predestinação”, citando o Dr. Boettner, escreve: “A disparidade relativamente aos privilégios espirituais nas diferentes nações só se deve atribuir ao beneplácito de Deus”(4).
3. Eleição para serviço no sentido mais geral: Há certas pessoas a quem Deus dá talentos especiais e coloca em posições de grandes responsabilidade. Por exemplo, os magistrados (Rm 13.1-7), de acordo com Paulo eles são eleitos por Deus para exercerem autoridade no interesse coletivo. Deus tem um plano para cada ser humano e de acordo com este plano ele dá talentos especiais ou inclinações, que os capacitam para sua vocação especial. Todavia ninguém pode reclamar com Deus, como escreve Paulo: “Quem és tu ó homem ,para discutires com Deus? Porventura pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?” (Rm 9.20).
4. Eleição para a Salvação: Esta é a mais importante de todas. Ela é ensinada tanto no Velho como no Novo Testamento. Neste caso pode-se dizer que a eleição é o propósito de Deus, de salvar certos membros da raça humana, em Jesus Cristo e por meio de Jesus Cristo.
3.1.3. As características da Eleição:
1. É uma expressão da vontade soberana de Deus, do beneplácito divino: Isso exclui a idéia de que a eleição é determinada por alguma coisa existente no homem, como a fé ou as boas obras previstas.
· “(pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para queo propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama.” (Rm 9.11)
2. É imutável e, portanto torna segura e certa a salvação dos eleitos: Pela obra salvadora em Jesus Cristo, Deus executa o decreto da eleição com a sua própria eficiência. Como é de seu propósito que certos indivíduos creiam e perseveram até o fim, Deus mesmo assegura este resultado pela obra objetiva de Cristo e pelas operações subjetivas do Espírito Santo.
· “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou.” (Rm 8.29,30)
· “Todavia o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os seus, e: Aparte-se da injustiça todo aquele que profere o nome do Senhor.” ( 2 Tm 2.19)
3. É eterna: “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo” (Ef 1.4).Outras referências tais como Mt 25.34; Rm 8.29; Ef 1.5,9;2 Tm 1.9; Ap 13.8, ensinam explicitamente que a eleição não ocorre no tempo, mas na eternidade. A eleição jamais deve ser identificada com alguma seleção temporal, mas, antes, deve ser considerada eterna.
4. A eleição é incondicional: O ponto de vista que a eleição teve lugar na eternidade, mas que foi tendo em vista o arrependimento previsto e fé carece de apoio das Escrituras. De acordo com este ponto de vista, Deus, na eternidade, olhou através dos séculos e viu quem ia se arrepender e crer, e estes que Ele viu de antemão foram eleitos para a salvação. Este ponto de vista está correto só em um ponto, que é: a eleição teve lugar na eternidade. Mas está errado quando faz a base da eleição ser algo no pecador, em vez de alguma coisa em Deus. Leia Efésios 1:4-6, onde diz que a eleição e predestinação são"segundo o beneplácito de Sua vontade" e "para louvor e glória de Sua graça". Desde que os homens são todos pecadores e perderam o direito às bênçãos de Deus, não há base para esta distinção neles. Tanto a fé como as boas obras na vida do crente, são frutos da graça de Deus. Leiamos a Bíblia:
· “(pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem tendo praticado bem ou mal, para queo propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama.” (Rm 9.11)
· “Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna.” (At 13.48)
1. É irresistível: Sobre este ponto fica mais claro falar sobre o que não estamos dizendo. A eleição é irresistível em que sentido ?
1. Não significa que o homem não possa opor-se à sua execução até certo ponto. Os que se dizem salvos hoje, não aceitaram o Evangelho no primeiro apelo que lhe fizeram, resistiram por um certo ponto.
2. Não significa que Deus na execução de seu decreto, subjuga a vontade humana de tal modo que este indivíduo não saiba da decisão que está tomando. Os salvos resistiram até certo ponto, mas houve um momento em que sentiram como Daniel, “tocados pela mão de Deus”.
3. Significa sim que por mais que o homem resista, sua oposição não prevalecerá contra o propósito de Deus.
4. Também significa, que Deus exerce e exercerá tal influência sobre o espírito humano, que o levará a querer o que Deus quer. Isso está de acordo com as Escrituras a abaixo.
· “O teu povo apresentar-se-á voluntariamente no dia do teu poder, em trajes santos; como vindo do próprio seio da alva, será o orvalho da tua mocidade.” (Sl 110.3)
· “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”.(Fp 2.13)
6). A eleição não merece a acusação de injustiça: Esta é uma das objeções mais comum nesta doutrina. Mas o fato de Deus escolher alguns e os demais são deixados em seu pecado, agindo para sua própria e justa condenação, não pode pesar a culpa de injustiça por parte de Deus. Só podemos falar de injustiça quando uma parte pode reivindicar algo de outra. O pecador não tem direito a salvação e ao perdão de Deus. Ao pecar ele perdeu o direito às bênçãos de Deus. Como o homem não tem direito a salvação, mas a morte, Deus não tem a obrigação de salvar este homem. Logo o que este homem pode exigir de Deus? Nada. Se Deus devesse salvação e perdão a este homem, seria injustiça Deus salvar apenas alguns. Portanto salvação não é questão de justiça, mas de misericórdia. Pelo menos é isso que Paulo entendia. Veja:
“Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum. Porque diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de misericórdia.”. (Rm 9.14-16)
3.1.4. O propósito da eleição: Existe um duplo propósito na eleição. Sendo:
1. O propósito próximo é a salvação dos eleitos: A Bíblia ensina que o homem é escolhido, ou eleito para a salvação.
Ø “Pois quê? O que Israel busca, isso não o alcançou; mas os eleitos alcançaram; e os outros foram endurecidos, como está escrito: Deus lhes deu um espírito entorpecido, olhos para não verem, e ouvidos para não ouvirem, até o dia de hoje. E Davi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, e em tropeço, e em retribuição; escureçam-se-lhes os olhos para não verem, e tu encurva-lhes sempre as costas. Logo, pergunto: Porventura tropeçaram de modo que caíssem? De maneira nenhuma, antes pelo seu tropeço veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação.”(Rm 11.6-11)
Ø “Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do espírito e a fé na verdade.” (2 Ts 2.13)
2. O objetivo final é a glória de Deus: Tudo o que Deus faz, ele o faz para a sua glória.
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para o louvor da glória da sua graça, a qual nos deu gratuitamente no Amado.” (Ef 1.3-6)
IV. VOCAÇÃO (O CHAMADO DO EVANGELHO)
A eleição tem a ver com o propósito e plano da salvação. A expiação tem a ver com a provisão da salvação. A vocação fala da chamada para a aplicação e provisão da salvação aos eleitos. Ela se divide em duas: vocação externa e vocação interna. Vamos por partes.
4.1. Definição: Operação do Espírito Santo “de tal maneira sobre o povo eleito de Deus, que eles são levados ao arrependimento e à fé, e assim feitos herdeiros da vida terna por meio de Jesus Cristo, Senhor deles.” (3)
4.2. O uso bíblico do termo: Este ato do Espírito Santo através do qual os homens são trazidos à união salvífica com Cristo, se expressa através da palavra ‘KLÉSIS’, vocação. Encontramos esta palavra, por exemplo, ou o sentido dela nos seguintes textos:
Ø Hebreus 3.1: “Pelo que, santos irmãos, participantes da vocação celestial, considerai o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus”.
Ø Efésios 4.1: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados.”
Ø Efésios 4.4: “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação”.
Observamos ainda que os sujeitos desta influência salvífica do Espírito Santo são designados “os chamados”. Vejamos os textos:
Ø Romanos 1.6: “Entre os quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo”.
Ø Romanos 8.28: “E sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.”
