A CRÔNICA DA MULHER-PEDRA (meu desassossego)
De novo e mais uma vez e de novo... Já disse que não lhe quero mais, não venha perturbar-me! Nosso caso já acabou. Voltei em busca de meus novos e velhos sonhos... Voltei para os que eu havia abandonado... Às vezes é preciso voltar para seguir adiante.
Mas... Tenho que lhe confessar, você ainda ronda meus sonhos, não! Sonhos não. Pesadelos! Você ainda me perturba... Ainda sinto seu gosto em minha boca, sinto teu cheiro. E teu cheiro me faz suar. Eu tremo e tento... Meu coração acelera, meus olhos te procuram, me descontrolo; corro, fujo. Tudo em vão! Quanto mais corro mais a sinto presente dentro em mim. Sempre a me atormentar... Pesadelos, sonhos a me importunar. Acordo e fujo! Corro, corro e corro. E já todo molhado pelo suor e cansado, percebo que não tenho mais forças para fugir. Cansei!
Então, trêmulo e exausto caio. Estou caindo e caindo... Rosto no chão. Não consigo mais fugir. Não posso mais. Decido me entregar de vez.
Mas num impulso sobrenatural me ponho de joelhos, o rosto ainda molhado pelas lágrimas e sujo pela poeira do chão, levanto meus olhos para o alto e clamo por ajuda: - Meu Deus livre-me desta mulher! Ela não tem coração e nem piedade de quem seu beijo prova. Há meu Senhor livra min alma desta mulher feita de pedra. Ela é só isto, uma pedra!
Então enquanto ainda choro e tremo sem nada poder ver, uma mão quente e macia... Uma voz sublime a me consolar. Seria mais um sonho? Não! Senti que não. Vi que não. Ele me ouviu. Deus ouviu-me! Mandou uma anja, minha anja e dois anjinhos pra me ajudar. Levanto. Ergo-me, tento me limpar, mas não tenho forças. Volto. Para prosseguir eu volto. E decido, não mais vou correr, nem fugir. Vou enfrentar a mulher-pedra. Tenho ao meu lado o Anjo do Senhor, uma anja e dois anjinhos. Não vou mais fugir de você mulher feita de pedra. Agora eu a vencerei, pois estou de volta a meu lar. Ainda que me perturbes em pesados sonhos (e sei que vai), eu me olho e olho ao meu redor, sei que não estou só (nunca estive, mas nunca os via), e digo mulher feita de pedra, nunca mais vou te beijar. Nunca mais...
Desta vez eu sei que posso dizer que nunca mais. Nunca mais...
Anderson Luiz de Souza
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