domingo, 16 de outubro de 2011

Cinco Conselhos para os Pregadores


Excelente texto de Márcio Alves, que merece ser conhecido por todos que se dizem "pregadores"



Apesar de minha pouca experiência como pregador, (aproximadamente uns 14 anos) gostaria de atrever-me a dar alguns conselhos para quem quer seguir a vocação de pregador.

Conteúdo da mensagem a ser pregada:

1- Toda mensagem mesmo bíblica, tem que ter conexão com a realidade da vida.

Seguindo este critério, não basta estar “escrito”, tem que ter respaldo no chão da existência humana. Mesmo que esteja escrito, é preciso contextualizar. Não podemos fechar os nossos olhos para a realidade da vida. Se não, nossa mensagem não terá relevância no meio onde vivemos.

Exemplo 1: No livro de Isaias, tem uma promessa que diz: “Se quiserdes, e obedecerdes, comereis o bem desta terra.”
Mesmo estando escrito, não podemos afirmar que: Quem servir a Deus, terá sempre do bom é do melhor dessa terra.
Pois isso na prática não funciona.
Uma possível interpretação seria de que, essa promessa se referia a Israel, pois a eles, Deus tinha prometido uma Canaã que manava leite e mel de verdade. Em relação à igreja – portanto, a nós hoje – nossa Canaã, é a pátria celestial.

Exemplo 2: Jesus disse que: “Tudo que pedires no meu nome, eu darei”. Será que Jesus queria que nós levassemos ao "pé da letra"o que está escrito, que tudo que pedirmos em seu nome, nós receberemos? Tudo mesmo?
Vamos de novo recorrer ao grande interprete da bíblia......a vida.
Quantas orações em nome de Jesus, não são feitas, para se ter o melhor carro, casa e em fim, muitos bens materiais, mas quantas pessoas de fato, são, digamos premiadas.
Porque as igrejas seguem a lógica do bingo, muitos participam, mas só poucos é que são premiados.
Além do mais, sabemos que se Deus desse, muitas coisas do que nós pedimos a Ele, o mundo viraria uma bagunça. (Para uma melhor análise do assunto, ler a postagem; “Resposta ao internauta”, onde esclareço esse tema)

Então, uma possível interpretação, para o “tudo que pedirmos” em nome de Jesus, seria colocar-se como representante de Jesus, ou seja, pedir como Jesus pediria, dentro dessa lógica, antes de pedirmos qualquer coisa para Deus, deveríamos pensar se Jesus estivesse no meu lugar, o que ele pediria? Nesse caso, não precisamos imaginar muito, basta ler os evangelhos, e verificar qual era o conteúdo das orações de Jesus.
Em nenhum momento, Jesus realizou milagres para si mesmo. Suas orações não eram voltadas para si, e sim, para o Pai em favor dos outros.
Logo, seguindo o exemplo de Jesus, não pediríamos nada para nós, aliás, deixaríamos de ser o centro das orações, tudo que pedíssemos seria em favor das outras pessoas, e em relação a nós seria, para que fossemos transformados na imagem de Cristo, para que sejamos a resposta de Deus ao mundo. Dentro desse princípio, tudo que pedirmos em nome de Jesus, Ele nos dará. Como posso pedir um carro ou celular para Deus, enquanto tem milhões de pessoas sem ter o que comer?

Então ouso afirmar que: não é a bíblia que interpreta a vida, mas ao contrário, logo para afirmar qualquer tese, não bastaria “estar escrito” em papel, mas em vida, porque até Jesus, é chamado de verbo encarnado.

2- Toda mensagem para ser verdadeira, precisa ser verdade, para qualquer época, lugar e pessoas.

Ao preparar uma mensagem que deverá ser escrita ou pregada, faça a seguinte pergunta: “Ela pode ser dita em qualquer lugar, para qualquer pessoa?" Exemplo: Teologia da prosperidade, pode ser pregada ás pessoas que morrem de fome, sem ter o que comer, lá na África? Se não há lógica em prometer carro, casa e dinheiro para os africanos, também não podemos pregar para os Brasileiros, que tem mais possibilidades (estruturas) e não o "favor" divino. O mesmo princípio se aplica à cura divina. Pode se pregar promessas irresponsáveis de curas em hospitais, como por exemplo, do câncer, de aidéticos ou portadores da síndrome de down? Se não é sensato falar de curas nesse tipo de ambiente, (onde é mais necessário, diga-se passagem) não se deve embasar toda mensagem nessa "possibilidade rara".

3- Abandone toda mensagem que gere fatalismo.

Há uma discussão de cunho teológico, que atravessa milênios.
Começou (se não estou enganado) com Pelágio e Agostinho.
Seria: Soberania de Deus versus livre-arbítrio.
Até que ponto Deus seria Soberano? Aliás, para começar, o que se entende por Soberania de Deus? E, nós somos realmente seres livres? Ou tudo que fazemos, fazemos porque Deus pré-determinou?