Ainda diríamos que os temos “chamados” e “eleitos”, são termos permutáveis. Por exemplo Apocalipse 17.14: “Estes combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os que estão com ele,os chamados, e eleitos, e fiéis.”
“Este é, pois o uso das Escrituras. É através da vocação divina que os pecadores são feitos participantes dos benefícios da redenção. E a influência do Espírito por quem são trasladados do reino das trevas para o reino do amado Filho de Deus é uma vocação ou chamamento eficaz.”(4)
4.3. A Vocação Externa : A escritura fala claramente de duas chamadas diferentes. A primeira, na ordem de sua ocorrência, é conhecida geralmente como a chamada (ou vocação) extrínseca ou externa. As passagens seguintes referem-se à chamada externa: Isa. 45:22; 55:6; Mat. 9:13; 11:28; 22:14; Marcos 2:17; Lucas 5:32; Apoc. 22:17. Há outras passagens que se referem evidentemente a ambas às chamadas, que se reservam até considerarmos a chamada interna.
4.3.1. Definição de vocação externa: As Escrituras também faz diferença entre a vocação eficaz e a vocação externa (ou geral), que é dirigida na Palavra de Deus a todos a quem a Palavra se faz conhecida. Neste sentido, “muitos são chamados, porém poucos escolhidos”. Louis Berkhof, em sua Teologia Sistemática define a vocação externa como sendo a “apresentação e oferta da salvação em Cristo aos pecadores, juntamente com uma calorosa exortação a aceitarem a Cristo pela fé, para obterem o perdão dos pecados e a vida eterna”.(5).
4.3.2. Principais características da vocação externa:
1. Esta chamada é por meio da pregação do evangelho: Foi por meio do Evangelho que Jesus chamou pecadores ao arrependimento. Hoje toda apresentação do evangelho é uma chamada aos homens para deixarem o pecado e confiarem em Cristo. A pregação do evangelho é também devidamente ouvida por um estabelecimento da necessidade de salvação do homem e do seu dever e responsabilidade sob Deus para arrepender-se e crer (At. 17:30). Também deverá haver a fervorosa rogativa aos homens para que se reconciliem com Deus (2 Cor. 5:20), um convite a todos que laboram (Mt. 11:28) e estão com sede (Is. 55:1; Jo 7: 37; Ap. 22:17).
2. Esta chamada é geral: Com isto queremos dizer que ela não se limita aos eleitos (Mat. 22:14). Somos mandados pregar o evangelho a todos. Esta chamada é designada a todos os homens, conquanto todos não ouvem. Isto é verdade tanto como todos os homens são mandados a arrepender-se (Atos 17:30), ainda mesmo que todos os homens não ouvem este mandamento. A este respeito a chamada é análogo com a lei moral. Esta lei é a revelação dos deveres que obrigam todos os homens em virtude da relação que eles tem com Deus, na qualidade de Criador e Soberano moral deles, promete o favor divino aos obedientes e ameaça com a ira aos desobedientes. Portanto esta lei se aplica a todos os que mantêm relação de criaturas racionais e morais diante de Deus. O Evangelho é a revelação do relacionamento dos homens apostados com Deus, dirigidos a todos os que pertencem à classe de homens apostatados. Assim como na lei moral, nem todos obedecessem, também é verdade com esta chamada universal do evangelho, nem todos aceitaram, mas a igreja não deve excluir o direito de ninguém de ouvir o evngelho.
3. Esta chamada, em si mesma , é sempre ineficaz: A Israel Deus disse: “Quando eu chamei, voz não respondestes” (Isa. 65:12). A chamada a que se refere aqui foi uma chamada externa igual à chamada sob discussão. Devido à depravação do homem, a pregação do evangelho, ela só, nunca é suficiente para trazê-lo a Cristo. Ele carece mais do que uma chamada externa. O evangelho “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crer”(Rom 1:16); “mas o homem natural não recebe as coisas do espírito de Deus; porque lhe parecem loucura; e não pode conhece-las, porque se discernem espiritualmente” (1 Cor. 2:14). O homem não pode por si só voltar-se do pecado e crer em Cristo. (Jer. 13:23; João 12:39-40; 6:44-65).
4. A chamada é sincera: Os arminianos objetam que o sistema calvinista de doutrina faz insincera uma chamada geral. Porque Deus oferece a salvação àqueles a quem predestinou entregar a justa recompensa de seus pecados ? Ora, se os arminianos pensam assim, certamente negam a doutrina da presciência de Deus. Pois, porque Deus ofereceria salvação àqueles que ele sabe de antemão que irão menosprezá-la e rejeitá-la ? “Se não é inconsistente com a sinceridade de Deus ordenar a todos os homens que o amem, não é inconsistente com sua sinceridade ordenar-lhes que se arrependam e creiam no evangelho”.(6)
4.4. A Vocação Interna ou Eficaz: Vejamos as principais características desta vocação:
1. Esta chamada é uma chamada direta por meio do Espírito: O Espírito Santo toma o evangelho pregado e, abrindo o coração do pecador (Atos 16:14), aplica a Palavra ao coração com poder regenerador. É então, e só então, que o homem pode entender e receber as coisas do espírito de Deus. Assim a chamada interna é também pelo evangelho, mas pelo evangelho aplicado pelo Espírito Santo. As passagens tocando nesta obra do espírito através da Palavra serão dadas quando estudarmos a regeneração.
2. Esta chamada é particular: Por meio dela os objetos da graça salvadora de Deus são segregados. A diferença aqui entre as chamadas externa e interna pode ser ilustrada imperfeitamente pela diferença entre um convite geral feito pela igreja ao povo de uma comunidade para freqüentar seus cultos e os convites pessoais que se estendem a indivíduos particulares pela irmandade da Igreja. Sem dúvida, como dissemos, isto só imperfeitamente ilustra a diferença entre as duas chamadas de Deus. Rm. 8:30 mostra a particularidade desta chamada.
3. Esta chamada é sempre eficaz: É manifesto que as passagens dadas no princípio dessa discussão referem-se a uma chamada eficaz e eficiente. Nunca se lhe resiste; contudo, em respondê-la, o homem age voluntária e livremente.
V. GRAÇA COMUM E GRAÇA EFICAZ
A teologia reformada não considera a doutrina da graça comum como parte da soteriologia. Mas reconhece a estreita relação que existe entre as operações do Espírito Santo na esfera da criação e Suas operações na esfera da redenção, e portanto não devemos nos dissociar muito deste conceito, para então entendermos outros postriormente.
5.1. Graça Comum: O surgimento desta doutrina foi ocasionado pelo fato de que há no mundo, um curso de vida natural, não implicando redenção, no obstante, muitos sinais verdadeiros do bem e do belo. Daí surgia algumas questões por exemplo:
1. Como podemos explicar a vida relativamente ordenada que há no mundo, se sabemos que o mundo inteiro jaz sob a maldição do pecado?
2. Como é que a terra dá frutos preciosos e abundantes, em vez de só produzir espinhos e abrolhos?
3. Como podemos explicar o fato de que o homem pecador conserva um certo conhecimento de Deus, das coisas naturais e da diferença entre o bem e o mal, e ainda demonstra alguma consideração pela virtude e pelo bom comportamento exterior?
4. Que explicação podemos dar dos dons e talentos especiais de que o homem natural é dotado, independente de ter uma nova vida em Cristo Jesus?
5. Como é que os não regenerados ainda podem falar a verdade, fazer o bem aos outros e levar vidas exteriormente virtuosas?
Tais questões são respondidas a partir da doutrina da graça comum.
