Penso, por paradoxal que possa, a
princípio, parecer, de fato, que as Igrejas podem acreditar e pregar que os
atos homossexuais são pecaminosos Isso é pertinente ao que eu chamaria de campo
epistemológico da fé. O que não podem é concordar ou se omitir diante da
violência praticada contra os homossexuais, violência essa que vai, desde as
piadinhas e da linguagem injuriosa a que são submetidos quotidianamente os gays
(incluindo, por exemplo, termos cuja aplicação é indigna de cristãos, tais
como, perversão, perversidade, promiscuidade etc.) e passando pela a violência
física, de que temos assistido tantos exemplos abomináveis, e chega, por meio
da criminalização, à pena capital praticada em tantos países. É tal violência
um dos constituintes daquilo que se denomina homofobia.
Em sua conferência "O
Existencialismo é um Humanismo", o filósofo francês Jean-Paul SARTRE
afirma: "A doutrina que lhes apresento é exatamente o contrário do
quietismo, pois ela afirma: 'Só existe realidade na ação'; e ela vai ainda mais
longe, acrescentando: 'O homem não é nada mais que seu projeto, ele não existe
senão na medida em que se realiza e, portanto, não é outra coisa senão o
conjunto de seus atos, nada mais além de sua vida'. [...] Ora, na realidade,
para o existencialista, não existe outro amor do que aquele que se constrói,
não há outra possibilidade de amor do que aquela que se manifesta em um amor,
não há genialidade senão aquela que se expressa em obras de arte: o gênio de
Proust é a totalidade das obras de Proust; o gênio de Racine é a série de suas
tragédias, além disso não há nada. Por que atribuir a Racine a possibilidade de
escrever uma nova tragédia, uma vez que exatamente ele não a escreveu? (SARTRE,
J-P. O EXISTENCIALISMO É UM HUMANISMO. Vozes, Petrópolis, 2010 pp. 42-43)
Destarte, penso que não só falta,
mas urge, da parte dos religiosos cristãos que, em nome da "verdade"
sempre vêm a publico condenar a homossexualidade e os homossexuais,
posicionamento claro e explícito, inequívoco e concreto, contra a violência
homofóbica, que, de resto, parece vir crescendo paulatinamente em nossa
sociedade. Afinal, não é o o amor, o mandamento fundamental de Cristo? E, para
parecerem políticamente corretos, não estão eles sempre a afirmar que, embora
odeiem o pecado, amam o pecador?
Que abram, portanto, os ouvidos
de seus corações para a voz de Deus que clama na Escritura: " Porque esta
é a mensagem que ouvistes desde o início: que nos amemos uns aos outros, não
como Caim que, sendo do Maligno, matou seu irmão. E por que o matou? Porque
suas obras eram más, ao passo que as de seu irmão eram justas. Não vos
admireis, irmãos, se o mundo vos odeia. Nós sabemos que passamos da morte para
a vida, porque amamos nossos irmãos. Aquele que não ama permanece na morte.
Todo aquele que odeia seu irmão é homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a
vida eterna permanecendo nele. Nisto conhecemos o Amor; ele deu sua vida por
nós. E nós também devemos dar a vida pelos irmãos. Se alguém, possuindo os bens
deste mundo vê seu irmão na necessidade e lhe fecha as entranhas, como
permaneceria nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos com palavras e nem com
a língua, mas com ações e em verdade." (1Jo 3, 11-18 Bíblia de Jerusalém).
Afonso Celso Figueiredo
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