ANTROPOLOGIA
INTRODUÇÃO
1. A
Natureza da Antropologia
A Antropologia é a ciência do homem; e como
tal trata de questões relacionadas com o homem primitivo, da distinção das
raças e dos fatores que entram no desenvolvimento e progresso do homem. No sentido teológico, entretanto, o termo
limita-se ao estudo do homem nos seus aspectos moral e religioso, com ênfase particular no estado do homem
antes da queda.
2. A
Doutrina do Homem na Dogmática
Não se deve confundir a Antropologia,
dentro da Teologia, com a Antropologia Geral ou ciência da humanidade, que tem
os homens como objeto de estudo. Estas,
porém, se ocupam com a história da humanidade, da estrutura filosófica e das
características psíquicas do homem em geral, das raças e seu desenvolvimento
etnológico, lingüístico, cultural, religioso, etc. A
Antropologia Teológica procura unicamente o que a Bíblia diz a respeito do
homem e da relação entre ele e Deus.
I - A ORIGEM DO HOMEM
1.1.
O Relato Bíblico da Origem do Homem
Há um duplo relato da criação do homem: um
em Gn 1.26,27 e outro em Gn 2.7,21-23. A
alta crítica[1]
é de opinião que o escritor de Gênesis juntou duas narrativas da criação: a
primeira, de Gn 1.1-2.3 e a segunda, de Gn 2.4-24, e que as duas são
independentes e contraditórias.
A ortodoxia explica dizendo que a primeira narrativa relata a criação de
tudo na ordem que ocorreu; já a
segunda agrupa as coisas em sua relação com o homem na obra criadora de Deus,
e indica claramente que tudo que precedeu serviu para preparar uma adequada
habilitação para o homem como “rei” da criação.
Há alguma particularidade nas quais a
criação do homem sobressai, em distinção da dos seres vivos:
1.1.1.
A Criação do Homem foi Precedida por um Solene Conselho Divino: Gn 1.26 geralmente tem sido interpretado
pela Igreja com base na existência trinitária de Deus. Porém, alguns eruditos o consideram como
plural de majestade; outros como plural de comunicação, no qual Deus inclui os
anjos juntamente com Ele; e ainda outros, como plural de auto-exortação. Contra-argumentando:
a primeira é muito improvável, visto que, o plural de majestade originou-se em
data muito posterior; a segunda é impossível, porque implicaria que os anjos
foram co-criadores com Deus, e que o homem foi criado à imagem dos anjos
também, o que é uma idéia antibíblica; a terceira é uma pressuposição
inteiramente gratuita, à qual não se pode atribuir nenhuma razão.
1.1.2.
A Criação do Homem como um Ato Imediato de Deus: Algumas expressões utilizadas na narrativa
anterior a da criação do homem indicam criação mediata, nalgum sentido da palavra, mas a obra de Deus na criação
do homem não foi mediada em nenhum sentido da palavra. Ele fez uso de material
preexistente na formação do corpo humano, mas já na criação da alma, isto foi
excluído.
1.1.3.
Em Distinção das Criaturas Inferiores, o homem foi Criado conforme um tipo
divino: No que diz respeito aos
peixes, às aves e aos animais lemos que Deus os criou segundo à sua espécie,
numa forma típica da deles próprios. O
homem, porém, não foi criado assim, e muito menos segundo o tipo de uma
criatura inferior. Na narrativa da
criação, a criação do homem sobressai como uma coisa distintamente
característica.
1.1.4.
Distinção entre dois Elementos na Natureza Humana: Gn 2.7 faz uma clara distinção entre a origem
do corpo e a da alma. O corpo foi
formado do pó da terra: Deus, usando material preexistente. Mas a alma foi a produção de uma nova
substância. Com simples palavras
afirma-se a dupla natureza do homem, e o que elas nos ensinam é corroborado por
outras passagens da Escritura como Ec 12.7; Mt 10.28; Lc 8.55; 2 Co 5.1-8; Fp
1.22-24; Hb 12.9 - neste contexto a “alma vivente” significa “ser vivo”.
1.1.5.