5.1.1. Agostinho e Pelágio: Agostinho não ensinou a doutrina da graça comum. Ele falava da graça que Adão desfrutava antes da Queda. Após a Queda salientava a incapacidade total do homem e sua absoluta dependência da graça de Deus, quer operante, quer como cooperante. Considera esta graça como condição necessária para a realização de cada boa ação. Pelágio, dava ênfase à capacidade natural do homem e não reconhecia a necessidade de outra graça que aquela que consiste dos dotes naturais do homem, da lei, do Evangelho, do exemplo de Cristo e da iluminação do entendimento por uma influência de Deus.
5.1.2. O conceito na Idade Média: Durante a Idade Média, a antítese de pecado e graça deu lugar à de natureza e graça. Com base noutra antítese, a saber, a do natural e do sobrenatural, a teologia católica romana, desempenhou importante papel sobre o tema. No estado original o homem estava revestido de um dom sobrenatural da justiça original, que servia de freio para manter o controle da natureza inferior. Com a Queda o homem perdeu este dom sobrenatural, mas sua verdadeira natureza permaneceu ou foi apenas ligeiramente afetada. Isso fez com que ele desenvolvesse uma inclinação pecaminosa, mas isto não impedia o homem de produzir muita coisa verdadeira, boa e bela. Contudo sem infusão da graça de Deus, isso tudo não era suficiente para garantir a vida eterna. Desta doutrina desenvolveu no seio da teologia católica romana a distinção entre as virtudes que o homem pode conseguir por seus próprios esforços e as virtudes que o homem só pode conseguir com a oportuna ajuda da graça divina.
5.1.3. Posição dos Reformadores: Lutero não descartou todo fermento católico romano em sua teologia. Apesar de ter retornado à antítese agostiniana de pecado e graça, sustentava que o homem decaído é por natureza capaz de fazer muita coisa boa e louvável na esfera terrena, embora seja incapaz de fazer qualquer bem espiritual. Zwínglio, explicava que o que há de bom e belo neste mundo, é consequência da graça santificante. Calvino, sustentava que o homem não pode por si mesmo fazer nenhuma boa obra. Por isso ao lado da graça particular (eficaz, salvadora), ele desenvolveu a doutrina da graça comum. Esta graça, não perdoa, não purifica e não efetua a salvação. Ela reprime o poder destrutivo do pecado, mantêm em certa medida a ordem moral do universo, possibilitando uma vida ordenada, distribui em certos graus dons e talentos, promove o desenvolvimento da ciência e da arte e derrama incontáveis bênçãos sobre os filhos dos homens.
5.2. A graça Especial: É a graça salvadora. Existem características nesta graça que a distingue da graça comum. Vejamos:
1. A graça especial é determinada pelo decreto da eleição: Ela se limita aos eleitos. Enquanto que a graça comum é outorgada a todos os homens.
2. A graça especial remove a culpa e a penalidade do pecado: Isso é, muda a vida interior do homem, redundando na salvação do pecador. Enquanto que a graça comum jamais remove a culpa do pecado.
3. A graça especial é irresistível: “Não significa que seja uma força determinista a compelir o homem a crer contra a sua vontade, mas significa que, pela mudança do coração do homem, torna-o perfeitamente desejosos de aceitar a Jesus Cristo para a salvação e de prestar obediência à vontade de Deus”(7). Ao passo que a graça comum é resistível, e de fato sofre maior ou menor resistência.
4. A graça especial age de maneira espiritual e recriadora: Ela renova completamente a natureza do homem, e assim, torna-o capaz e desejoso de aceitara a oferta da salvação em Jesus Cristo e de produzir frutos espirituais. A graça comum apela para os desejos naturais do homem, mediante a revelação geral ou especial e mediante a persuasão moral.
Nossa concepção de graça comum aqui, distingue da concepção de graça comum dos arminianos. Cremos que não há significação salvadora nesta graça, ao passo que, eles atribuem significação salvadora. Eles afirmam que, em virtude da graça comum de Deus, o homem não regenerado é perfeitamente capaz de praticar o bem espiritual e em certa medida se converter a Deus com arrependimento e fé, e assim aceitar Jesus para a salvação, a menos que o pecador resista obstinadamente à operação do Espírito Santo. Esta posição foi condenada pelo Sínodo de Dort.
VI . REGENERAÇÃO (O SER NASCIDO DE NOVO)
“A regeneração é aquele ato instantâneo de Deus na região da alma abaixo do senso íntimo pelo qual se remove toda a nódoa da alma, e pela qual, através da instrumentalidade da verdade, o exercício inicial da disposição santa assim comunicada se efetua. Na regeneração há também formada uma união inseparável entre a alma regenerada e o Espírito Santo.”(8)
Wayne Grudem define regeneração como sendo “um ato secreto de Deus pelo qual ele nos concede nova vida espiritual”(9)
Da descrição supra de regeneração notemos que:
(1). É um ato de Deus: O homem não pode dar nascimento a si mesmo. João atribui claramente a regeneração a Deus quando, ao falar de nascermos outra vez, diz: “Não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus” (João 1:13). Esta passagem nos diz que a nova natureza não é hereditária; que ela não provém da vontade da velha natureza (carne); e que não se realiza pela vontade de homem algum, mas é operada por Deus. Na regeneração não temos um homem trabalhando por si mesmo ou por algum outro homem, mas um homem trabalhado por Deus. Daí podemos amplificar a afirmação e dizer que a regeneração é um ato soberano de Deus. João 3:8. Na sua fase inicial (vivificação) a regeneração é incondicional. Por ato algum de si mesmo o homem dispõe Deus a regenerá-lo.
(2). É um ato instantâneo: Diz A. H. Strong: “A regeneração não é uma obra gradual. Conquanto possa haver uma obra gradual da providência de Deus e do Espírito, preparando a mudança, e um reconhecimento gradual dela depois que ocorre, deve haver um instante de tempo em que, sob a influência do Espírito de Deus, a disposição da alma, logo antes hostil a Deus, muda-se para amar. Qualquer outra idéia assume um estado intermediário de indecisões que não tem nenhum caráter moral que seja e confunde a regeneração quer como a convicção quer com a santificação.”(10)
espiritual. Toda passagem da Escritura conduzindo ao novo nascimento implica que ele é instantâneo.
(3). Evidências do novo nascimento: A regeneração genuína deve produzir resultados na vida. Vejamos o que diz as Escrituras:
1. Confiança genuína em Cristo só para a salvação: Notamos que a fé é operada no coração como uma parte (a secundária) ou regeneração. isto é necessariamente assim porque a nova natureza não pode estar na incredulidade. A fé que se opera no homem pela regeneração não se detém por menos que implícita confiança e certeza em Cristo como Salvador pessoal, não é meramente crença a respeito dele, mas fé e confiança nele e sobre ele. Isto é tão abundantemente evidente das passagens que tratam da fé que argumento mais extenso não é preciso para substanciá-lo. (Hb 6.1; Rm 4.5)
2. O testemunho e a presença moradora do Espírito: (Rm. 8:16,9; 1 João 3:24; 4:13). O testemunho e a habitação do Espírito não se evidência por algum sentimento vago, místico, abstrato, mas pelo constante poder regente do Espírito (Rm. 8:14) produzindo devoção a Deus e uma vida obediente. É pela habitação constante do Espírito e sua operação em nós que Deus executa até ao fim a obra que ele começa em nós na regeneração (Fil. 1:6, 2:13). o testemunho e a moradia do espírito estão evidenciados em todos os modos subseqüentes.
3. Prontidão em aceitar a palavra de Deus: (João 8:47). Uma pessoa regenerada mostrará sempre um desejo de conhecer a vontade de Deus em tudo e seguir essa vontade quando se torna conhecida. Não se achará andando continuamente em obstinada rebelião contra a verdade.
