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By Ivani Medina
O tempo passava, passava, passava e não saia do lugar. Muita
coisa vem ao pensamento nessas horas arrastadas. Até pensar que ninguém foi
mais assassinado do que o tempo. Não existe mortal que não o tenha matado ou,
pelo menos, tentado matá-lo algumas vezes. Todo ser pensante é reincidente
neste crime. Que vontade de estar em outro lugar aproveitando mais a exiguidade
da vida. Mas quando se espera temos que estar ali mesmo, vegetativamente
plantados.
O que será que passa pelas folhagens de uma árvore, já que
não têm cabeça. Será que as bananeiras não receiam ficar resfriadas? Os
coqueiros sentem frio? Qualquer besteira serve. Já tentei cabeça vazia, mas é
muito difícil. Sempre aparece um pensamento palhaço pra estragar tudo. Gostaria
de ficar stand by até a minha vez. Desligar tudo e deixar
apenas as funções vitais em funcionamento. Seria o máximo. Nada a incomodar.
É certo que na fila de um banco ou em outra qualquer
precisamos um pouco mais de atividade cerebral. Ao menos para não perder o
equilíbrio e desabar no chão. Ah, não, que constrangimento haveria de ser. De
fato, a existência humana está muitíssimo distanciada das suas possibilidades
físicas e funcionais. O nosso projeto não havia previsto tanta complicação, a
gente deveria funcionar de modo a atender solicitações mais simples, mais
básicas segundo a natureza terrena.
Será que somos assim por causa da nossa alegada natureza
divina? Sei lá. Dizem que os deuses não morriam, mas para nós a vida é curta.
Curta demais para desperdícios estúpidos como a espera. Dá raiva ou acaba dando
sono por se pensar tanta besteira. O melhor é evitar análises mais
profundamente relacionadas com este fato quando não pudemos evitá-lo. Por
exemplo, está me dando vontade de derrubar aquela porta. Melhor entrara em
alfa...
Quando se espera é sempre assim. Parece que vamos criar
raízes, o Sol vai engolir a Terra a noite de Brahma vai chegar ao fim... e
nada. Então me imagino no universo vagando em estado letárgico. É muito
confortável quando não se usa macacão de astronauta. Vai dando uma moleza na
gente, a respiração e o coração diminuem o ritmo...
Ele já estava cochilando quando ela surgiu na sala. Há que
ter muita paciência para esperar uma mulher se arrumar.
─Então, finalmente pronta?
─Ah, é só o que tem a me dizer? Estou bem?
─Você eu não sei, mas eu estou ficando com sono. Bom,
podemos ir.
─Minutinho, preciso ir ao banheiro.
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