O Homem é Colocado numa Posição Exaltada: O homem é descrito como alguém que está no
ápice de todas as ordens criadas e recebeu domínio sobre todas as criaturas
inferiores. Foi seu dever e privilégio
tornar toda a natureza e todos os seres criados, que foram colocados sob o seu
governo, subservientes à sua vontade e ao seu propósito, para que ele e todos
os seus gloriosos domínios magnificassem o onipotente Criador e Senhor do
universo, Gn 1.28; Sl 8.4-9.
1.2.
A Origem do Homem e a Unidade da Raça
1.3.1. Testemunho Escriturístico da
Unidade da Raça: A Escritura
ensina que a humanidade toda descende de um único par. Este é o sentido óbvio dos capítulos iniciais
de Gênesis, os quais mostram claramente que as gerações seguintes até ao tempo
do Dilúvio, estiveram em ininterrupta relação genética com o primeiro
casal. De sorte que, a raça humana
constitui, não somente uma unidade no sentido de que todos os homens
compartilham a mesma natureza humana, mas também uma unidade genética ou
genealógica. Isso é ensinado também por
Paulo em At 17.26.
1.3.2.
Testemunho da Ciência em Favor da Unidade da Raça:
a) O argumento da História:
As tradições apontam decisivamente para uma origem e uma linhagem comuns
na Ásia Central. A história das
migrações do homem tende a mostrar que houve uma distribuição partindo de um
único centro.
b) O argumento da Filologia:
As línguas indo-germânicas[2]
têm em suas raízes um idioma primitivo comum, um velho remanescente do qual
ainda existe no sânscrito[3]
e há prova que o antigo idioma egípcio é o elo de ligação entre a língua
indo-européia e a semítica.
c) O argumento da Psicologia: A
alma é a
parte mais importante da natureza
constitucional do homem, e a psicologia revela claramente o fato de que as
almas dos homens, quaisquer que sejam as tribos ou nações a que pertençam, são
essencialmente idênticas. Têm em comum
os mesmos apetites, instintos e paixões animais, as mesmas tendências e
capacidades.
d) O argumento das Ciências Naturais ou Fisiologia: As diferenças que existem entre as várias
famílias da humanidade são consideradas simplesmente como variedades dessa
espécie única. As ciências não asseveram
positivamente que a raça humana descende de um único par, mas, não obstante,
demonstra que pode muito bem ter sido este o caso, e que provavelmente é.
II - A NATUREZA DO HOMEM
2.1.
Elementos Constitutivos da Natureza Humana
Entende-se que o homem consiste de duas partes
distintas, e de duas somente, a saber, corpo e alma - a este pensamento chamamos dicotomia. Em contrapartida surgiu outro pensamento
que a natureza humana consiste de três partes: corpo, alma e espírito - pensamento
denominado de tricotomia. O conceito
do homem tripartido originou-se na filosofia grega, que entendia a relação
mútua entre o corpo e o espírito do homem segundo a analogia da mútua relação
entre o universo material e Deus.
Pensava-se que, com estes só podiam ter comunhão um com o outro por meio
de uma terceira substância ou intermediário, assim aqueles só podiam entrar em
relações mútuas vitais por meio de um terceiro elemento, intermediário, a
saber, a alma.
A forma mais conhecida de tricotomia é a
que toma o corpo como a parte material da natureza humana, a alma como o
princípio da vida animal e o espírito como o elemento humano racional, imortal
e relacionado com Deus. Esta concepção
foi apoiada pelos Pais da Igreja, mas depois que Apolinário aplicou-a de
maneira ofensiva à perfeita humanidade de Cristo, foi ficando cada
gradativamente desacreditada.
Durante a Idade Média tornou-se objeto de
crença comum e a Reforma não trouxe mudança alguma; já durante o século XIX foi
revivida numa outra forma por certos teólogos alemães e ingleses, mas não
encontrou muito apoio no mundo teológico.
Os recentes advogados dessa teoria não concordam quanto à natureza da psique, nem quanto à sua relação com os
outros elementos da natureza humana.