4. Estado cônscio de pecado: (Rm. 7:14-25; 1 João 1:8). Nenhuma pessoa salva crer-se-á sem pecado. Os que crêem, estão enganados e sem a verdade, pela qual somos regenerados (Tg. 1:18) e feitos livres (João 8:32). Isto o torna claro que não estão salvos. A nova natureza reconhecerá sempre a presença do pecado no corpo, como no caso de Paulo (Rm. 7:14-25). Essa nova natureza tem em si mesma a unção iluminante do Espírito (1 João 2:27) e participa da natureza de Deus mesmo (2 Pd. 1:4), sendo criada em justiça e verdadeira santidade (Ef. 4:24). Não pode estar cega ao pecado.
5. Amor de Deus e Justiça: (Jo 8:42; Rm. 7:22; 2 Co. 5:17; 1 Jo 4:16-19). Juntamente com o estado cônscio de moradia do pecado estará um amor de Deus e justiça, tal como no caso de Paulo. Paulo achou o pecado no corpo, mas contudo alegrou-se na lei de Deus segundo o homem interior.
6. Uma vida que é obediente segundo o seu teor principal: (Jo 14:21-24; Rm. 6:14; 8:6,13; Gl. 5:24; 1 Jo 1:6; 2:4,15; 3:8,9; 2 Jo 6). A vida da pessoa salva não será perfeita, mas será justa e obediente quanto ao seu teor principal.
7. Purificação progressiva: (1 Jo 3:3). Enquanto o crente nunca alcançará perfeição sem pecado nesta vida, contudo ele sempre batalha contra os seus próprios pecados.
8. Amor a outros crentes: (1 Jo 3:14, 5:2). Há uma tal afinidade entre as pessoas regeneradas que elas se amam mutuamente. Uma evidência deste amor é que elas se alegram na presença e amizade de uns pelos outros. Deus, porém, ajuntou um outro teste de nosso amor pelos irmãos: se amarmos a Deus e guardamos os seus mandamentos sabemos que amamos os filhos de Deus.
9. Perseverança até ao fim: (Mt. 10:22; Rm. 11:22; Fl. 1:6; Cl. 1:23; 1 Jo 3:9; 5:4). A perseverança tanto é uma doutrina da Escritura como a conservação. Pela conservação de Deus somos levados a perseverar.
VII. CONVERSÃO (FÉ E ARREPENDIMENTO)
“Conversão é nossa resposta espontânea ao chamado do evangelho, pela qual sinceramente nos arrependemos dos nossos pecados e colocamos a confiança em Cristo para receber a salvação... fé salvífica é confiança em Jesus Cristo como uma pessoa viva visando ao perdão dos pecados e à vida eterna... arrependimento é uma sincera tristeza por causa do pecado, é renunciá-lo e comprometer-se sinceramente a abandoná-lo, e prosseguir obedecendo a Cristo”.(11)
7.1. A palavra grega “metánoeo”: O Léxico do NT Grego/Português, traduziu esta palavra como sendo “remorso, arrependimento, literalmente, ‘mudança de mente’”(12) Neste sentido encontramos esta palavra nos seguintes textos: ( Mt 3.8,11; Mc 1.4; Lc 15.7; At 5.31; 20.21; 26.20; 2 Co 7.9; Hb 6.1; 12.17). “Metanoeo” é feita de “meta”, significando “depois” e “noeo”, significando “perceber”, entender, meditar, ponderar, considerar.”
7.2. Os elementos constituintes do arrependimento
(1). O pecado é reconhecido: O homem deve ver-se a si mesmo como diferente de Deus e em rebelião contra Deus. Deve ver a oposição que vai de sua condição com a santidade de Deus. Deve ver que Deus detesta sua condição e seu estado. O reconhecimento do pecado que entra no arrependimento para a salvação tem a ver, primariamente, não com o fato que o pecado traz castigo senão com o fato que o pecado ofende a Deus. Há, sem dúvida, um temor das conseqüências eternas do pecado; o que não é, porém, a coisa primária. Este reconhecimento do pecado é convicção e ele constitui o elemento intelectual do arrependimento.
(2). O pecado é lamentado e aborrecido: A tristeza divina entra no arrependimento. Quando alguém se vê a si mesmo como se fora diante de Deus, ele é trazido a lamentar o seu pecado e a aborrecê-lo. Isto é o elemento emocional do arrependimento.
(3). O pecado é abandonado: Não é completo o arrependimento enquanto não houver uma deserção íntima do pecado que conduz a uma mudança externa da conduta. Isto é o elemento voluntário ou volitivo do arrependimento. Assim o arrependimento concerne à inteira natureza interna: intelecto, emoção e vontade.
7.3. O arrependimento é um dom de Deus: As três passagens seguintes provam isto:
Ø “A Ele Deus exaltou com a Sua destra para ser Príncipe e Salvador, para dar o arrependimento a Israel e remissão dos pecados.” (Atos 5:31)
Ø “Ao servo do Senhor não convém contender, mas sim ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor; instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade” (2 Tim. 2:24,25).
Ø “E quando ouviram estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: “ Na verdade, até aos gentios concedeu Deus o arrependimento para a vida” (Atos 11:18).
O sentido disso é, simplesmente, que o arrependimento se opera no homem pelo poder vivificador do Espírito Santo.
7.4. A fé: Aqui temos a referência à fé salvadora; por isto notamos que ele se distingue:
(1). Crença histórica: Isto é mera crença nos fatos da revelação como matérias de história, incluindo a crença na existência de Deus e em que houve um homem chamado Jesus que pretendeu ser o Filho de Deus. Pode ver-se prontamente que semelhante crença não tem valor salvador.
(2). Assentimento intelectual: Isto sobe mais um degrau, trazendo aceitação mental das coisas reveladas de Deus e Jesus Cristo. Assim, um que crê na existência de Deus vem a crer nEle como sendo um ser segundo a Bíblia O revela ser e um que crê que semelhante pessoa como Jesus viveu, vem a crer que Ele era o Filho de Deus e que Ele morreu como um sacrifício pelo pecado. Isto é um passo para a fé salvadora, mas não é ela mesma.
7.5. A fé como um dom de Deus: Isto está provado pelas passagens já citadas que designam o arrependimento como um dom de Deus; porque, como veremos, o arrependimento e a fé são graças inseparáveis. Cada uma, quando aparece só nas Escrituras, abraça a outra; porque, se isto não fosse verdade, as passagens que mencionam só uma ou outra, ensinavam que alguém possa salvar-se tanto sem arrependimento como sem fé. Isto também está provado por passagens que ensinam que a nossa vinda a Cristo e crença nEle são o resultado da obra do poder de Deus. Vide João 6:37,65; Efe. 1:19,20. Isto está ainda provado pelo fato que a fé é um fruto do Espírito Santo (Gal. 5:22).
7.6. A fé não tem mérito em si mesma: A fé é meramente o canal através do qual a graça justificante e santificante de Deus flui na alma. A Fé não é mais meritória do que o ato de se receber um dom. A Fé não é de modo algum substituto de nossa obediência à Lei, nem ela traz um rebaixamento da Lei de modo que preenchamos suas exigências. A fé está uma vez referida na Escritura como trabalho (João 6:29), não que seja da Lei, mas somente que o homem esteja ativamente engajado no seu exercício. “Como um dom de Deus e como a mera tomada de misericórdia imerecida, está expressamente excluída da categoria de obras sobre a base de que o homem pretenda salvação (Rom. 3:28; 4:4,5,16). Não é o ato da alma completa dar senão o ato da alma vazia receber. Conquanto esta recepção seja movida por uma retirada do coração para com Deus, ornada pelo Espírito Santo, está retirada do coração ainda não é um amor cônscio e desenvolvido: semelhantemente amor é o resultado da fé.” (13)
7.7. Fé e arrependimento devem vir juntos: O arrependimento e a fé são graças sincrônicas inseparáveis. Temos aqui referencia, sem dúvida, a esse arrependimento (significado por “metanoeo” e “metanoia”) que é para salvação e não à espécie (significado por “metamelomai”) que Judas provou. Que o arrependimento e a fé são sincrônicos ou simultâneos é evidente do fato que, quando um homem é vivificado para a vida, não pode haver lapso de tempo antes dele arrepender-se, nem pode haver qualquer depois que ele crê. De outra maneira teríamos a nova natureza em rebelião contra Deus e em incredulidade. Assim não pode haver ordem cronológica em arrependimento e fé. Uma outra coisa que mostra a inseparabilidade do arrependimento e da fé é o fato que a Escritura muitas vezes menciona somente um de ambos como o meio de salvação. Por causa deste fato devemos pensar de cada um, quando usado separadamente, como compreendendo o outro.
