segunda-feira, 28 de maio de 2012

Fragmentos e Contradições







Eu queria crescer, para ganhar asas de independência e alçar vôos na liberdade de quem se descobriu mentor do próprio destino.

Eu queria crescer, pois a impetuosidade juvenil não admitia que as regras inibidoras cerceassem as paixões latentes pelo mundo a ser explorado.


Eu queria crescer, para interagir com os anseios e aspirações da minha alma que eram inadiáveis na agenda intensificada pelos sonhos revolutos.

Eu queria crescer, para poder fazer valer e arrogar das prerrogativas que me conferiam o status de emancipado da tutela e sabedoria indesejáveis de quem já havia se “adultecido”.

Eu queria crescer, pois crescendo me tornava auto-suficiente para ser auto-condescendente sem a tortura das eternas explicações dos mesmos procedimentos comuns a todos os mortais.

Eu queria crescer para poder destoar, radicalizar, rebelar , embrutecer e pronunciar em alto e bom som: Eu sou dono do meu próprio nariz!

Eu queria crescer, mas estranhamente hoje eu quero retornar...

As euforias de soltar pipa no morrinho antes mesmo de ter tomado o café da manhã, candidatando-me a severas repreensões por não ter feito o dever de casa veementemente exigido pela professorinha. Aos calafrios e ansiedades do namoro juvenil que faziam acelerar o coração todas as vezes que o meu amorzinho dirigindo a palavra dizia: Oi! A velha cabana onde brincávamos de polícia/ladrão, onde preparávamos com sabor inigualável alguns alimentos que inocentemente furtávamos da dispensa da mamãe ou em algum terreno com pomar, onde fazíamos pactos de eterna fidelidade à amizade gerada nas pequenas diversões e secretas transgressões. A aventura dos acampamentos na Serra do Mursado nado no lagoão, das incursões de bicicleta na Serra do Japido drible nos seguranças para assistir as sessões circenses. Até mesmo pela tarefa doméstica diária responsabilidade inviolável para quem era apenas um adolescente, valeria a pena!

Eu queria crescer... hoje eu quero retornar... fragmentos e contradições de um ser em mutação!

AS PALAVRAS EM DESTAQUE DOURADO SÃO LINKS PARA LEITURAS ADICIONAIS 

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terça-feira, 22 de maio de 2012

O Conflito Paulino nos “Lugares Celestiais”






Levi B. Santos


O Psicanalista, Roberto Girola, em um substancioso artigo que versa sobre o DESEJO(link), dentro do dinamismo psíquico, recorre a um trecho da carta atribuída ao apóstolo Paulo e endereçada aos Romanos. Diz ele, sobre a essência desse texto, aparentemente, de difícil interpretação: “é evidente a influência neo-platônica e, ao mesmo tempo, o fracasso dos ideais estóicos de auto-controle”. Nesse excerto paulino, podemos ver com fortes cores, a angústia do homem frente às forças inconscientes que o dominam. Vemos também a incapacidade do homem em conviver equilibradamente com suas vicissitudes e afetos paradoxais.

Trata-se do emblemático trecho de Romanos (7, 15 – 24):

“Efetivamente, eu não compreendo nada do que faço: o bem que eu quero, não o faço, mas o mal  que odeio faço-o. Ora se faço o que não quero, estou de acordo com a Lei e reconheço que ela é boa; não sou eu, pois, quem ajo assim, mas o pecado que habita em mim ― quero dizer em minha carne — o bem não habita. Querer o bem está ao meu alcance, não, porém praticá-lo, visto que não faço o bem, que quero, mas o mal que não quero. Ora, se faço o que não quero, não sou quem age, mas o pecado que habita em mim. Eu, que quero fazer o bem constato essa lei em mim: é o mal que está ao meu alcance. Pois eu me comprazo na Lei de Deus, enquanto homem interior, mas em meus membros descubro outra lei que peleja contra a lei da minha razão e que me acorrenta à lei do pecado que existe em meus membros”. Infeliz que eu sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?”.