De um lado a Bíblia nos ensina a ver a natureza
do homem como uma unidade, e não como uma dualidade consistente de dois
elementos diferentes; embora reconheça a complexa natureza humana, ela nunca a
expõe como redundando num duplo sujeito no homem. Cada ato do homem é visto como um ato do
homem todo. Não é a alma, e sim, o homem
que peca; não é o corpo, e sim, o homem que morre; e não é meramente a alma, e
sim, o homem, corpo e alma, que é redimido por Cristo. Gn 2.7 é a primeira passagem a indicar a
complexa natureza do homem. Quando Deus
formou o corpo do homem, formou-o de modo que pelo sopro do Seu Espírito Santo,
o homem se tornou imediatamente “alma vivente”, Jo 33.4; 32.8. A palavra “alma” em Gn denota um homem
completo e ao mesmo tempo de dual natureza.
A
antítese - alma e corpo - mesmo em seu sentido neotestamentário, não se
acha no VT. Laidlaw, diz: “A antítese é
entre o inferior e o superior, o terreno e o celeste, o animal e o divino. Não se trata tanto de dois elementos, mas de
dois fatores que se unem com uma resultante única e harmoniosa - o homem passou a ser alma vivente - várias
palavras são empregadas no VT para indicar o elemento inferior do homem ou
partes dele, como “carne”, “pó”, “ossos”, “entranhas” e “rins”, e também
expressões como em Jo 4:19, “casas de
barro”. Há outras expressões que indicam
os membros superiores, como “espírito”, “alma”, “coração” e “mente”, passando
do VT para o NT encontramos expressões como “corpo e alma”, “carne e
espírito”.
As palavras gregas correspondentes foram,
sem dúvida, moldadas pelo pensamento filosófico grego, mas passaram para o NT
por intermédio da Septuaginta e, portanto, retiveram a sua ênfase
veterotestamentária.
Os tricotomistas procuram suporte no fato
de que a Bíblia, como a vêem, reconhece duas partes constitutivas da natureza
humana em acréscimo ao elemento inferior ou material/corpo, a alma (hebr. nephesh; gr. psique) e o espírito (hebr. ruah;
gr. pneuma). Mas o fato de serem empregados esses termos
com grande freqüência na Escritura não dá base para a conclusão de que designam
partes componentes, em vez de aspectos diferentes da natureza humana. Um cuidadoso estudo das Escrituras mostra
claramente que ela emprega as palavras umas pelas outras, em permuta recíproca. Ambos os termos indicam o elemento superior
ou espiritual.
Ruah-pneuma,
bem como nephesh-psyquê, são
empregados com referência à criação animal inferior, Ec 3.21; Ap 6.3. A palavra psique
é empregada até com referência a Jeová, Is 42.1; Jr 9.9; Am 6.8 (no texto
hebr.); Hb 10.38. Os mortos desencarnados
são chamados “psyqai”, Ap 6.9;
20.4. Os mais elevados exercícios da
religião são atribuídos à psique, Mc
12.30; Lc 1.46; Hb 6.18; Tg 1.21. Perder
a psique é perder tudo.
Observamos um paralelismo em Lc 1.46,47; a
fórmula escriturística para designar o homem é, nalgumas passagens, “corpo e
alma”, Mt 6.25; 10.28; e noutras, “corpo e espírito”, Ec 12.7; 1 Co 5.3,5. Às vezes, a morte é descrita como a entrega
do espírito, Sl 31.5; Lc 23.46; At 7.59.
Além disso, tanto “alma” como “espírito” são empregados para designar
o elemento imaterial do homem, 1
Pe 3.19; Hb 12.23; Ap 6.9; 20.4. Duas
palavras parecem estar em conflito com a usual descrição dicotômica da
Escritura - 1 Ts 5.23 e Hb 4.12. Deve-se
notar que: A) É boa regra de exegese
que as afirmações excepcionais sejam interpretadas à luz da analogia da
Escritura, ou seja, da apresentação usual da Escritura. Em vista deste fato, alguns tricotomistas
admitem que estas passagens não provam necessariamente a posição deles; B) A simples menção dos termos
“espírito” e “alma” ao lado do outro não prova que segundo a Escritura, são
duas substâncias distintas, como também Mt 22.37 não prova que Jesus
considerava o coração, a alma e o entendimento como três substâncias distintas;
C)
Em 1 Ts 5.23 o apóstolo deseja simplesmente fortalecer a afirmação: “O mesmo Deus da paz vos santifique em
tudo”.