VIII. JUSTIFICAÇÃO (O DIREITO LEGAL DE ESTAR DIANTE DE DEUS)
8.1. Definição: A justificação é aquele ato de Deus instantâneo, eterno, gracioso, livre e judicial, pelo qual, devido ao mérito do sangue e da justiça de Cristo, um pecador arrependido e crente é livrado da penalidade da Lei, restaurado ao favor de Deus e considerado como possuindo a justiça imputada de Jesus Cristo; em virtude de tudo de que recebe adoção como um filho.
8.2. O autor da justificação: Deus é o autor da justificação. O homem nada tem que ver com a sua justificação, salvo para recebê-la através da fé que o Espírito Santo o habilita a exercer. A Escritura declara: “É Deus que justifica” (Rom. 8:33). E outra vez lemos: “Sendo justificados livremente pela Sua (de Deus) graça por meio da redenção que está em Cristo Jesus” (Rom. 3:24). De Cristo se pode dizer que nos justifica só no sentido que Ele pagou o preço da redenção.
8.3. Características da justificação:
1). É instantâneo: É um ato e não um processo. Ocorre e está completa no momento em que o indivíduo crê. Não admite graus ou fases. Do publicano se diz ter descido à sua casa justificado. Ele foi justificado completamente no momento em que colocou sua fé na obra propiciatória de Cristo. A justificação do crente está posta sempre em tempo passado. Em toda a Bíblia não há o mais leve vislumbre de um processo contínuo na Justificação.
2). É eterna: Quando alguém se justifica, justificado está por toda a eternidade. A justificação não pode jamais ser revogada ou revertida. É uma vez por todo o tempo e eternidade. Por essa razão Deus pergunta: “Quem lançará qualquer acusação contra os eleitos de Deus?”(Rom. 8:33). Cristo pagou inteiro resgate e fez completa satisfação por todos os crentes; doutra maneira Cristo teria de morrer outra vez, ou então o crente cairia em condenação pelos seus pecados futuros. Mas lemos que a oblação de Cristo se fez uma vez por todas (Heb. 10:10), e que o crente “não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (João 5:24). Tanto quanto a posição do crente está em foco, ele já passou o juízo. Foi julgado e absolvido completamente e eternamente. Que Paulo ensinou uma justificação eterna e imutável mostra-se no fato de ele sentir-se chamado a defender sua doutrina contra os ataques dos que contenderiam que ela dava licença ao pecado. Isto é a acusação que se faz hoje contra a doutrina que ora estabelecemos. Finalmente lemos: “Por uma oblação Ele aperfeiçoou para sempre aos que se santificam” (Heb. 10:14). Verdade é que são os santificados que estão sob consideração nesta cita, mas é aplicável aos justificados também; porque, santificados e justificados são um. Se os santificados são aperfeiçoados para sempre, assim são os justificados. A perfeição aqui é a de estar diante de Deus.
3). É graciosa e livre: O pecador não merece nada às mãos de Deus, exceto condenação. Logo, a justificação é inteiramente de graça. Está assim estabelecido em toda à parte na Escritura, exceto por Tiago que empregou o significado secundário do termo. No sentido primário do termo a justificação nunca está representada como sendo através das obras ou obediências do homem. Vide Rom. 3:20; 4:2-6; Tito 3:5. E, enquanto que a justificação é na base da obra meritória e expiatória de Cristo, contudo, da parte de Deus, é livre e espontânea, tanto quanto Deus não estava sob nenhuma obrigação de aceitar a Cristo como nosso substituto.
4). É somente judicial e declarativa: A justificação, no sentido primário, é um termo forense ou legal. É um ato do tribunal do céu. Não faz o crente internamente justo ou santo. Fá-lo justo apenas quanto à sua posição. Muitos confundem sem cessar justificação e santificação; mas não são a mesma coisa. Justificação é apresentada como o oposto de condenação, ao passo que santificação como o oposto de uma natureza pecaminosa. Vide Rom. 5:18.
8.4. O fundamento da justificação: O fundamento da justificação é o sangue e a justiça de Jesus Cristo. A fé é um meio de justificação, mas não é o fundamento dela. Nada no homem é fundamento da justificação. Deus requer perfeição. O homem, por causa da depravação da carne, não pode render obediência perfeita até mesmo depois da regeneração. Daí a justificação deve achar seu fundamento fora do homem.
A justificação toma tanto o sangue como a justiça de Cristo para constituir o seu fundamento. O Seu sangue nos justifica negativamente ; Sua justiça, positivamente. Em outras palavras, o sangue paga a penalidade pelos nossos pecados e a justiça dá posição positiva perante Deus. Não há contradição entre Tiago e Paulo quanto ao fundamento da justificação. Paulo simplesmente usou a palavra grega “dikaioo” no seu sentido primário, para significar fazer alguém legalmente justo, ao passo que Tiago a usou no seu sentido secundário, para significar como mostra e prova estar alguém justo ou tal como devera estar. O mesmo uso que Tiago faz do termo pode-se achar também em Mat. 11:9 e 1 Tim. 3:16. Paulo ensina que nos é dada uma posição justa diante de Deus pela fé; Tiago ensina que provamos nossa justificação pelas nossas obras. Tanta necessidade há de reconciliar Tiago consigo mesmo como de reconciliar Tiago com Paulo; porque Tiago afirma que “Abraão creu em Deus e que isso lhe foi reconhecido como justiça” (Tiago 2:23). Vide Rom. 4:3.
8.5. O meio de justificação: A fé em Cristo é o meio de justificação. Isto é, pela fé é que a justificação é aplicada ou feita experiencial. Ninguém se justifica senão os que crêem. A fé é logicamente anterior à justificação, ainda que não cronologicamente anterior. A justificação é através da fé porque a justificação é só uma de uma série de atos pelos quais Deus nos ajusta para Seu reino aqui e além. Sem fé a justificação se estragaria e não ajudaria a realizar o propósito de Deus em nós. A fé não tem mérito em si ou de si mesma. Ela não é aceita em lugar da nossa obediência. Nem ela produz um rebaixamento do padrão de Deus, de modo que possamos ganhar favor com Deus pelas nossas obras.
8.6. Os benefícios da justificação:
1). Liberdade da penalidade da lei: Em Romanos 10:4 lemos: “Cristo é o fim da Lei para justiça de todo àquele que crê”. E Gálatas. 3:13 diz:“Cristo nos remiu da maldição da Lei fazendo-se maldição por nós.” Isto quer dizer que, para o crente, a Lei não é mais um instrumento de condenação. Cristo arrancou-lhe as garras para o crente. O Monte Sinai ajuntou-se em tremenda fúria e atirou seus dardos de condenação contra Cristo sobre o madeiro. Ele recebeu esses dardos no Seu próprio corpo na cruz, consumiu sua força e robou-lhes o poder de condenarem o crente. Por essa razão o crente nunca entrará em condenação (João 5:24; Rom. 8:1). Cristo morreu como substituto do crente; daí o crente é para a Lei como um já morto.
2). Restauração ao favor de Deus: A justificação não só alforria meramente o homem da penalidade da Lei: fá-lo à vista de Deus como um que nunca quebrou a Lei. A justificação torna o crente tão inocente perante Deus em relação à sua posição como Adão foi antes de cair.