O desabafo acima, muito bem concatenado, parece demonstrar que no peito de Paulo ardia um “duplo ser”: o da intolerância latente representada pelo legalismo autoritário Judaico (arquétipo patriarcal – de um Pai que necessita de súditos para O servir) e o do inconformismo em face da tolerância do “vinde como estás” do cristianismo (arquétipo da alteridade – de um Pai que desce ao nível do homem para servi-lo).

 R.N. Champlin e colaboradores – em sua volumosa coleção de seis volumes com mais de 4.000 páginas, na qual há comentários extensos, versículo à versículo do Novo Testamento, chega a citar um poema de Olavo Bilac, para exemplificar melhor o conflito psíquico Paulino, que em psicanálise é explorado como produto da ambivalência dos afetos, que caracterizam o humano:

Não és bom, nem és mau; és triste e humano...
Vives ansiando em maldições e preces,
Como se, a arder, no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano

Pobre, no bem como no mal padeces
E, rolando num vórtice  vesano
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes
Não ficas da virtude satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:

E, no perpétuo ideal que te devora,
Residem, juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.”

O ensaio “SOBRE OS NOSSOS DEMÔNIOS INTERIORES”(link), de Junho de 2010, que postei na C.P.F.G., o qual foi muito debatido em cerca de 120 comentários realizados pelos confrades, tem uma parte que mostra como, na visão mítica dos antigos, eram interpretadas as profundas forças obscuras da psique humana:

“Uma coisa não se pode negar: é a de que a guerra entre deuses e demônios vem se travando na mente dos religiosos desde épocas remotas. Com a descoberta do ‘inconsciente’, ficou claro que esses deuses e demônios que os antigos percebiam, nada mais são que produtos da psique humana traduzidos por eles como forças externas personificadas do mal e do bem. A figura do capeta, diabo ou demônio, ainda hoje, entre os fundamentalistas, é traduzida como potestades do ar que invadem a mente para guerrear contra deuses imaginários. É nesse grande palco mental denominado pelo apóstolo Paulo, de “lugares celestiais”, que se trava a imaginária luta entre as potestades divinas e diabólicas”.

Numa reflexão profunda, iremos notar que os grandes mitos religiosos, como o da criação, no Gênesis, nos mostram em linguagem alegórica ou figurada a bipolaridade de nossos sentimentos. A psique do homem primevo, é representada pelo céuandar superior, ou lugares celestiais, tendo no trono um Pai autoritário a comandar anjos “ovelhas” e anjos “bodes” em uma “eterna” guerra ou cruzada ―, numa analogia ao choque dos sentimentos antagônicos descritos por Paulo.

solução, para que haja períodos de trégua ou armistício entre os nossos afetos paradoxais ― “anjos” e “demônios” ―, depende muito de que se tenha a percepção de um “Superego” ou um pai mais compassivo, menos cobrador e menos guerreiro.

 Quando se fala que alguém perdeu o equilíbrio, em linguagem mítica, podemos dizer que ele incitou seus anjos a uma guerra. Quando falamos que estamos em PAZ, na linguagem mítica, estamos a dizer que os nossos anjos (situacionistas e opositores) entraram em um acordo.

A batalha entre o ideal de “pureza ou santidade” e o nosso lado “sombrio ou escuro” jamais será vencida com ódio e repressão. Quanto mais integrarmos ou aceitarmos os nossos impulsos sombrios ou “abomináveis”, ao invés de tentar expulsá-los ou projetá-los no outro, mais estaremos longe dos efeitos destrutivos da cisão de nosso ser psíquico com toda sua gama de efeitos doentios e alienantes.

“Esse é o nosso “destino melancólico” desde o começo da história humana, e deverá permanecer enquanto houver vida humana consciente” (Paul Tillich – Teologia da Cultura – página 245)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

CONTRA A HOMOFOBIA, A LUTA É TODO DIA!