Noutros lugares da Escritura diz que o
homem consiste de duas partes, Rm 8.10; 1 Co 5.5; 7;34; 2 Co 7.21; Ef 2.3; Cl 2.5;
D) Hb 4.12 não deve ser entendido no sentido
de que a Palavra de Deus, “penetrando no
íntimo do homem, faz separação entre a sua alma e o seu espírito” o que
naturalmente implicaria em que são duas substâncias diferentes - mas
simplesmente no sentido de uma declaração de que ela produz uma separação entre
os pensamentos e as intenções do coração.
2.2.
A Origem da Alma Humana
2.2.1.
O conceito histórico sobre a origem da alma: Platão cria na preexistência e na
transmigração da alma (dentro do assunto da origem e existência da mesma). Na Igreja Primitiva a doutrina da
preexistência da alma limitava-se praticamente à escola alexandrina. Orígenes foi o principal representante dessa
idéia e a combinava com a noção de uma queda pretemporal. Logo apareceram dois outros conceitos e se
provaram muito mais populares nos círculos cristãos: o
criacionismo e o traducionismo.
2.2.2.
Preexistencialismo: Alguns
teólogos, dentre os quais Orígenes, Scotus Erígena e Júlio Müeller, defendiam a
teoria de que as almas dos homens existiam num estado anterior, e que certas
ocorrências naquele primeiro estado explicam a condição em que essas almas se
acham agora.
2.2.3.
Traducionismo: Neste, as
almas dos homens são reproduzidas juntamente com os corpos pela geração natural
e, portanto, são transmitidas pelos pais aos filhos. Na Igreja Primitiva, Tertuliano, Rufino,
Apolinário e Gregório de Nissa eram traducionistas. Este conceito é bem aceito na Igreja
Luterana.
a) Argumentos Favoráveis ao Traducionismo: 1)
Alega-se que é favorecido pela descrição bíblica segundo a qual: (a) Deus uma única vez soprou nas
narinas do homem o fôlego de vida e deixou que este reproduzisse a espécie, Gn
1.28, 2.7; (b) a criação da alma de
Eva estava incluída na de Adão (1 Co 11.8) e nada se diz acerca da criação de
sua alma, Gn 2.23; (c) Deus cessou a
obra de criação depois de haver feito o homem, Gn 2.2; (d) Os descendentes estão
nos lombos dos seus pais, Gn 46.26; Hb 7.9; Jo 3.6; Rm 1.3; At 17.26.
2)
Tem apoio da analogia da vida vegetal e animal devido a um aumento de
número partindo de um tronco paterno.
3)
A teoria tem apoio na herança de peculiaridades físicas e mentais que os
filhos têm dos pais.
4) Ela parece oferecer a melhor base para a
explicação da herança da depravação moral e espiritual, que é assunto da alma e
não do corpo.
b) Objeções ao Traducionismo: 1) É contrária à doutrina filosófica da
simplicidade da alma. A alma é uma
substância puramente espiritual que não admite divisão (pode-se ainda
questionar de quem a alma é proveniente: do pai, da mãe ou dos dois? Se dos dois, não seria ela um composto?);
2)
Para evitar problemas com o “composto”, deve-se recorrer a uma das 3
teorias seguintes: (a) a alma da
criança teve uma existência anterior; (b) a alma está potencialmente preexistente no
homem, na mulher ou nos dois, o que é materialismo; (c) a alma é produzida, criada, de algum modo, pelos pais - o que
faz deles criadores;
3) Traz
um enorme problema para a Cristologia, visto que Cristo é descendente de Maria
- logo herdou “parte” da alma dela e, portanto, também com isso, o pecado.
2.2.4.
