quarta-feira, 27 de outubro de 2010

CENTROS DE RECUPERAÇÃO, PORQUE RECUPERAM TÃO POUCO?


      CENTROS DE RECUPERAÇÃO, PORQUE RECUPERAM TÃO POUCO?


            Queria começar este artigo dizendo por ter passado por dois centros de recuperação e ter conhecido outros vários, falo um pouco do que vi, convivi e percebi por alguns dos centros por que passei.
            Em primeiro lugar gostaria de citar que os centros que passei eram centros vinculados a igrejas evangélicas, e que os líderes destas, estes sim, são movidos pelo amor ao próximo e estão de fato preocupados com as vidas que por certo período de tempo, permanecem (seis meses aproximadamente) nestes centros e frequentam as igrejas lideradas por estes homens que nutrem em seu coração, o amor pelas almas e ao próximo.
            Bem, o que eu percebi nos centros por que passei  havia uma total falta de estrutura, falta de apoio por parte dos governos, tanto no âmbito federal, estadual e municipal e até mesmo por parte das convenções destas igrejas que por muitas vezes, tem seus cofres abarrotados, mas que não investem nada ou quase nada, perto da quantia que estas convenções (estas convenções são órgãos a que as igrejas estão sujeitas como a CBN, CBB entre outros “cês” espalhadas pelo nosso Brasil) guardam em seus cofres, dinheiro que a meu ver, deveria ser usado para recuperação de vidas, seja dentro dos centros de recuperação, seja na sociedade, na ajuda aos mais necessitados e menos favorecidos, seja dentro da própria igreja, mas se não fazem isto nem com uma parcela de seus missionários espalhados na obra, porque motivos fariam com dependentes, marginalizados ou até mesmo os mais necessitados? Sem contar o preconceito sofrido por grande parte da sociedade e até mesmo pela membresia das igrejas (geralmente uma pessoa só deixa de ser preconceituosa depois de ter um de seus entes ‘depend-entes’) aos quais os centros são vinculados.

            O que falta nos centros?

            1- instalações apropriadas. Em geral, são sítios ou chácaras com pequenas casas e pequenos quartos que por vezes, pessoas chegam a dormir no chão.
            2- falta de monitores e auxiliares devidamente habilitados e treinados. Em geral estes monitores são ‘ex-dependentes’ que passam a morar nos centros e a ocupar o cargo de monitores destes centros, mas sem nenhum tipo de especialização ou treinamento.

            3- falta de uma verdadeira terapia ocupacional, sendo realizados apenas trabalhos de limpeza nas dependências do centro, como faxinas, capinas, e até na construção e reformas dos centros, ou das igrejas.

            4- falta de profissionais específicos (psicólogos, psiquiatras e terapeutas).

            O que sobra nos centros de recuperação?

            A sobrecarga para os pastores que lideram as igrejas e os centros e o excesso de fé em Deus e que todo dependente vai se recuperar simplesmente passando seis meses nos centros e freqüentando o culto nas igrejas e que com muita oração e jejum, todos os problemas se resolverão, coisa que obvio, não acontece. Pois as igrejas, digo, nós como igreja, cheia de dogmas, que são indiferentes a Graça de Cristo, só fazem podar aos novos membros recém saídos de seus centros de recuperação. ‘Libertando-os’ da escravidão das drogas e das mãos do diabo, para ao prender aos seus dogmas ou aos seus “usos e costumes”.

            Mas há sim casos de recuperação plena, a casos de dependentes que abandonaram de vez o vicio e chegaram a serem consagrados pastores. Há casos que seis meses de internação, muita força de vontade resolvem (porque jejum e oração não resolvem). Mas a casos que não, havendo uma reincidência grande (cerca de 90%  recaem). Mas o que eu queria expor aqui é o total descaso da sociedade, do governo e até da igreja, que preconceituosa, acaba jogando de novo, muitos na droga.
            Enquanto não tratar-mos as pessoas como seres individuais e com problemas individuais, assim como o grau de dependência, que também é individual e inerente a cada um, continuaremos falhando na recuperação de vidas. Enquanto não nos conscientizar-mos de que cada ser, cada pessoa é um caso individual e não coletivo, vidas continuarão vindo e indo e vice versa aos centros de recuperação (pois a porcentagem de reincidentes é altíssima) vidas continuarão sendo ceifadas pelo crack. Enquanto a igreja não se despir dos dogmas e não tentar fazer a obra que só o Espírito Santo é capaz de fazer, e que terá seu começo nos centros de recuperação com uma estrutura adequada, continuaremos perdendo vidas e vidas preciosas.
            Engraçado, agora me lembrei de um fato aqui em minha mente: certa vez quando um amigo meu, dono de uma rede de lojas em Belo Horizonte e que tinha certa influencia tanto com políticos como com autoridades das mais diversas bases (militar e judicial por exemplo), tentou conseguir uma alvará do IBAMA para que fosse soltos pássaros e aves silvestres não só no sitio em que ele morava, mas em todo o condomínio, fazendo daquele lugar um viveiro de aves livres e bem tratadas, tamanha foi a burocracia e exigências que ele acabou por desistir. Agora me pergunto: O que será que se exige para que se abram centros de recuperação?

            Anderson Luiz de souza

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