3). Imputação da justiça de cristo: As passagens seguintes ensinam que, na justificação, a justiça de Cristo nos é imputada ou reconhecida: Rom. 3:22, 4:3-6, 10:4; Fil. 3:9. Estas passagens nos ensinam que o crente não só é inocente perante Deus, mas é considerado como possuindo a perfeita justiça de Cristo; logo, tanto quanto se considera a posição e o destino do crente, ele é reconhecido como sendo tão justo como Cristo. Sua posição perante Deus é a mesma como aquela de Cristo. Nesta conexão o imortal Bunyan escreveu: “O crente em Cristo está agora, pela graça, envolto sob uma justiça tão completa e abençoada que a Lei do Monte Sinai não pode achar nem falta nem diminuição nele. Isto é o que se chama a justiça de Deus pela fé.” (14)
4). Adoção de filhos: Lemos: “Deus enviou Seu Filho... para remir os que estavam debaixo da Lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” (Gal. 4:4,5). É na base desta redenção que somos justificados. A adoção é o topo da justificação. Cristo tomou nosso lugar; portanto, quando cremos nEle, tomamos Seu lugar como um filho. É assim que recebemos o direito de nos tornarmos filhos. Está em ordem a adoção para que sejamos “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rom. 8:17), e para que tenhamos um direito legal à herança “incorruptível e impoluta, que não fenece, reservada no céu” para nós (1 Pedro 1:4). Quando fomos justificados, já éramos filhos do diabo. Não podíamos ser inascíturos como tais; daí tínhamos de ser transferidos da família do diabo para a de Deus por adoção. Tornamo-nos filhos experiencialmente pela regeneração, mas legalmente pela adoção. Regeneração e adoção não são as mesmas.
5). Paz com Deus: Romanos 5:1. O crente tem paz com Deus por causa do conhecimento e através do conhecimento de todos os benefícios precedentes.
IX. ADOÇÃO (FILIAÇÃO NA FAMÍLIA DIVINA)
9.1. Definição: “é um ato de Deus por meio do qual ele nos faz membros de sua família”.(15)
9.2. Adoção é algo distinto de regeneração justificação: A adoção é um privilégio distinto da justificação e da regeneração. Na regeneração tornamos-nos vivos espiritualmente. Ela tem haver com a nossa vida interior. Na justificação nossos pecados são perdoados e isso tem a ver com nossa posição diante de Deus. Na adoção somos inseridos na família de Deus, compartilhando dos privilégios de sermos membros desta família. Isso tem a ver com a nossa comunhão com Deus.
9.3. Privilégios da adoção:
1). Possibilidade de falar com Deus e nos referirmos a ele como Pai: Portanto nos dirigimos a ele ,não como um escravo, mas como um filho (Mt 6.9; Gl 6.7). O testemunho interno do Espírito Santo, nos faz que instintivamente o chamemos de Pai (Rm 8.15-16) .
2). O privilégio de ser guiados pelo Espírito: Este um benefício moral pelo qual o Espírito põe em nós o desejo de obedecer a Deus e viver conforme a sua vontade (Rm 8.14).
3). O privilégio de sermos disciplinados pelo Senhor: Em Hebreus 12.5-6 lemos: “E já vos esquecestes da exortação que vos admoesta como a filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, nem te desanimes quando por ele és repreendido; pois o Senhor corrige ao que ama, e açoita a todo o que recebe por filho.”
4). O privilégio de sermos herdeiros juntos com Cristo e participantes tanto dos sofrimentos como de sua glória posterior: (Rm 8.17). A herança que temos junto com Cristo, não diz apenas de sua glória, mas também de seu caminho de padecimento. O entrar na glória é precedido pelo padecer (Lc 24.26).
5). O privilégio de relacionarmos com os outros membros da família de Deus: Sempre que as epístolas se dirigem aos crentes, os chamando de “irmãos” e “irmãs”, a menos que seja especificamente a uma pessoa, esta referência indica a forte compreensão deles da natureza da igreja como uma família de Deus. Nosso relacionamento deve ser um relacionamento de família ( 1 Tm 5.1-2). E nosso trabalho deve ser um trabalho em família.
X. SANTIFICAÇÃO (TORNAR-SE SEMELHANTE A CRISTO)
10.1. Definição: Wayne Grudem, define santificação como “uma obra progressiva da parte de Deus e do homem que nos torna cada vez mais livres do pecado e semelhantes a Cristo em nossa vida presente”. (16)
10.2. Diferença entre justificação e a santificação: Observe o quadro a baixo
JUSTIFICAÇÃO
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SANTIFICAÇÃO
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Posição legal
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Condição interna
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De uma vez por todas
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Continua por toda a vida
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Obra inteiramente de Deus
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Nós cooperamos
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Perfeita nesta vida
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Não perfeita nesta vida
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A mesma em todos os cristãos
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Maior em alguns do que em outros
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Conforme o quadro indica, a santificação é algo que continua por toda a nossa vida. E somos encorajados pelo NT a dar atenção e demosntrar zelo por ela.
10.3. O significado de termos:
1). O termo grego “hagiazo”: O nome “santificação” é a tradução do grego “hagiasmos”. O verbo grego é “hagiazo”. O verbo hebraico correspondente é “quades”. O nome grego é usado dez vezes no Novo Testamento. Cinco vezes está traduzido “santificação” e cinco vezes está traduzido “santidade”. O verbo grego é empregado vinte e nove vezes no Velho Testamento. Vinte e seis vezes está traduzido “santificar”. Duas vezes é traduzido por “honra”. Uma vez ocorre voz passiva e está traduzida “sê santo”.
2). O termo “Hagios”: É outra palavra grega derivada de “hagiazo” e está usada tanto como adjetivo como nome: como adjetivo ocorre noventa e três vezes com “pneuma” (Espírito) para designar o Espírito Santo. Em sessenta e oito outros casos é usado como adjetivo e está traduzido “santo”. Como nome está traduzido “santíssimo” duas vezes, uma vez como “o mais santo de todos”, quatro vezes “O Santo”; três vezes “lugar santo”; uma vez “coisa santa”; três vezes “santuário” e “santo” ou “santos” sessenta e duas vezes.
Portanto o significado de “hagiasmo” e “hagios” procede do de “hagiazo”, segundo o próprio uso deles. Significando “dar ou reconhecer por venerável, honrar, separar de coisas profanas e dedicar a Deus, consagrar; purificar”
10.4. Como é realizada a santificação
1). Deus, sem dúvida, é o autor dela: Ele é o autor de toda a boa coisa. Ele nos elegeu para ela. Ele a ideou e planeou.
2). O Espírito Santo é o Agente de Deus na Realização da santificação: Veja 1 Cor. 6:11; 2 Tess. 2:13; 1 Ped. 1:2. O Espírito Santo realiza a nossa santificação presente por guiar (Rom. 8:14), transformar (Rom. 12:2; 2 Cor. 2:18), fortificar (Efe. 3:16), fazer frutífero (Gal. 5:22,23).
3). A morte de Cristo é à base da obra do Espírito Santo: A morte de Cristo provê a base para toda obra do Espírito Santo.
4). A fé e a Palavra como meio: Atos 26:18. É pela fé que a instrumentalidade da Palavra se faz eficiente. A fé é ao mesmo tempo o resultado da obra santificadora do Espírito e o meio principal para Sua obra santificadora ulterior.
A fé é o meio pelo qual a alma se purifica (Atos 15:9; 1 Ped. 1:22). Isto é verdade porque a “fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus” (Rom. 10:17). Isto está provado por todas as passagens que ensinam que a verdade promove obediência, previne e purifica do pecado, faz-nos odiar o pecado e causa-nos crescer na graça. Vide Salm. 119:9, 11, 34, 43, 44, 50, 93, 104; Heb. 5:12-14; 1 Ped. 2:2.