Criacionismo: Cada alma
individual deve ser considerada como uma imediata criação de Deus, devendo a
sua origem a um ato criador direto, cuja ocasião não pode se determinar com
precisão. Não significa,
necessariamente, que a alma é criada primeiro, separadamente do corpo,
corrompendo-se depois pelo contato com o corpo, o que pareceria pressupor que o
pecado é algo físico.
a) Argumentos Favoráveis ao Criacionismo: 1) É mais coerente com as descrições gerais da
Escritura, que o traducionismo - o relato da criação, como já visto, mostra
distinção entre a criação do corpo e da alma;
2) É mais coerente com a natureza da alma humana
(imaterial e espiritual), portanto, indivisível - isto é expressamente
reconhecido pelo criacionismo;
3) Evita os perigos do traducionismo na
Cristologia, fazendo maior justiça à descrição escriturística da pessoa de Cristo
- que foi homem totalmente, mas sem pecado.
b) Objeções ao Criacionismo:
1) Segundo Strong, “se essa teoria admite que a
alma era possuída originalmente de tendências depravadas, faz Deus o autor
diretamente do mal moral; se ela sustenta que a alma foi criada pura, faz de
Deus indiretamente autor do mal moral, ensinando que ele introduz essa alma
pura num corpo que inevitavelmente a corromperia”;
2) Ensina que os pais terrenos geram somente o
corpo do filho e, portanto, não explica o aparecimento das características
morais e mentais dos pais nos filhos;
3) Não está em harmonia com a relação atual de
Deus com o mundo e com a Sua maneira de agir nele, visto ignorar que Deus
presentemente age por meio de causas secundárias e cessou sua obra criadora.
A Bíblia não faz nenhuma afirmação direta a
respeito da origem da alma do homem, exceto no caso de Adão. Porém, alguma forma de criacionismo merece
preferência: 1) Não encontra a mesma
insuperável dificuldade filosófica do traducionismo; 2) Evita os erros
cristológicos que o traducionismo envolve.
III - O HOMEM COMO A IMAGEM DE DEUS
3.1. Conceitos Históricos
Segundo a Bíblia, o homem foi criado à
“imagem” e “semelhança de Deus e, portanto, tem relação com Deus. O que vem a ser então imagem/semelhança?
a) Primeiros Pais da Igreja: a imagem consistia de características
racionais e morais do homem e em sua capacidade para santidade; alguns tinham
tendência para crer que também significasse características corporais.
1) Irineu e Tertuliano:
Diferenciaram imagem de semelhança.
Imagem = características corporais.
Semelhança = características espirituais Þ natureza espiritual do homem.
2) Clemente de Alexandria e
Orígenes: Divagaram em seu conceito. Rejeitaram a idéia de uma analogia corporal.
Imagem = indica características do homem
como tal.
Semelhança = qualidades essenciais ao
homem, mas que podem ser culti-
vadas ou
perdidas.
3) Pelágio:
A imagem consistia apenas em que o homem foi dotado de razão para que pudesse
conhecer a Deus; de livre arbítrio para que fosse capaz de escolher o bem e
praticá-lo; e do necessário para governar a criação inferior.
b) Escolásticos:
De um modo geral concebia-se que a imagem incluía as faculdades intelectuais da
razão e da liberdade; e semelhança consistia da justiça/retidão original.
c) Reformadores: Rejeitaram a distinção entre imagem e
semelhança. Consideravam a justiça
original como incluída na imagem de Deus e como pertencente à própria natureza
do homem em sua condição originária.
Havia diferença de opinião entre Lutero e Calvino.
1) Lutero:
Não buscava a imagem de Deus em nenhum dos dons naturais do homem, tais como
suas faculdades racionais e morais, mas sim exclusivamente na justiça original
e considerava a imagem inteiramente perdida devido ao pecado.
2) Calvino: A imagem de Deus abrange tudo aquilo em que a
natureza sobrepuja a de todas as espécies de animais. Indica-se com esta expressão (imagem de Deus)
a integridade com que Adão foi dotado quando seu intelecto era límpido, suas
emoções estavam subordinadas à razão, todos os seus sentidos eram regulados
devidamente. Incluía tanto os dotes
naturais como qualidades espirituais designadas como justiça original, i.é.,
real conhecimento, justiça e santidade.
3.2. Dados bíblicos a respeito da Imagem de Deus no
Homem
Ensinamentos escriturísticos dão base para
algumas afirmações:
a)
Imagem e semelhança são empregadas como sinônimos: Em Gn 1.26 são empregadas as duas; já no v.27
somente uma delas, portanto, suficiente para expressar a idéia completa.