CONTRA A HOMOFOBIA, A LUTA É TODO DIA!


Rev. Márcio Retamero*

          A frase acima é usada no Movimento Homossexual Brasileiro como um jargão ou refrão em nossas ações civis nas ruas, como passeatas, protestos e paradas do orgulho LGBT.
          Hoje, 17 de maio, é o dia mundial de luta contra a homofobia, e este dia “nasceu”, em 17 de maio de 1990, quando a homossexualidade foi retirada do chamado CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados à Saúde). A retirada foi oficialmente declarada em 1992, ou seja, até esta data, a homossexualidade não era considerada orientação sexual, tal qual a homossexualidade, mas uma PATOLOGIA, ou seja, uma doença.

          Vinte e dois anos depois da retirada da homossexualidade como doença do CID, ainda existe pessoas que consideram a homossexualidade como uma doença ou um comportamento adquirido. Ainda hoje, psicólogos e psicólogas brasileiros, principalmente aqueles e aquelas afiliadas às Igrejas Evangélicas de cunho fundamentalista como Marisa Lobo e Rosângela Justino, tratam a homossexualidade como doença, não apenas por usar o termo homossexualismo (sic), mas também por defenderem que a homossexualidade tem cura! Ora, se algo tem cura ou precisa de cura, logo, é uma doença!

          Hoje em dia, infelizmente, as pessoas, na verdade, muitas pessoas, acreditam que a homossexualidade é uma doença ou um comportamento adquirido. Agora pare e pense: se assim fosse este grupo de seres humanos homossexuais deliberadamente, conscientemente “escolheram” ou “aprenderam” a homossexualidade!

          Tais pessoas pensam que um belo dia, um homem ou uma mulher, acordaram, olharam pro espelho e disseram: “cansei de ser heterossexual, a partir de hoje, serei, gay, serei lésbica” – e apertaram um botão imaginário em algum ligar do corpo e – pronto! – viraram homossexuais e por isso essas pessoas acreditam que homossexualidade é uma “opção” e não uma orientação, ou seja, uma condição humana.

          Os que pensam que é uma doença, geralmente acreditam que a homossexualidade é um comportamento adquirido, como as psicólogas citadas acima ou como os pastores e pastoras cristãos (?) fundamentalistas pregam. De novo, pare e pense: nós, homossexuais, nascemos de pais heterossexuais, fomos criados por eles em famílias onde a maioria das pessoas são heterossexuais, crescemos dentro de um cultural cuja norma é a heterossexualidade, numa sociedade onde o que é diferente da norma é, no mínimo xingado de bicha, mariquinha, sapatão ou qualquer outro termo ofensivo.

          Onde, então, aprendemos ser homossexual? Na escola? Na Igreja? Nossos pais nos ensinaram? Nossos avós? Algum pedófilo? A última opção até que poderia, sim, “influenciar”, contudo as estatísticas e os estudos mostram que heterossexuais violados na infância por pedófilos não seguiram a vida sendo homossexuais, que isso nada influenciou em sua orientação sexual, e que trazem a infeliz marca do abuso sexual, do estupro e sofrem com isso, necessitando muitas vezes de terapia e remédios. Tais pessoas quando superam o trauma, casam com pessoas do sexo diferente, constituem famílias e têm filhos e filhas, passando a viver dentro da “norma”, ou seja, da heterossexualidade.

          Vocês acham legítimo um branco dizer como é ser um negro? Ou um homem dizer como é ser mulher ou vice versa? Um ocidental dizer o que é ser um oriental ou vice versa? Não, né? Embora todos sejamos humanos, e isso nos iguala, das nossas particularidades somente nós podemos falar. Não é legítimo, antes, desonesto, um heterossexual declarar o que é, o que pensa, o que sente um homossexual?

