Até que naquele horário a av. Rio
Branco não estava muito movimentada. Naquele flutuar de cabeças uma lhe pareceu
familiar. Mas quem era? Aquela sensação de déjà vu nunca deixa agente em
paz. O outro, percebendo que estava sendo observado, deu de cara com o
observador. Ficou confuso a princípio, mas seu temperamento amistoso não o
cercou de maiores cuidados. Estava curioso também. Quem era aquele sujeito que
o fitava insistentemente? Foram se aproximando, pois caminhavam em sentido
contrário, até a um passo de distancia um deles exclamou sorrindo:
─Fortaleza!
Ainda um pouco atônito o outro
respondeu:
─Sim. Fortaleza. Caramba, como é que
eu não lembrei logo, pensou consigo mesmo.
─Vamos tomar um chope? Tá com pressa?
─Não. O que eu tinha a fazer aqui no centro já está
feito. Estava só passeando um pouco, pra espairecer, sabe como é, né?
─Claro, então vamos lá.
─Tem voltado a Fortaleza? Que clima
maravilhoso, o melhor do Brasil, pelo que dizem... Aliás, não só.
Acomodaram-se em uma das muitas mesas
disponíveis e foram rapidamente servidos.
─Verdade. Acabei casando com uma moça
de lá.
─Sério? Disse quase engasgando com o
chope.
─Ás vezes a gente estraga tudo assim.
Mas vamos indo.
─Curioso, ontem eu estava pensando
que na vida não existe nada. A gente, movido pelos nossos desejos e ansiedades,
vai construindo uma teia de eventos e acaba emaranhado nela. O pior é que,
apesar da autoria, não fazemos a menor ideia da sua configuração, pois cada nó
e fio estendido assim o foram sem a menor consciência do que estávamos
construindo. Ás vezes até fica bom ou vai dando pra levar. Mas, na
maioria dos casos não dá certo. Em qual dos casos você está?
─Acho que em todos.
─Esse seu humor é um sinal de
sanidade. Sorriu solidariamente.
─ Pode ser. Ás vezes penso que
não sou normal.
─hahahaha! E quem é normal? Ora, o
normal só existe socialmente. É aquele que segue as normas como um cachorrinho
amestrado. Cachorro só na hora do cio kkkkkkkk
─Vamos tomar mais um?
─Vamos. Só mais essa rodada, pois eu
tenho que ir. Mais tarde as conduções ficam insuportáveis e terei que responder
a um questionário enfadonho quando chegar a casa.
─ Ih, caramba! Como você deixou
ficar assim?
─Eu não deixei nada. Aquela cearense
é um poço de ciúmes. Mas tem lá as compensações que ainda me prendem a ela.
Sabe como é.
─Francamente, Amaral, o que pode
compensar o desperdício da juventude que nos resta?
─Discordo inteiramente e não me chamo
Amaral.
─Não?
─Não. E você se chama Olavo?
─Não.
─ Ora bolas...
Pagaram a conta e cada um tomou seu
rumo sem olhar pra trás.
Ivani Medina
via: Mundo Da Anja(link)
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