--
Em Gn 5.1 só ocorre “semelhança”; no v.3 ocorre as duas novamente.
--
Em Gn 9.6 só ocorre “imagem”.
* No NT
--
1 Co 11.7 temos “imagem” e “glória”.
--
Cl 3.10 temos só “imagem”.
--
Tg 3.9 temos só “semelhança”.
Isto
implica em que o homem foi também criado à semelhança de Deus, e que esta
semelhança não é algo de que ele foi revestido mais tarde.
* Idéia Geral:
“semelhança” foi acrescentada à palavra “imagem” para expressar a idéia de que
a imagem era uma imagem muito semelhante, perfeita. Deus é o original do qual o homem é feito uma
só cópia. Significa, portanto, que o
homem não só leva a imagem de Deus, mas é sua própria imagem, 1 Co 11.7; 15.49.
b)
A imagem inclui a justiça original (verdadeiro
conhecimento, justiça e santidade): Deus fez o homem muito bem (bom), Gn 1.31, e
reto, Ec 7.29. O NT fala do homem sendo
refeito em Cristo, i.é, sendo levado de volta a uma condição anterior; de verdadeiro
conhecimento, Cl 3.10, e justiça e santidade, Ef 4.24. Elementos perdidos por causa do pecado, mas
reconquistados em Cristo.
c)
A imagem de Deus inclui também elementos pertencentes à constituição natural do
homem:
--
Que pertencem ao homem como tal: faculdades intelectuais; sentimentos naturais
e liberdade moral;
--
Como ser criado à imagem de Deus, o homem tem uma natureza racional e moral que
não perdeu com o pecado - se tivesse perdido deixaria de ser homem.
--
Esta parte da imagem de Deus foi corrompida pelo pecado, mas ainda permanece no
homem, mesmo depois da queda. E mesmo
depois da queda o homem é apresentado como a imagem de Deus, Gn 9.6; 1 Co 11.7;
Tg 3.9.
d)
A imagem inclui espiritualidade:
--
Deus é espírito, e é natural esperar que este elemento de espiritualidade se
ache no homem como a imagem de Deus.
--
Gn 2.7 (fôlego de vida) é a própria existência do homem. A alma está unida e adaptada a um corpo, mas
pode, se necessário, existir sem o corpo.
--
Em vista disso podemos falar do homem como ser espiritual. Aparentemente pode-se dizer que o corpo
também constitui uma parte da imagem de Deus, visto que o homem não é completo
sem o corpo, Gn 9.6; Mt 10.28.
e)
A imagem inclui imortalidade:
--
O homem também é imortal, nalgum sentido da palavra - é óbvio que isso não é
essência de sua natureza.
--
Em Deus, imortalidade é essencial Þ
de sua própria natureza, modo de existência.
--
No homem, imortalidade é uma dádiva, é derivada de Deus.
--
O homem foi criado imortal, não só no sentido de que sua alma foi dotada de
existência interminável, mas também no sentido de que ele não levava dentro de
si as sementes da morte física.
--
A ameaça da morte foi feita como punição do pecado, Gn 1.27.
--
A morte deve ser considerada como salário do pecado, Rm 6.23.
[1]
Refere-se à crítica bíblica. Diz-se “alta” tendo em vista que seu foco de
estudo são os problemas de composição, incluindo-se o autor, a data, o lugar e
as circunstâncias em que foi escrito o material bíblico em questão – conhecida
modernamente como “crítica histórica”. (por outro lado, temos a chamada “baixa
crítica”, que se refere à moderna “crítica textual”).
[2] Uma subfamília das línguas indo-européias. É formada por dois grupos de
dialetos: o alto alemão (que inclui o alemão literário normativo) e o baixo
alemão. É falada na Alemanha, Áustria, Suíça, Liechtenstein, Luxemburgo e nas
regiões de Alsácia-Lorena e Alto Adige (Itália). As línguas Indo-européias são a maior família de línguas do mundo. É
formada pelas subfamílias albanesa, armênia, báltica, celta, eslava, germânica,
grega, indo-iraniana, itálica (incluindo as línguas românicas), e as duas
subfamílias hoje desaparecidas: anatólica, que inclui a língua dos hititas, e
tocariana. Atualmente, mais de 500 milhões de pessoas falam uma língua da
família indo-européia.
