Há religiosos subjetivistas,
corporativistas, tendenciosos e comprometidos com suas instituições e momento
histórico. Neles o respeito à Bíblia inexiste ao pronunciarem-se contra as
minorias sexuais. Falseiam até o uso do termo homossexual/ismo, este criado por
Karoly Benkert em 1869 e evoluído para homossexualidade. É bem apropriado na
ciência e denota instinto inato afetivo de alguns a outrem do mesmo sexo, tendo
nessa orientação a dimensionalidade de si no que tange a sentimento,
sexualidade e erotismo. Tal expressão sexo-afetiva é involuntária e
constitutiva, ou seja, é do foro íntimo e estrutura pessoal. Com isso
afirmamos: na Bíblia não há texto que possa ser traduzido para homossexual sem
que haja um erro grotesco e desrespeito à obra sacra e literária que é.
“Não se deite com um homem (...)
é abominação” Lv 18:22 usam. Ora, o hebraico toevah traduzido para “abominação”
significa “impureza ritual”. Para os hebreus inexistiam conceitos de bom/mau,
pecado ou não, e sim pureza e impureza. Outro texto no AT narra que os mesmos,
pastores, eram abomináveis aos egípcios, daí se vê que toevah designa Tabu.
Saído da fonte sacerdotal, tal texto traça limites claros entre o culto de
Yahveh e o dos cananeus com sua hierodulia e culto à fertilidade; aí subjaz um ataque
à idolatria. A coesão social israelita importava muito e tais leis religiosas
eram deveres civis e nacionais, com vários tabus supersticiosos e proibições
atualmente irracionais. Tais leis e códigos de vida social foram dadas por Deus
a eles e é incoerente cristãos se obrigarem a elas.
Há os que querem justificar
preconceito discriminatório no NT (que não reafirma leis mosaicas) em Rm
1:18-26. Ora, ali Paulo menciona práticas greco-romanas e em sua visão são
consequências de idolatria, “trocaram a glória (...) por imagens” no 22 e no 25
“eles trocaram (...) e serviram à criatura”... "e por isso Deus os
entregou..." Não é sensato ou lógico crermos hoje que sexo entre iguais
tenha sua causa em idolatria ou culto a deuses pagãos como ele cria. Ali fala
“para physin” contra a natureza, e ele não tem em mente uma postura
cientificista biológica, e sim o que se espera como papel de gêneros ou
postura. Melhor tradução seria “incomum”, que não denota erro. Usam I Co
6:9,10, que contêm a aberração na tradução e erro medieval arsenokoitai para
sodomita, o profeta relata que a causa da destruição de Sodoma é o
egoísmo/orgulho exacerbados num problema social (Ez 16:49).
A Bíblia de Jerusalém, melhor
tradução, diz: “ ...nem as pessoas de costumes infames (...) herdarão o Reino
de Deus”. O sexo vira perversão, com homem ou mulher, no desrespeito a si mesmo
havendo perda de autodeterminação, tais costumes são pecado ao refletirem o
mesmo erro das outras recriminações catalogadas, implicando mau uso da
liberdade ou libertinagem. Paulo, reticente fariseu conservador, reprovava os
excessos da instituição social da pederastia, rito de passagem (totemização ou
iniciação à vida adulta) dos gregos. Para ele, o futuro e iminente reino
messiânico terrestre os prescindiria.
A Bíblia não apoia a
homossexualidade, dizem, mas também não apoia a mulher emancipada, igualdade
jurídica, abolição da escravatura, democracia e o casamento monogâmico. Deste
último, apesar do mito de Adão e Eva, no AT legitima-se a poligamia e o
concubinato para comuns e reis, e no NT, platônico e encratista (averso ao
sexo), o casamento e qualquer ato sexual são desaconselhados. Celibatários ou
virgens, ali temos João Batista, Paulo, Jesus Cristo e os santos do Apocalipse
que “não conheceram mulheres”. Jesus conversando sobre casamento alude os
eunucos que não inseriam-se nele. Se a monogamia teve fases históricas, de
motivações burguesas de manter sangue azul a patrimoniais, e evoluiu, não o foi
por uma motivação ou exemplo expresso no NT, certamente.
O homossexual, sujeito histórico
recente, não está num livro concluído há 2.000 anos que não é um compêndio
científico e menos um código de regras atual, mas relata modos de fé de um povo
que ajuda-nos na relação com Deus. Hoje há a democracia com direitos humanos
onde temos liberdades de ir e vir, de expressão e de sentimento e de busca da
felicidade, onde cada um no exercício do livre-arbítrio e livre consciência sabe
onde melhor buscar. Na História a Bíblia foi muito usada para o mal, vide
Cruzadas, Inquisição, misoginia, Nazismo, escravidão, Apartheid e segregação
racial nos EUA, ideologias nefastas, que, por uma falsa justificativa de
manter-se a ordem social, degredavam e deformavam a Humanidade.
O termo homofobia foi criado em
1972 por George Weinberg , agravo igual ao racismo, tem seus opositores, os
talibãs e “donos da verdade”, que abusam da Bíblia para humilhar e envergonhar
tais que ofendem e minimizam o próximo em sua dignidade e aos seus próprios
olhos não têm a vênia de Deus, nem no fim em si do livro e nem de leis de
liberdade de expressão, pois o Estado assegura o equilíbrio e direitos iguais a
todos, e aos homossexuais, categoria vulnerável, o direito à honra e à vida,
principal e indubitavelmente, e, lembremo-nos, o maior ser humano na História,
Jesus, foi morto por fanáticos de Bíblia em mãos, que nela acharam
justificativa para crucificá-lo.
Fonte: http://omundodaanja.blogspot.com
O autor, Victor R. S. Orellana, é professor, teólogo, bacharel em teologia pelo Instituto Betel e com pós-graduação “Latu-Sensu” pelo CLAP - São Paulo-SP, fundador da Igreja Acalanto e conferencista nacional sobre o tema “Homossexualidade e Religião”
Victor R. S. Orellana
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