          Todavia, heterossexuais gostam de fazer declarações veementes contra a homossexualidade ou nos comparar com doentes como pedófilos, necrófilos, zoófilos e demais parafilias conhecidas pela psiquiatria. Heterossexuais gostam de julgar homossexuais dizendo que isso é doença ou pecado ou comportamento adquirido e que é reversível e que ser homossexual é uma escolha, um opção, sendo assim, passível de ser revertida! Tais pessoas geralmente, nos dias de hoje, são religiosos e religiosas cristãs, ligados à vertente fundamentalista das Igrejas Cristãs, pessoas que leem a Bíblia ao pé da letra, ou melhor, que escolhem alguns textos da Bíblia e dizem que tais textos têm de ser lidos ao pé da letra.

          É muito difícil encontrarmos um heterossexual resolvido com sua sexualidade, até mesmo que professam algum tipo de fé, ainda que cristã, que dizem que homossexualidade é uma doença ou algo que precisa ser curado, pois tais pessoas, leem, são cultas, estudam o assunto e já chegaram à conclusão que ser homossexual não é pecado, nem doença, mas que as pessoas homossexuais têm na área da sexualidade uma orientação diferente da deles e nada além disso. Veem a homossexualidade como uma condição humana, portanto, como algo normal.

          O grande ativista pelos Direitos Humanos e Arcebispo da Igreja Anglicana Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz, declarou: “Nós lutamos contra o apartheid porque estávamos sendo acusados de algo que não podíamos fazer nada sobre. É o mesmo com a homossexualidade. A orientação é dada, não é uma questão de escolha. Seria louco alguém escolher ser gay com a homofobia que temos hoje”.

          Faço minhas as palavras do Arcebispo Anglicano Sul Africano. Seria louco, insano, que uma pessoa, escolhesse ser diferente das demais, marginal, fora da norma! A orientação é dada, não é e nunca foi uma escolha ou comportamento adquirido! Alguém em sã consciência gosta de sofrer bulliyng na escola desde a mais tenra infância? Alguém escolheria algo que colocasse seus próprios pais contra você e alguns deles tomassem a decisão de te cortar da família te expulsando de casa? Alguém, em sã consciência gosta de ser humilhado, mal tratado, xingado, demitido do seu emprego, abandonado por aqueles que consideravam seus melhores amigos por ser gay?

          Infelizmente acontece hoje o que ocorreu no passado! Muitas pessoas usam as Escrituras Sagradas Cristãs, ou seja, a Bíblia, para condenarem os homossexuais. Certamente tais pessoas seriam as mesmas que, no passado, usavam a Bíblia contra as mulheres que eram consideradas bruxas para a queimá-las na fogueira santa da Inquisição. Certamente tais pessoas seriam as mesmas que usavam a Bíblia para afirmarem que negros não tinham almas e que, por isso, poderiam ser escravizados. Certamente são essas pessoas que ainda hoje usam a Bíblia para espalharem a misoginia e a submissão das mulheres aos machos, espalhando, dessa maneira, o machismo, o patriarcalismo. São as mesmas que usaram no passado a Bíblia para condenar judeus à morte e aprovaram o que Hitler fazia na Alemanha na primeira metade do século XX, porque na Bíblia o apóstolo Paulo diz que os judeus mataram Jesus e que, por isso, seja sobre eles o seu sangue.

          Contudo, veja você, hoje em dia não ouvimos ou lemos textos dos fundamentalistas evangélicos dizendo que negros não têm alma, ou que os judeus merecem morrer porque mataram Jesus e muitos já aprovam, inclusive, a ordenação feminina ao ministério pastoral. Hoje as mulheres cantam na Igreja, não usam véu, como ordena o apóstolo Paulo, pregam o Evangelho e são chamadas de pastoras ou bispas, como Sônia Hernandez.

          Agora pare de novo e pense: a Bíblia é a mesma a mais de dois milênios, digo, a Bíblia cristã, pois a Bíblia hebraica fechou seu cânone no VI século antes de Cristo, após o exílio da Babilônia. Dois milênios temos o cânone fechado da Bíblia Cristã! Mudou a Bíblia?! Não! Os textos são os mesmos, embora encontremos alguns textos ideologicamente traduzidos de maneira tendenciosa e exclusiva como a tal da Bíblia NVI.