A partir da
segunda metade do século XVIII, a lingüística comparada e a chamada
“neogramática” acumularam dados para demonstrar que este conjunto de línguas,
aparentemente tão diversas, pertenciam a uma única família. Os documentos do
sânscrito e do grego clássico (a mais antiga das línguas indo-européias,
excetuando a dos hititas, que não tinha sido decifrada até então) apresentam as
formas características próprias das línguas indo-européias, prova da existência
de uma língua-mãe comum. Enciclopédia Encarta 2000.
[3] Língua clássica, litúrgica e literária dos hindus. Pertence ao ramo
indiano da subfamília de ínguas indo-iranianas, dentro da família indo-européia.
Atualmente, as castas elevadas a aprendem e cultivam e o clero a utiliza como
língua culta e literária. Significa “língua da perfeição”. Enciclopédia Encarta 2000.
BIBLIOGRAFIA PARA PESQUISA
ANGUS, Joseph. História, Doutrina e Interpretação da
Bíblia. Rio de Janeiro: Casa Publi-
cadora Batista, vol. I, 1953, 303 p.
BERKHOF, L. Teologia
Sistemática. Campinas: Luz para o
Caminho Publicações, 1990.
__________ Manual de Doutrina Cristã. Campinas: Luz
para o Caminho, 1985, 332 p.
BERKOWER, G. C.
A Pessoa de
Cristo. Rio
de Janeiro: Juerp/Aste, 1983, 279 p.
BORCHERT, Otto. O Jesus Histórico. São Paulo: Edições Vida Nova, 1985, 358 p.
BRAATEN, Carl E. & JENSEN,
Robert W., ed., Dogmática Cristã. Vols.
I e II. São Leopoldo: Sinodal, 1990.
COOK, Francisco S. A Vida de Jesus Cristo. São Paulo: Imprensa Batista Regular,
1990, 344 p.
CULBERTSON,
H. & WILLEY, P.T. Introdução à Teologia Cristã.
São Paulo: Casa Nazarena de Publicações, 1990.
DAGG, John L. Manual de Teologia. São José dos Campos: Editora Fiel, 1989, 301 p.
DODD, C. H. O Fundador do Cristianismo. São Paulo: Edições Paulinas, 1977, 195
p.
ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo: Edições Vida
Nova, 1998, 540 p.
FIGUEIREDO,
Onézio. Cristologia em Lições. São
Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1988, 194 p.
GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994, 339 p.
GRUDEM,
Wayne. Teologia
Sistemática. São Paulo: Edições Vida Nova, 1999, 1046 p.
HAGGLUND, Bengt. História
da Teologia. Porto Alegre: Concórdia, 2ª ed., 1981, 370 p.
HOOFT, W. A.
Visserit. A Realeza
de Jesus Cristo. São Paulo: Imprensa Metodista, 159
p.
HORDEN, William. Teologia Protestante ao Alcance de Todos. Rio de Janeiro: Juerp, 2ª
ed., 1979, 270 p.
HORRELL,
J.S. Apostila de Teologia Sistemática da Faculdade Teológica
Batista de São Paulo,
1990.
LANGSTON, A.B. Esboço
de Teologia Sistemática. Rio de
Janeiro: Juerp, 1986.
MCDOWELL,
Josh & Larson. Jesus
– uma defesa bíblica de sua divindade. São Paulo: Editora
Candeia, 2ª ed., 1994, 128 p.
MCDOWELL, Josh. As Evidências da Ressurreição de Cristo. São Paulo: Editora
Candeia, 3ª ed., 1994, 235 p.
MILNE, Bruce.
Estudando as
Doutrinas da Bíblia. São Paulo: ABU Editora, 3ª ed.,
1993, 293 p.
PINK, A. W. Os Atributos de Deus. São Paulo: PES, 1990, 96 p.
SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. Curitiba:
A. D. Santos Editora, 1999, 490 p.
TEIXEIRA, Alfredo Borges. Dogmática
Evangélica. 334 p.
Nenhum comentário:
Postar um comentário