Por Daniele Faedda Pusceddu
Uma festa estranha, de confraternizações
estranhas, de desejos equivocados. Óbvio que tudo na vida se é ressignificado,
e não poderia ser diferente com o nascimento de Cristo, afinal, um menino, que
ao nascer é presenteado com ouro, incenso e mirra, não é, desde seu nascimento,
um fato para qualquer um, ele tem que ser especial! Entretanto, o contrassenso
nos é dado pelo próprio Cristo; seu natal é pobreza!
Vivemos em uma época elitista, de padrões
estúpidos, de sede de poder e reconhecimento em que se celebra a posse, a
fortuna, o capital em detrimento do humano, na sua melhor semântica. Ter um
carrão do ano, um celular último modelo e um computador, que tem por símbolo
uma maçã mordida, o tal ter, conduz o desejo na justificativa de que se matar
de trabalhar vale a pena, se no final, virá o meio para se atingir tais
desejos. Ainda que nesse trabalho eu viva em uma ilha, ainda que nesse trabalho
eu não faça um amigo sequer (afinal estou lá para trabalhar, não para
desperdiçar o tempo), ainda que nesse trabalho reine a indiferença, falsidade e
inimizades nos mais variantes estados de acepção. E tudo isso pode se
justificar, enfim, o próprio Reis dos reis, em seu nascimento, foi presenteado
com o melhor do que tinha à época. Entretanto, o contrassenso nos é dado pelo
próprio Cristo; seu natal é pobreza!
Sim, pobreza, e muito embora o ouro, o
incenso e a mirra, presentes que simbolizam a realeza, a fé e a pureza, tenham
sido a ele ofertados, num estábulo o foi. E o grande significado disso é que três
reis se curvam, em toda sua majestade, diante de um menino pobre, entre vacas,
cavalos e ovelhas, no meio do forte cheiro do estábulo. Três reis trazem a ele,
como oferta, três símbolos e o apontam como o verdadeiro rei, puro e fonte da
fé que nos salva. E, sobretudo, seu natal é pobreza!
Foi assim que se fez; o Cristo não
multiplicou seu ouro, se tornando um grande rei, em bens, circulando por
Jerusalém, contudo, andou com os mendigos, no meio dos leprosos, e chamou a
escória da sociedade de digna, e a deu dignidade, quando nela estendeu seu
olhar e teve comunhão com os seus. Sua vida foi símbolo de partilha, doação aos
mais necessitados, do anúncio de seu nascimento, no cântico de Maria
(Magnificat), quando diz: “Derruba os poderosos de seus tronos e eleva os
humildes”, à Cruz, quando na pior morte, não olha para o seu sofrimento
próprio, mas estabelece comunhão com os ladrões que o interpelam! Na sua morte,
na sua cruz, não há barreiras para o olhar do outro, para a condição do outro.
A ele foi dado ouro, mas isso ele não
multiplicou, entretanto, quando pão e peixe a ele foram ofertados se
transformaram em alimentos para uma multidão. Ele escolheu ser pobre, nasceu na
pobreza, andou com os pobres, mas dela fez brotar a maior riqueza, a dignidade
da pessoa humana, que símbolo real algum poderia pagar. O Cristo jamais quis
posses, antes, sempre quis pessoas com corações verdadeiros!
Nesse natal, enquanto muitos se regalam na
fartura dos alimentos, e desejam bons afetos uns aos outros, Cristo comemora
com aqueles que nada têm para comer, seu nascimento, pois foi na pobreza que
ele nasceu; sendo pobre ele viveu; como pobre morreu e ressuscitou. O natal é
uma festa estranha, em que famílias celebram a fartura, mas não celebram o
caráter, a dignidade e a honradez. Celebram a riqueza e agradecem a Deus por
ela, enquanto o mesmo Deus, não julgou com usurpação o ser igual a Deus; antes
a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo (pobre), tornando-se homem;
e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente
até à morte, e morte de cruz. Falta no natal o sentimento que houve em Cristo,
afinal seu sentido é a pobreza, e muitos vão comemorar a posse dos ricos, o
natal do menino Deus pobre! E nada muda, nada se transforma, entre posses,
exclusões e opressões, assim caminha a humanidade.
Feliz natal a todos!
Um comentário:
Agradeço enormemente ao Anderson por ter postado o texto, aqui, no blog, e desejo a todos um Natal em que Cristo e seu sentido venham fazer a diferença na vida e no coração de cada cristão, que a ele se achega.
Muito obrigado Anderson, pelo apreço do texto. Saúde e paz a todos!
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