6). Nossas próprias obras são também um meio para nossa presente santificação: Assim como o exercício físico é necessário ao crescimento espiritual. O exercício físico desenvolve o apetite para o alimento, do qual recebemos nutrição que produz crescimento. O exercício espiritual desenvolve apetite para a Palavra de Deus, do qual recebemos nutrimento espiritual que produz crescimento na graça. (Rm 6.19)
7). Outros meios menos diretos: Entre outros meios menos diretos em nossa presente santificação nomeiem-se a oração, o ministério ordenado de Deus (Efe. 4:11,12), freqüência à igreja e associação com crentes em capacidade comunal, observância das ordenanças do batismo e da Ceia do Senhor, a observância do dia do Senhor e o castigo e as providências de Deus. Tudo dessas coisas ajuda para com a nossa presente santificação, não por causa de qualquer virtude intrínseca de si mesmas, mas somente como de um ou outro meio, trazem-nos em contacto com a verdade divina, iluminam nossas mentes em relação a ela e trazem-nos a uma apreciação mais elevada dela e mais completa obediência a ela. É somente desta maneira que o batismo e a Ceia do Senhor contribuem para a nossa presente santificação. Não são sacramentos e muito menos sacramentos concessores de graças. A graça recebida por meio das ordenanças não é recebida ex opere operato – do mero ato de observância.
XI. A PERSEVERANÇA DOS SALVOS (CONSERVAR-SE CRISTÃO)
11.1. Definição: “A contínua operação do Espírito Santo no crente, pela qual a obra da graça divina, iniciada no coração, tem prosseguimento e se completa” (17)
11.2. Testemunho das Confissões de Fé sobre esta doutrina: Invocamos duas.
1). A Confissão de Fé dos Batistas de Londres de 1689: Diz o seguinte: 1.Os que Deus aceitou no Amado, aqueles que foram chamados eficazmente e santificados por seu Espírito, e receberam a fé preciosa (que é dos seus eleitos), esses não podem decair totalmente nem definitivamente do estado de graça. Antes, hão de perseverar até o fim e ser eternamente salvos, tendo em vista que os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis, e Ele continuamente gera e nutre neles a fé, o arrependimento, o amor, a alegria, a esperança e todas as graças que conduzem à imortalidade.1 Ainda que muitas tormentas e dilúvios se levantem e se dêem contra eles, jamais poderão desarraigá-los da pedra fundamental em que estão firmados, pela fé. Não obstante, a visão perceptível da luz e do amor de Deus pode, para eles, cobrir-se de nuvens e ficar obscurecida,2 por algum tempo, por causa da incredulidade e das tentações de Satanás. Mesmo assim, Deus continua sendo o mesmo,3 e eles serão guardados pelo poder de Deus, com toda certeza, até a salvação final, quando entrarão no gozo da possessão que lhes foi comprada; pois eles estão gravados nas palmas das mãos de seu Senhor, e os seus nomes estão escritos no Livro da Vida, desde toda eternidade.
1 João 10:28-29; Filipenses 1:6; II Timóteo 2:19; I João 2:19.
2 Salmo 89:31-32; I Coríntios 11:32.
3 Malaquias 3:6.
2. Esta perseverança não depende de um livre-arbítrio da parte dos santos; mas, sim, decorre da imutabilidade do decreto da eleição,4 fluindo do amor gratuito e inalterável de Deus Pai, sobre a eficácia do mérito e da intercessão de Jesus Cristo; da união com Ele;5 do juramento de Deus;6 da habitação de seu Espírito e da semente de Deus dentro neles;7 da natureza do pacto da graça.8 De tudo isso decorrem também a certeza e a infalibilidade da perseverança dos santos.
4 Romanos 8:30; Romanos 9:11,16.
5 Romanos 5:9-10; João 14:19.
6 Hebreus 6:17-18.
7 I João 3:9.
8 Jeremias 32:40.
3. Levados pela tentação de Satanás e do mundo, pela prevalência da corrupção que ainda permanece dentro deles, ou pela negligência aos meios para a sua própria preservação, os santos podem incorrer em tristes pecados, e continuar em tais pecados, por algum tempo.9 Desse modo, eles caem em desagrado perante Deus e entristecem o seu Santo Espírito;10vêem-se privados de bênçãos e confortos;11 têm os seus corações endurecidos e ferida a consciência;12 ofendem e escandalizam outras pessoas; e fazem vir sobre si mesmos os juízos de Deus, ainda neste mundo.13 Não obstante, eles renovarão o seu arrependimento, e serão preservados através da fé em Cristo Jesus, até o fim.14
9 Mateus 26:70,72,74.
10 Isaías 64:5,9; Efésios 4:30.
11 Salmo 51:10,12.
12 Salmo 32:3-4.
13 II Samuel 12:14.
14 Lucas 22:32,61-62.(18)
2). O Sínodo de Dorth: Transcrevemos o Artigo 9, sob o título: A Garantia Desta Preservação, do V ponto principal da doutrina:
“Acerca da preservação daqueles escolhidos para salvação e acerca da perseverança dos verdadeiros crentes na fé, os próprios crentes podem estar (e de fato se tornam) seguros de acordo com a medida da sua fé, pela qual eles firmemente crêem que são e que sempre permanecerão [sendo] membros verdadeiros e vivos da igreja, e que têm o perdão dos pecados e a vida eterna.” Rm.8:31-39; II Tm.4:8,18
11.3. Afirmações diretas das Escrituras sobre a perseverança dos salvos: Vejamos algumas:
A). João 10.27-29: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.”
B). Romanos 11.29: “ Porque os dons e a vocação de Deus são irretratáveis.”
C). Filipenses 1.6: “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até o dia de Cristo Jesus”.
D). Outras passagens: 2 Ts 3.3; 2 Tm 1.12; 4.19 etc.
11.4. Provas por inferência:
A). Da doutrina da eleição: A doutrina da eleição nos ensina que é eleição para um fim. Que fim é este? A salvação. Quando Deus nos elegeu, não só levou-nos a aceitar a Cristo, pela influência do Espírito Santo, mas também a perseverar até o fim.
B). Da doutrina da aliança da redenção: Na aliança da redenção Deus nos deu a Cristo, como recompensa de seu sofrimento e obediência. Esta recompensa não teve como base a fidelidade incerta do homem, mas a obediência de Cristo ao plano de redenção estabelecido na eternidade.
C). Da eficácia dos méritos e da intercessão de Cristo: Cristo pagou o preço necessário para adquirir o perdão e a aceitação divina do pecador. E sua intercessão pelo seu povo é sempre eficaz (Jo 11.42; Hb 7.25).
D). Da união mística com Cristo: Os que estão unidos a Cristo pela fé, tornam-se participantes do seu Espírito, formando com ele um corpo, neste corpo flui a vida do Espírito, e os salvos participam desta vida. Assim como Cristo vive, eles vivem também.
E). Da obra que o Espírito Santo realiza no coração do salvo: Não condiz com a sabedoria do Espírito Santo, começar uma obra no coração humano e abandona-la em seguida. Seria incoerência pensar que o Espírito Santo faz a alma morta voltar a vida e depois deixá-la morrer.
F). Da segurança da salvação: As Escrituras ensina que os crentes podem alcançar a segurança da salvação nesta existência (Hb 3.14; 6.11; 10.22; 2 Pd 1.10). Tais ensinos estariam fora de questão, se fosse possível os crentes caírem da graça.
XII. GLORIFICAÇÃO
A extensão da obra redentora de Cristo em nosso favor não estaria completa até que nosso corpo seja liberto inteiramente dos efeitos da queda e levado ao estado de perfeição para o qual Deus criou. O dia da glorificação do crente, será um dia de grande vitória porque naquele dia o último inimigo, a morte, será destruída ( 1 Co 15.25-26). Quando nosso corpo for levantado dentre os mortos, então nossa redenção estará completa.