          Se não mudou a Bíblia e se hoje não encontramos crentes que defendem a escravidão de negros, a submissão das mulheres e a matança de judeus, então, o que mudou?! Mudou a MANEIRA de interpretar os textos bíblicos. Mudou a HERMENÊUTICA desses textos. Mas porque só mudaram a hermenêutica somente destes textos e não dos demais textos que SUPOSTAMENTE condenam a homossexualidade?

          Homofobia é a resposta, pois assim como a Igreja é o pai e a mãe do preconceito religioso que fez jorrar rios de sangue contra mulçumanos e demais adeptos de outra fé, assim como a Igreja é o pai e a mãe do racismo que ainda persiste, ainda que veladamente, pois já temos leis que protegem os negros, assim como a Igreja é a mãe e o pai do machismo que hoje anda mais ameno por conta da Lei Maria da Penha, assim como a Igreja é o pai e a mãe do patriarcalismo que impera nos rincões do Brasil, a Igreja Cristã, que já matou milhões de pessoas e fez correr rios de sangue – e ainda faz porque espalha com suas pregações o discurso injurioso contra gays, lésbicas, bissexuais travestis e transexuais – é a mãe e o pai da homofobia. Usam a Bíblia, que deveria ser um veículo de amor e inclusão, para, como no passado, matar, roubar – e muito! – e destruir vidas de pessoas cujo pecado é ser LGBT!

          Neste dia 17 de maio de 2012, o deputado federal Pastor Marco Feliciano, publicou um contundente texto homofóbico, onde ele afirma que os homossexuais do Brasil desejam e tem um plano de aliciar as crianças para o “homossexualismo” (sic)! Além de insano, tal posicionamento condenatório ajuda e corrobora com a matança de homossexuais, no mesmo dia em que o noticiário nos informa que o Disque 100 do Governo Federal, um serviço para denunciar a homofobia, recebe, por dia, 3,4 denúncias de agressões verbais e corporais contra homossexuais!

          O Brasil é hoje um dos países mais homofóbicos da Terra, e já contamos, no primeiro semestre de 2012, mais de trezentos assassinatos, cujas vítimas eram gays, travestis e lésbicas! Tal resultado vem da equação da pregação evangélica fundamentalista, que suja suas mãos com sangue inocente mais o machismo cultural e patriarcal, cujo pai e mãe também é a Igreja. Seja como for, é a religião que alimenta e fomenta a homofobia em nosso país. Por isso, não conseguiremos atacar a homofobia a fim de erradica-la, se não atacarmos o fundamentalismo religioso e como faremos isso, já eles são tão poderosos, endinheirados, donos de rádio e TV além de revistas e jornais aos montes?!

          É justamente ai que nós temos que atacar: as caixas pretas, os cofres dessas megas igrejas, dessas associações com o nome de Cristo, desses vendilhões do Templo que usam a Bíblia para arrancar dinheiro do povo e também não falta, se atentarmos para os jornais e revistas que desde os fins dos anos noventa vem anunciando, supostas ligações mafiosas, que usam tais igrejas como lavanderia do dinheiro manchado de sangue do narcotráfico.

          Se nós começarmos a entrar ai, no caixa forte, nas caixas pretas, nas contabilidades dessas igrejas e quando seus líderes começarem a observar que não é ameaça, mas algo real, uma ação do Ministério Público e da Polícia Federal, então, eles aprovarão toda a agenda LGBT, porque por dinheiro, vendem até a mãe!

