terça-feira, 17 de abril de 2012

Panteímo e panenteísmo: distinção necessária



Por Leonardo Boff

Uma visão cosmológica radical e coerente afirma que o sujeito último de tudo o que ocorre é o próprio universo. É ele que faz emergir os seres, as complexidades, a biodiversidade, a consciência e os conteúdos desta consciência pois somos parte dele. Assim, antes de estar em nossa cabeça como idéia, a realidade de Deus estava no próprio universo. Porque estava lá, pôde irromper em nós. A partir desta compreensão se entende a imanência de Deus no universo. Deus vem misturado com todos os processos, sem perder-se dentro deles.  Antes, orienta a seta do tempo para a emergência de ordens cada vez mais complexas, dinâmicas (portanto, que se distanciam do equilíbrio para buscar novas adaptações) e carregadas de propósito. Deus comparece, na linguagem das tradições transculturais, como o Espírito criador e ordenador de tudo o que existe. Ela vem misturado com as coisas. Participa de seus desdobramentos, sofre com as extinções em massa, sente-se crucificado nos empobrecidos, rejubila-se com os avanços rumo a diversidades mais convergentes e interrelacionadas, apontando para um ponto Omega  terminal.

Deus está presente no cosmos e o cosmos está presente em Deus. A teologia antiga expressava esta mútua interpenetração pelo conceito “pericórese”, aplicada às relações entre Deus e a criação e depois entre as divinas Pessoas da Trindade. A teologia moderna cunhou outra expressão, o “panenteísmo” ( em grego: pan=tudo; en= em; theos=Deus). Quer dizer: Deus está em tudo e tudo está em Deus. Esta palavra foi proposta evangélico Frederick Krause (l781-1832), fascinado pelo fulgor divino do universo.

O panenteísmo deve ser distinguido claramente do panteísmo. O panteísmo (em grego: pan-tudo; theos=Deus) afirma que tudo é Deus e Deus é tudo. Sustenta que Deus e mundo são idênticos; que o mundo não é criatura de Deus mas o modo necessário de existir de Deus. O panteísmo não aceita nenhuma diferença: o céu é Deus, a Terra é Deus, a pedra é Deus e o ser humano é Deus. Esta falta de diferença leva facilmente à indiferença. Se tudo é Deus e Deus é  tudo, então é indiferente se me ocupo com uma menina estuprada num ônibus no Rio ou com o carnaval, ou com indígenas em extinção ou com uma lei contra a homofobia.  O que é manifestamente um erro, pois diferenças existem e persistem.

Tudo não é Deus. As coisas são o que são: coisas. No entanto, Deus está nas coisas e  as coisas estão em Deus, por causa de seu ato criador. A criatura sempre depende de Deus e sem Ele voltaria ao nada de onde foi tirada. Deus e mundo  são diferentes. Mas não estão separados ou fechados. Estão abertos um ao outro. Se são diferentes, é para possibilitar o encontro e a mútua comunhão.   Por causa dela superem-se as categorias de procedência grega se contrapunham: transcendência e imanência. Imanência é este mundo aqui. Transcendência é o mundo que está para além deste.  O Cristianismo por causa da encarnação de Deus, criou a categoriatransparência. Ela é a presença da transcendência (Deus) dentro da imanência(mundo). Quando isso ocorre, Deus e mundo se fazem mutuamente transparentes. Como dizia Jesus: “quem vê a mim, vê o Pai”. Teilhard de Chardin viveu uma comovente espiritualidade da transparência. Bem dizia:” O grande mistério do Cristianismo não é a aparição, mas a transparência de Deus no universo. Não somente o raio que aflora, mas o raio que penetra. Não a Epi-fania mas a Dia-fania” (Le milieu divin 1957, 162).

O universo em cosmogênese nos convida a vivermos a experiência que subjaz ao panenteísmo: em cada mínima manifestação de ser, em cada movimento, em cada expressão de vida estamos às voltas com a presença e a ação de Deus. Abraçando o mundo, estamos abraçando Deus. As pessoas sensíveis ao Sagrado e ao Mistério tiram Deus de seu anonimato e dão-lhe um nome. Celebram-no com hinos, cânticos e ritos mediante os quais expressam sua experiência de Deus. Testemunham o que Paulo disse aos gregos de Atenas:”Em Deus vivemos, nos movemos e existimos”(17, 28).


3 comentários:

Gilberto Ângelo Begiato disse...

anderson fico lisongeado com sua visita em meu blog e também feliz por fazer parte dele quando quiser pode reverberar sim. Gosto muito dos artigos do Leonardo Boff são sempre muitos reflexivos. Grande abraço e estaremos empre nos vendo por qui kkkkkkkk

Gilberto Ângelo Begiato disse...

não sei se saiu meu comentário aqui mas estou repetindo rsrsrsrs fiquei lisongeado com sua visita em meu blog. Gosto do leonardo boff e gostei de todos os seus blog kkkkk se vc pode reverberar (palavra difícil) kkkk meu artigo? Mano rsrsrsrs vc vai estragr seu blog kkkkkkkkkkkkk Lógico que pode! Grande abraço e que Deus te ilumine sempre. Não sei porque mas gostaria de lhe dizer que vc tem o direito de decepcionar com as pessoas mas jamais deixar de ser este instrumento de Deus que por singelo é incompreendido. Muita paz!

Anderson Luiz disse...

Fico honrado com sua visita querido estragar meu blog com seus artigos? ao contrário, irá é abrilhantar!

Então vou reverberar rsrsrs palavrinha chata mermo sô!!

Abraços mano
Anderson

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