12.1. Definição: “glorificação é o passo final da aplicação da redenção. Ocorrerá quando Cristo voltar e levantar dentre os mortos o corpo de todos os cristãos que morreram, de todas as épocas, reunindo-o com a alma de cada um, e mudar o corpo de todos os cristãos que estiverem vivos, dando assim, ao mesmo tempo, a todos os cristãos um corpo ressurreto como o seu.” (19)
12.2. Base bíblica da glorificação
12.2.1. No Antigo testamento: As vezes fala-se que o AT traz pouca ou nenhuma evidência da esperança de uma futura ressurreição do corpo. Mas temos algumas referências que são provas suficiente desta crença. Vejamos:
A). Muitos judeus da época de Jesus tinha alguma esperança na ressurreição futura (Jo 11.23-24)
B). Paulo no tribunal, disse a Félix, que ele tinha uma esperança na ressurreição e que seus acusadores judeus também tinham (At 24.15).
C). Os salvos do AT aguardava a cidade “da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11.10).
D). Jó apresenta a mesma esperança ( Jó 19.25-26).
E). Os salmistas cantaram esta expectativa ( Sl 49.15; 73.24-25)
F). Os profetas afirmaram a mesma crença ( Is 26.19; Dn 12.2)
12.2.2. No Novo Testamento: Vejamos algumas referências:
A). A principal prova da glorificação ou a ressurreição do corpo está em 1 Co 15.12-58. Paulo discute a natureza do corpo da ressurreição com detalhes nos vs. 35-50.
B). Em 1 Tessalonicenses Paulo explica que as almas dos que tiverem morrido e partido para estar com Cristo voltarão e serão reunidos aos seus corpos naquele dia, pois Cristo os trará consigo.
C). Outros textos que afirmam a realidade da doutrina da glorificação (Jo 5.28-29, 39-40, 44, 54: Rm 8.11; 2 Co 5.1-10; Fp 3.20).
NOTAS
(1).MCGRATH, Alister E. – Teologia: Sistemática, Histórica e Filosófica– Shedd Publicações – 2005 – Pg. 497
(2). Veja também – FACKRE, Gabriel/ NASH, Ronald H./ SANDERS, Jonh – E Aqueles Que Nunca Ouviram ? - Ed. Aleluia – 1a Ed. 1999 – Pg. 24
(3). HODGE, Charles – Teologia Sistemática – Ed. Hagnos – 2001 – Pg. 961
(4). HODGE, Charles – Teologia Sistemática – Ed. Hagnos – 2001 – Pg. 962
(5). Op. Cit. Pg. 461
(6). HODGE, Charles – Teologia Sistemática – Ed. Hagnos – 2001 – Pg. 965
(7). BERKHOF, Louis – Teologia Sistemática – Ed. Luz Para o Caminho – 1994 – Pg. 437
(8). SIMMONS, Thomas Paul - www.obreiroaprovado.com
(9). GRUDEM, Wayne – Teologia Sistemática – Atual e Exaustiva – Vida Nova – 2005- Pg. 584
(10). Teologia Sistemática – pg. 458
(11). GRUDEM, Wayne – Teologia Sistemática – Atual e Exaustiva – Vida Nova – 2005- Pg. 592, 593, 596.
(12). GINGRIGH, F. Wilbur/ Dancker, frederick W. – Léxico do NT Grego/Português – Ed. Vida Nova – 2003 – pg. 134
[13]. STRONG, Augustus Hopkins – Teologia Sistemática – Vol 2 – Ed.Hagnos – 1a Ed. 2003
(14). Citado por - SIMMONS, Thomas Paul - www. obreiroaprovado. com
(15). GRUDEM, Wayne – Teologia Sistemática – Atual e Exaustiva – Vida Nova – 2005- Pg. 615
(16). Op. Cit. Pg. 622
(17). BERKHOF, Louis – Teologia Sistemática – Ed. Luz Para o Caminho – 1994 – Pg. 550
(18). Op. Cit. Capítulo 17 sob o Título: A Perseverança dos Santos
(19). GRUDEM, Wayne – Teologia Sistemática – Atual e Exaustiva – Vida Nova – 2005- Pg. 695
BIBLIOGRAFIA
[01]. STRONG, Augustus Hopkins – Teologia Sistemática – Vol 2 – Ed.Hagnos – 1a Ed. 2003
[02]. HODGE, Charles – Teologia Sistemática – Ed. Hagnos – 1a Ed. 2001
[03]. BANCROFT, E. H. – Teologia Elementar – Ed. Batista Regular – 1999
[04].LANGSTON, A. B. – Esboço de Teologia Sistemática – JUERP – 11aEd. 1994
(05). GRUDEM, Wayne – Teologia Sistemática – Atual e Exaustiva – Vida Nova – 2005
[06]. GUNDRY, Stanley – Teologia Contemporânea – Ed.Mundo Cristão – 2a Ed. 1987
(07). BERKHOF, Louis – Teologia Sistemática – Ed. Luz Para o Caminho – 1994
(08).MCGRATH, Alister E. – Teologia: Sistemática, Histórica e Filosófica – Shedd Publicações – 2005
(09). FACKRE, Gabriel/ NASH, Ronald H./ SANDERS, Jonh – E Aqueles Que Nunca Ouviram ? - Ed. Aleluia – 1a Ed. 1999
[10]. BARTH, Karl – Introdução à Teologia Evangélica – Ed. Sinodal –8aEd. Revisada- 2003
[11].JOINER,Eduardo – Manual Prático de Teologia – Ed.Central Gospel – 1a Ed. 2004
[12].MONDIN , Battista – Os Grandes Teólogos do Século Vinte – ed.Teológica – Ed.2003
[13].BARTH, Karl – Dádiva e Louvor –Artigos Selecionados – Ed.Sinodal -2a Ed. 1996
[14].KIRST,Nelson/KILPP,Nelson/SHWANTES,Milton/RAYMANN,Acir/ZIMMER,Rudi –Dicionário Hebraico/ Português e Aramaico/Português– Ed.Sinodal e Vozes – 17a Ed. 2003
[15].RIENECKER, Fritz/ROGERS, Cleon – Chave linguística do Novo Testamento Grego – Ed.Vida Nova – Ed. 2003
[16].SHOLTZ, Vilson – Novo Testamento Interlinear – Grego/Português – SBB – Ed. 2004
[17]. CHAMPLIN, R. N. – Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia – vol. 1,3 – Ed.Hagnos – 5a Edição – 2001
[18].FEIBERG,John/GEISLER,Norman/REICHENBACH,Bruce/PINNOCK,Clark –Predestinação e Livre-Arbítrio – quatro perspectivas sobre a soberania de Deus e a liberdade humana – Ed.Mundo Cristão – 1a Ed. 1986
[19]. Nova Bíblia de Estudo de Genebra – Cep. Ed. 2003
[20]. A Bíblia de Jerusalém – Nova Edição – Ed. Paulinas – 1985
[21]. ALMEIDA, João Ferreira de – A Bíblia Sagrada – Ed. Revista e Corrigida Sociedade Bíblica do Brasil – 1998
[22]. MCNAIR, S. E. – A Bíblia Explicada – CPAD – 1985
[23]. CHAMPLIM, Russell Norman - “O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo”- Vol III – Sociedade Religiosa a Voz Bíblica Brasileira
[24]. PEARLMAN, Myer – Conhecendo as Doutrinas da Bíblia – Ed. Vida – 1989
[25]. TRIBLE, H. W. – Nossas Doutrinas – JUERP – 1969
[26]. Site www.monergismo,com
[27]. Site www.wikipedia.com.br
[28]. Site www.comciencia.br
[29]. Site www.obreiroaprovado.com
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