Realmente, existem alguns assuntos, que são muito difíceis, principalmente por que há teólogos de peso que defendem as duas vertentes. E a bíblia parece-me que, dar respaldo para os dois lados da moeda. Mesmo assim quero deixar uma pequena contribuição para os pregadores.

Eis a minha frágil e pequena proposta:

Abandone o determinismo teológico.
Pregue a responsábilidade humana.
Pregue como se tudo dependesse do seu ouvinte.
Ajude as pessoas que te ouvem, serem mais maduras, a tomarem decisões, a não esperarem que Deus resolva tudo, irem à luta, a serem responsáveis e crescerem.
Afinal de contas, eu prefiro viver, como se tudo dependesse de mim, e ao chegar ao céu, Deus me dizer, que tudo Ele "micro-gerenciava" e, portanto, nada do que fiz e pensei, fui eu, mas foi Ele.Do que, acreditar que Ele tudo manipula, e correr o risco de cruzar os braços, esperando que Ele faça tudo, e ao chegar ao céu, Deus me dizer, que tudo dependia de mim.
Com toda certeza, eu não vou ficar triste se a primeira opção for verdadeira, mas se a segunda for eu me arrependerei por toda eternidade.Eu sei que há mistérios que nós, só saberemos plena e claramente, no último dia. Agora, entretanto, cabe a nós decidirmos, de que maneira viveremos, e/ou ajudaremos as pessoas a viverem. Lembrem-se: "As suas atitudes, são definidas pelas suas idéias, conforme você pensa você age".

Logo, abandone toda mensagem que gere fatalismo!



4- Abandone toda mensagem pessimista que negue a esperança.

Jogue fora, essa idéia do homem que foi pintada na era medieval, de que o mundo está totalmente perdido, que o homem está totalmente e irremediavelmente perdido, que nós somos perversos. Que não há bondade alguma no ser humano.
Esse pessimismo rouba das pessoas não somente a esperança, mas também a dignidade. Pois até o “pior” ser humano, ainda é capaz de praticar atos bondosos e misericordiosos. Vou um pouco mais além, quando percebo, que há muitas pessoas não convertidas, que fazem muito mais coisas boas do que muitos “evangélicos”.

A lógica é a seguinte: Se o mundo está perdido, e é alvo do castigo vindouro de Deus, porque então lutar por um mundo melhor?
Percebam que esse tipo de mensagem anestesia as pessoas e impedem que elas lutem por um mundo melhor.

5- Pregue os princípios e valores do Reino de Deus.

A bíblia e principalmente as palavras e atos de Jesus, são princípios e valores do Reino de Deus, que nós devemos aplicar em nossas vidas e pregações. Isso sim é a grande inspiração de Deus. O que adianta dizermos que a bíblia é inspirada, se deixarmos ela empoeirada na estante de casa?

Inclusive, permita-me ser mais ousado: Até mesmo – na melhor das hipóteses – a forte ênfase da pregação no céu está, digamos, incompleta. (nem vou falar da tal teologia da prosperidade, porque essa nem considero mais “distorção do evangelho”, para mim, é outra coisa, que não tem nada a ver com o Evangelho, um verdadeiro estelionato – promessas irreais, que não podem ser cumpridas) Os ensinos de Jesus, na sua grande maioria, visavam aqui e agora, são princípios que devemos aplicar agora em nossas vidas. (percebam, que muitas vezes no Evangelho de João, quando Jesus falava a respeito da vida eterna, Ele dizia no verbo presente: “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna” (Jo3v36) Ele não disse terá a vida eterna, mas disse tem a vida eterna)

Não devemos jogar para eternidade, as mudanças que já precisamos fazer em nosso caráter. Precisamos ser aqui, bons pais e mães, filhos e irmãos, amigos e vizinhos, ser sal e luz do mundo no presente século.

Se você fosse pregar na época da escravatura, para um negro que estivesse sofrendo abusos, e dissesse para ele agüentar firme, pois logo estaria no céu, isso roubaria dele o direito de lutar pela vida, o anestesiando.
Concordo com o Pr. Ricardo Gondim quando diz para as pessoas não se preocuparem com o céu, mas antes com a vida aqui, porque – segundo ele – se nós vivermos uma vida digna, com os valores do evangelho, o céu será conseqüência.

Enfim, caro amigo e visitante desse blog, se for pregar, pregue o Evangelho, que são princípios e valores de Reino de Deus.
Mahatma Gandhi, a Grande Alma da Índia, que não era cristão, afirmou que se todos os livros sagrados da humanidade se perdessem, mas não O Sermão da Montanha, nada se teria perdido. Quando nos unirmos – disse ele – com base nos ensinamentos de Cristo no Sermão da Montanha, teremos solucionado os problemas, não só de nossos países, mas do mundo inteiro. Os ensinamentos de Jesus sobre o amor, se aplicados, podem sanar os males da humanidade.

Pois façamos dessa utopia, o nosso grande alvo de pregação e vida.


Porque dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.


Marcio Alves

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