segunda-feira, 10 de outubro de 2011

DEVEM ODIAR O PECADO, MAS AMAR O PECADOR




Penso, por paradoxal que possa, a princípio, parecer, de fato, que as Igrejas podem acreditar e pregar que os atos homossexuais são pecaminosos Isso é pertinente ao que eu chamaria de campo epistemológico da fé. O que não podem é concordar ou se omitir diante da violência praticada contra os homossexuais, violência essa que vai, desde as piadinhas e da linguagem injuriosa a que são submetidos quotidianamente os gays (incluindo, por exemplo, termos cuja aplicação é indigna de cristãos, tais como, perversão, perversidade, promiscuidade etc.) e passando pela a violência física, de que temos assistido tantos exemplos abomináveis, e chega, por meio da criminalização, à pena capital praticada em tantos países. É tal violência um dos constituintes daquilo que se denomina homofobia.

Em sua conferência "O Existencialismo é um Humanismo", o filósofo francês Jean-Paul SARTRE afirma: "A doutrina que lhes apresento é exatamente o contrário do quietismo, pois ela afirma: 'Só existe realidade na ação'; e ela vai ainda mais longe, acrescentando: 'O homem não é nada mais que seu projeto, ele não existe senão na medida em que se realiza e, portanto, não é outra coisa senão o conjunto de seus atos, nada mais além de sua vida'. [...] Ora, na realidade, para o existencialista, não existe outro amor do que aquele que se constrói, não há outra possibilidade de amor do que aquela que se manifesta em um amor, não há genialidade senão aquela que se expressa em obras de arte: o gênio de Proust é a totalidade das obras de Proust; o gênio de Racine é a série de suas tragédias, além disso não há nada. Por que atribuir a Racine a possibilidade de escrever uma nova tragédia, uma vez que exatamente ele não a escreveu? (SARTRE, J-P. O EXISTENCIALISMO É UM HUMANISMO. Vozes, Petrópolis, 2010 pp. 42-43)

Destarte, penso que não só falta, mas urge, da parte dos religiosos cristãos que, em nome da "verdade" sempre vêm a publico condenar a homossexualidade e os homossexuais, posicionamento claro e explícito, inequívoco e concreto, contra a violência homofóbica, que, de resto, parece vir crescendo paulatinamente em nossa sociedade. Afinal, não é o o amor, o mandamento fundamental de Cristo? E, para parecerem políticamente corretos, não estão eles sempre a afirmar que, embora odeiem o pecado, amam o pecador?

Que abram, portanto, os ouvidos de seus corações para a voz de Deus que clama na Escritura: " Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o início: que nos amemos uns aos outros, não como Caim que, sendo do Maligno, matou seu irmão. E por que o matou? Porque suas obras eram más, ao passo que as de seu irmão eram justas. Não vos admireis, irmãos, se o mundo vos odeia. Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos nossos irmãos. Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia seu irmão é homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele. Nisto conhecemos o Amor; ele deu sua vida por nós. E nós também devemos dar a vida pelos irmãos. Se alguém, possuindo os bens deste mundo vê seu irmão na necessidade e lhe fecha as entranhas, como permaneceria nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos com palavras e nem com a língua, mas com ações e em verdade." (1Jo 3, 11-18 Bíblia de Jerusalém).

Afonso Celso Figueiredo

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