domingo, 29 de abril de 2012

O ateísmo nunca irá conseguir acabar com a religião!



Por Marcio Alves

Meus caros amigos “ateus-atoa”, “ateus-militantes”, “ateus-perdidos “, “ateus-agnósticos” e até “ateus-enrustidos” – o que tem de gente que no fundo é ateu, mas não sai do armário, não é brincadeira não! Sem contar os que são, mas não sabe ainda que são, ou não querem reconhecer isto –  vocês devem encarar a dura e “triste” (para os ateus) realidade de que a religião nunca irá acabar. (Porque será que a grande maioria dos ateus deseja ardentemente que os religiosos se tornem também ateus? Será que Freud explica? Risos)

Levanto, a partir de agora, nove (9) razões porque a religião nunca vai acabar:

1-Ela é a maior utopia das utopias

Promove uma visão futurista de esperança, gloria e otimismo, atribuindo ao “todo-poderoso” – aquele que nunca pode ser frustrado em seus planos – o poder de concretizar aquilo que seria impossível aos homens.
(Deus na visão do religioso é como o diretor que espera o momento certo, para intervir no filme que esta desenrolando, para por um ponto final, independente da atuação dos atores)

2-O religioso não corre o risco de um dia descobrir que sua crença não é real

Quando se aposta, geralmente se espera e se tem o resultado, seja o desejado ou não, mas no caso da religião é uma aposta que o religioso nunca descobrirá que era de fato um engano, pois se quando a pessoa morre se segue logo o nada da existência, o crente não terá do que se arrepender depois da morte. (famosa aposta do filosofo Pascal)

3-Ela torna a pessoa especial

Na visão religiosa o homem é a imagem de Deus, possui uma alma, e é alvo do cuidado de Deus, seja para ser abençoado por ele ou muitas vezes castigado como forma de repreensão.
Tire a concepção espiritual do homem, e ele se torna um mero animal sem alma que apenas racionaliza, mas que compartilha da mesma origem e o mesmo fim do animal.

4-Ela oferece respostas para a existência humana

Ela diz da onde você veio, porque você esta aqui e para onde você irá. Ou seja, ela enche o ser humano de propósito e significado. Pode até se argumenta que é falsa, que é inventada, que é ilusória, que é enganosa, mas no fundo, o que importa para o ser humano, que em geral prefere uma verdade inventada e cômoda, do que a angustiante duvida da não resposta, é a resposta em si.

5-Ela alivia a dor humana

Pois promete um paraíso eterno sem dor e sofrimento, ou seja, neste mundo você pode não ter nada, sofrer, ser injustiçado, mas lá no outro mundo, Deus irá reparar os seus danos sofridos.
Imagina uma pessoa que perdeu pessoas as quais ama, ela, se for religiosa, irá se consolar com a promessa da eternidade, onde poderá encontrar os seus parentes e amigos – mas desde que seja também da mesma religião, porque se não, se for um crente, por exemplo, irá ficar profundamente triste por crer que a pessoa a qual mais amou, mas que não era de sua religião foi parar no inferno por toda eternidade.

6-Porque os religiosos acreditam porque querem acreditar

Hoje, (sempre?) mais do que nunca, a grande busca do ser humano é pela tão sonhada e ilusória felicidade, tanto é que criamos varias ilusões, conscientes ou não, para tornar nosso mundo frio e cinzento, um pouco colorido e quente.
Portanto, a grande pergunta que a maior parte dos seres humanos fazem a si mesmo é: “isto vai trazer alegria, felicidade e/ou prazer para minha vida?” e não se é verdade ou real na existência, até porque, se ela verdadeiramente experimenta, para ela isto já se constitui uma verdade em si.
Sendo assim, os religiosos acreditam porque querem e desejam ardentemente acreditarem que é real sua experiência religiosa, e, contra isto, não há argumentos racionais que venham dissuadi-las desta vontade.

7-Porque ela é um sistema muito bem estruturado e organizado

Alguns ateus no afã de quererem “converter” (ou “desconverter”) os religiosos para sua “corrente de pensamento ateia”, distorcem os argumentos religiosos, por pura esperteza ou ignorância mesmo, limitando as mesmas em reducionismo classificatório e taxativo de somente “pura fé”, dizendo que os religiosos não utilizam à lógica e nem a razão.
Mas estão equivocados, porque toda religião possui em si mesma, isto é, em seus sistemas, lógica e razão interna, sendo coerente dentro da lógica proposta por cada religião.
Ou seja, quando um sujeito vai para alguma religião, ele não vai encontrar uma bagunça generalizada, onde cada adepto pensa ou diz de um jeito, mas sim, uma organização com sistema, doutrina, culto, hierarquia, e até uma concepção de deus própria.