          Só erradicaremos a homofobia da “Terra Brasilis” se bombardearmos os discursos injuriosos, travestidos de liberdade de expressão e os caixas fortes dessas igrejas, do contrário, não venceremos!
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*Márcio Retamero, 38 anos, é teólogo e historiador. Mestre em História Moderna pela UFF/Niterói. É Pastor da Igreja Presbiteriana da Praia de Botafogo e da Igreja da Comunidade Metropolitana Betel do Rio de Janeiro. É escritor de quatro livros publicados pela editora Metanoia. Seu último livro, recém lançado é “Você tem fome de que?”.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Compra premiada, ou conto do paco?







Religiosidade, crenças, adoração a deuses ou qualquer outro tipo de fobia inserida na mente de crianças é de uma violência ímpar e o ato me causa ojeriza.


No entanto por ser uma vítima consciente das seqüelas causadas pelo cristianismo em minha família, sempre abordo o assunto com indignação. Causas ancestrais é o motivo desta indignação. As principais: Um Bisavô, uma Avó e um primo distante.


O primeiro; meu bisavô materno que foi um apaixonado pastor e fundador da 1ª Igreja Batista de Vitória da Conquista (BA), onde a família era radicada. Regia sua vida baseada nos preceitos, nos ensinamentos e no amor a seu Deus. Foi um fiel seguidor de seu Deus e a ele dedicou sua vida. Não era um aproveitador.


Sem delongas... Morreu na meia idade, louco, pobre e enjaulado numa suja gaiola que não serviria para seu chiqueiro em tempos áureos. Mas não perdeu a fé mesmo tendo a doença e a pobreza como prêmios. Seguiu o exemplo de Jó. E daí?...


A  segunda foi minha avó. Era proprietária de hotel, tinha fazenda e era matriarca de uma família numerosa com cinco filhos e vinte  netos. Crente fervorosa e sustentáculo da 1ª Igreja Batista de Montanha (ES). Mantinha uma escola de ensino fundamental dentro da congregação com a intenção de ajudar aos membros desfavorecidos. Pastores, palestrantes e conferencistas hospedavam em seu hotel como brinde à igreja.


Nada fazia sem a permissão de Deus através de muita oração e um dízimo de 10% de sua renda.  Com a anuência de seu Deus, casou a filha caçula com um bêbado iniciando sua ruína familiar pelo desgosto. Passou a velhice roendo beira de penico morrendo em extrema pobreza sem acusar seu Deus pelo infortúnio nem se afastar de sua bíblia. Eu não entendi este prêmio.


O terceiro, um primo distante, também fervoroso cristão da seita Batista, era fazendeiro, dono de laticínio, avião e muitos bens. Construiu a 1ª Igreja Batista na Praça da República em Belém do Pará. Amava seu Deus sobre todas as coisas e tinha convicção da sua fé. Também recebeu como prêmio, na velhice, a doença e a pobreza. Não existe castigo pior que a desventura para quem um dia foi feliz.
Será este o prêmio oferecido pelo Deus de Abraão aos que dedicam sua vida para engrandecer e louvar seu nome?


Não, ele não promete nada, ele não premia ninguém, ele não castiga ninguém, ele não adoece e tampouco cura ninguém, ele não traz bonança nem infortúnio a ninguém. Deus é um personagem psíquico alegórico criado pelo nosso inconsciente coletivo para preencher uma lacuna onde necessitava liderança e comando. Nós, por falta de paternidade, o escolhemos e lhe imputamos poderes, bênçãos e castigos. Por isso cada sociedade tem seu Deus para adorar, reclamar, pedir e imputar infortúnios.


Mas há aqueles que não se enganam e são chamados ateus. Nesta mesma família existiram alguns que não professavam a mesma fé, como meu pai. Nunca foi em igrejas, não dava esmolas, não sabia rezar nem xingava a Deus. Foi bom marido, bom pai, foi respeitado em sua sociedade. Tinha personalidade forte e caráter ilibado transferindo suas virtudes à sua prole da qual se orgulhava. Morreu aos 92 anos sem que a miséria  nem o infortúnio batesse à sua porta. Para o meu avô, a morte não foi um dissabor. Ele se preparou para recebê-la e morreu com a sensação de dever cumprido. Foi amado por familiares e conhecidos e era chamado de vovô por quem teve o prazer de lhe ser apresentado. Ficou conhecido e respeitado pelo “ser”, e não pelo ter. Sabia rezar, dava esmolas, dividia o que tinha mas não freqüentava igreja. Morreu por falência múltipla de órgãos.


