quarta-feira, 11 de abril de 2012

Inferno, uma hipérbole aos mortais




“Se o teu olho direito te faz pecar, arranca-o e lança fora, pois é melhor entrar na Vida com um só olho do que ir com os dois para o inferno”. Hora essa! Porque na nossa interpretação o olho é simbólico e o inferno é literal? Porque ninguém até agora arrancou o olho direito que tanto o fez pecar, e mais ainda: porque nenhum homem ainda não arrancou alguma de suas partes “indignas” para poder ser salvo. Então é assim: o inferno ta lá queimando que uma beleza! Mas arrancar a língua, a mão, o olho ou qualquer outro membro que é bom ninguém arranca!

Qual o critério de uma coisa ser literal e a outra alegórica? Porque se ignora um “mandamento” enquanto se teme uma analogia mítica como força de expressão de uma realidade eterna não compreensível? Entende-se que o bom senso é o discernimento do que se é fictício ou literal. Agora me diz uma coisa: que bom senso tem na existência de um lugar de condenação permanente para quem (não pediu para vir ao mundo) peca por setenta anos nesta vida (e não consentiu em nascer pecador) e passa o resto da eternidade pagando por esses seus pecados hediondos: dançar, beber e fazer “amor” fora de hora!

Meu Deus! Como assim? Eu lá no céu na maior alegria e milhares dos meus semelhantes queimando para sempre no quinto dos infernos? Só se eu estiver sedado para não me importar com isso! Ou será necessário Ele (usar deste artifício) apagar da nossa memória a existência dos nossos entes queridos que ficaram para traz, (blasfemando de Deus para sempre) para nós termos paz! Que paz? E a promessa de nunca mais choro, nunca mais dor? (nunca mais pra meia dúzia, será? Enquanto a maioria da humanidade se arrebenta, se acotovelando em ódio mútuo, perpetuando o pecado na existência?)

Aquele que era o pedagogo por excelência, instrutor em parábolas, analogias, metáforas, poeta das plantas e animais, prosador da vida do homem do campo, e contador de historias e enigmas, não nos quis falar do inferno como algo literal. Mas sim como uma hipérbole que é força de expressão do significado de aniquilação irreversível que representa o fogo eterno. Hipérbole é uma exageração intencional de linguagem com o intento de tornar mais expressiva à idéia, como figura metafórica propositada para acentuar a expressão do conceito, de modo a expor de forma dramática aquilo que se pretende vocabular, transmitindo uma idéia aumentada do autêntico.

Isso não é engano ou mentira, mas metodologia consciente para se dizer aos que não tem estrutura e entendimento para receber toda verdade. Pois sendo universal a sua mensagem Ele usava desses recursos para atingir de forma subjetiva cada pessoa, de todas as eras e povos, com entendimentos e capacidades de compreensão diferentes. Mas agora que crescemos e temos a capacidade de suportar certas desconstruções dos dogmas provisórios, e não somos crianças disciplinadas pelo medo, uma coisa não podemos deixar de sentir e dizer: que o inferno entendido como condenação literal e perpétua, não condiz nem com o senso de justiça intrínseco no espírito do homem e muito menos com o espírito do evangelho revelado no Amor e Graça do maior Mestre em figura de linguagem, contos alegóricos e palavras expressivas que já existiu!


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