domingo, 22 de abril de 2012

Fortaleza (By Ivani Medina)



Até que naquele horário a av. Rio Branco não estava muito movimentada. Naquele flutuar de cabeças uma lhe pareceu familiar. Mas quem era? Aquela sensação de déjà vu nunca deixa agente em paz. O outro, percebendo que estava sendo observado, deu de cara com o observador. Ficou confuso a princípio, mas seu temperamento amistoso não o cercou de maiores cuidados. Estava curioso também. Quem era aquele sujeito que o fitava insistentemente? Foram se aproximando, pois caminhavam em sentido contrário, até a um passo de distancia um deles exclamou sorrindo:

 ─Fortaleza! 

Ainda um pouco atônito o outro respondeu:

─Sim. Fortaleza. Caramba, como é que eu não lembrei logo, pensou consigo mesmo.

Vamos tomar um chope? Tá com pressa? 

Não. O que eu tinha a fazer aqui no centro já está feito. Estava só passeando um pouco, pra espairecer, sabe como é, né?

─Claro, então vamos lá.

─Tem voltado a Fortaleza? Que clima maravilhoso, o melhor do Brasil, pelo que dizem... Aliás, não só.
Acomodaram-se em uma das muitas mesas disponíveis e foram rapidamente servidos.

─Verdade. Acabei casando com uma moça de lá.

─Sério? Disse quase engasgando com o chope.

─Ás vezes a gente estraga tudo assim. Mas vamos indo.

─Curioso, ontem eu estava pensando que na vida não existe nada. A gente, movido pelos nossos desejos e ansiedades, vai construindo uma teia de eventos e acaba emaranhado nela. O pior é que, apesar da autoria, não fazemos a menor ideia da sua configuração, pois cada nó e fio estendido assim o foram sem a menor consciência do que estávamos construindo.  Ás vezes até fica bom ou vai dando pra levar. Mas, na maioria dos casos não dá certo. Em qual dos casos você está?

─Acho que em todos.

─Esse seu humor é um sinal de sanidade. Sorriu solidariamente.

─ Pode ser. Ás vezes penso que não sou normal.

─hahahaha! E quem é normal? Ora, o normal só existe socialmente. É aquele que segue as normas como um cachorrinho amestrado. Cachorro só na hora do cio kkkkkkkk

─Vamos tomar mais um?

─Vamos. Só mais essa rodada, pois eu tenho que ir. Mais tarde as conduções ficam insuportáveis e terei que responder a um questionário enfadonho quando chegar a casa.

─ Ih, caramba! Como você deixou ficar assim?

─Eu não deixei nada. Aquela cearense é um poço de ciúmes. Mas tem lá as compensações que ainda me prendem a ela. Sabe como é.

─Francamente, Amaral, o que pode compensar o desperdício da juventude que nos resta?

─Discordo inteiramente e não me chamo Amaral.

─Não?

─Não. E você se chama Olavo?

─Não.

─ Ora bolas...

Pagaram a conta e cada um tomou seu rumo sem olhar pra trás.


Ivani Medina
via: Mundo Da Anja(link)

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