Tenho 62 anos de idade sou hiper tenso, tenho cálculo renal e sou propenso a engordar. Não dou esmolas, não rezo, só sigo um mandamento (não fazer aos outros o que não desejo para mim), odeio a pobreza e não sou batizado nem almejo ser cristão. Se eu morrer amanhã, não foi castigo de Deus  fui vítima de minha própria imbecilidade.

Tenho consciência que não posso culpar Deus pelo infortúnio de alguns familiares nem agradecê-lo pela felicidade de outros. Ele não existe para uns, assim como não existe para  outros. Deus não presenteia carro para uns e miséria para outros.

“Quem dá o pão, não dá o castigo”. Quem dá o pão, ensina. E quem não dá o pão nem ensina não tem o direito de castigar.   ”A nossa mente tem poderes  até para criar deuses  para louvar”.

Via: Confraria dos pensadores fora da gaiola
Autor: Altamirando Macedo 

terça-feira, 8 de maio de 2012

A espera (By Ivani Medina)



By Ivani Medina


O tempo passava, passava, passava e não saia do lugar. Muita coisa vem ao pensamento nessas horas arrastadas. Até pensar que ninguém foi mais assassinado do que o tempo. Não existe mortal que não o tenha matado ou, pelo menos, tentado matá-lo algumas vezes. Todo ser pensante é reincidente neste crime. Que vontade de estar em outro lugar aproveitando mais a exiguidade da vida. Mas quando se espera temos que estar ali mesmo, vegetativamente plantados.

O que será que passa pelas folhagens de uma árvore, já que não têm cabeça. Será que as bananeiras não receiam ficar resfriadas? Os coqueiros sentem frio? Qualquer besteira serve. Já tentei cabeça vazia, mas é muito difícil. Sempre aparece um pensamento palhaço pra estragar tudo. Gostaria de ficar stand by até a minha vez. Desligar tudo e deixar apenas as funções vitais em funcionamento. Seria o máximo. Nada a incomodar.

É certo que na fila de um banco ou em outra qualquer precisamos um pouco mais de atividade cerebral. Ao menos para não perder o equilíbrio e desabar no chão. Ah, não, que constrangimento haveria de ser. De fato, a existência humana está muitíssimo distanciada das suas possibilidades físicas e funcionais. O nosso projeto não havia previsto tanta complicação, a gente deveria funcionar de modo a atender solicitações mais simples, mais básicas segundo a natureza terrena.

Será que somos assim por causa da nossa alegada natureza divina? Sei lá. Dizem que os deuses não morriam, mas para nós a vida é curta. Curta demais para desperdícios estúpidos como a espera. Dá raiva ou acaba dando sono por se pensar tanta besteira. O melhor é evitar análises mais profundamente relacionadas com este fato quando não pudemos evitá-lo. Por exemplo, está me dando vontade de derrubar aquela porta. Melhor entrara em alfa...

Quando se espera é sempre assim. Parece que vamos criar raízes, o Sol vai engolir a Terra a noite de Brahma vai chegar ao fim... e nada. Então me imagino no universo vagando em estado letárgico. É muito confortável quando não se usa macacão de astronauta. Vai dando uma moleza na gente, a respiração e o coração diminuem o ritmo...

Ele já estava cochilando quando ela surgiu na sala. Há que ter muita paciência para esperar uma mulher se arrumar.

─Então, finalmente pronta?

─Ah, é só o que tem a me dizer? Estou bem?

─Você eu não sei, mas eu estou ficando com sono. Bom, podemos ir.

─Minutinho, preciso ir ao banheiro.


Via O Mundo Da Anja

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