8-Ela trabalha em cima do egoísmo e interesse humano

A religião, mais do que qualquer outra coisa, promove o interesse e egoísmo do ser humano, pois é um sistema de recompensa e punição que estão ligado e determinado pelos atos individuais de cada um – a famosa fala de Paulo “cada um dará conta de si mesma a Deus”.
Céu e bênçãos materiais, no caso do cristianismo, para quem for obediente, e, inferno e castigo para os desobedientes.
Ou seja, ela reforça e mantém ao mesmo tempo, o sujeito dentro do processo religioso, seja por medo da punição, ou interesse de ganhar recompensa.

9- A última e mais obvia das conclusões

Vou terminar esta postagem no nono ponto, sabendo que existem mais razões do porque “O ateísmo nunca irá conseguir acabar com a religião!” com a principal e mais simples conclusão:
Não é possível datar e nem dizer como a religião se iniciou de fato, apenas se especula, mas o que interessa mesmo é que nunca existiu (pelo menos nunca se descobriu) e não existe nenhuma sociedade sem religião, isto em milhares de anos, como os ateus pensam que agora vão conseguir acabar com a religião, e isto no mundo inteiro? (Desse jeito meus caros amigos ateus, vocês vão acabar sendo taxados de pessoas com muita mais fé do que os próprios religiosos, ou de serem pessoas ingênuas. Risos).


quarta-feira, 25 de abril de 2012

O poder, a fama e a verdade (se é que há uma verdade)


                O poder tem um efeito tão nocivo quanto qualquer outra droga, isto é fato. O poder causa dependência e por si só a pessoa é incapaz de abandonar este terrível vício. Com certeza você, caro leitor, deve conhecer alguém que sofre deste mau: toxicômanos, fumantes, alcoólatras assim como, políticos, ministros, diretores de empresas e porque não dizer PASTORES?! SIM! Assim como os dependentes químicos que não conseguem por si só abandonarem o vício, o individuo que alcança o poder não intenta abandona-lo, inclusive os PASTORES!

                Quero me ater nesta ultima classe de indivíduos, os pastores, estes talvez sejam os mais difíceis de tratar, pois, estando no engano, enganam; se libertando do engano, continuam, enganando e se enganando e por quê? PELA SEDE DE PODER! Não querem abandonar todo o “sucesso profissional” que já alcançaram e covardemente, permanecem no auto-engano e no engano da religião e continuam iludindo a muitos. Até pode-se dizer que é compreensiva tal postura, pois o ser humano é por natureza ambicioso e a ambição é o desejo, a intenção de alcançar um objetivo e em se alcançando, novas ambições nos arrebatam, sendo que em se tratando de poder, quanto mais melhor. A fome por poder se torna insaciável e renegar ao poder é algo extremamente difícil e doloroso.  O homem (indivíduo) que, no exercício da função, alcança o poder no clericato, dificilmente abandonará suas convicções, mesmo que tenha certeza que está no engano ou que, sendo eu mais “light”, descobre não haver uma verdade absoluta ou uma só verdade, dificilmente terá coragem de retroceder e abandonar o poder que o mantém vivo ou pelo menos que o mantém como “chefe” da organização que dirige, seja ela qual for.

                […] “Em algumas personalidades (e pastores), a conquista de poder pode ser como apanhar uma 'pedra', semelhante a uma droga", escreveu Dan Bobinski , um especialista norte-americano em liderança, num artigo em 2006 . "Mas eventualmente a 'pedra' passa e a pessoa precisa de uma nova infusão de poder - ou uma posição mais elevada de poder - para voltar a sentir-se estimulado. Nenhuma pessoa é tão grande que não possa cair".

O poder como vício dos vícios é substância mais natural do que a canábis, tem sido abordado pelos autores mais respeitáveis ao longo dos tempos: "O poder é doce: é uma droga cujo desejo aumenta com o hábito", escreveu o filósofo Bertrand Russel a meio do século XX. Edmund Burke já tinha escrito há 200 anos: "Aqueles que foram intoxicados pelo poder... nunca o poderão abandonar de livre vontade”. […] (Vitor de Matos).

                É por isto que digo sem medo de errar que muitos pastores (tele-evangelistas ou não) jamais voltarão atrás em sua teimosa fé (mesmo que isto lhes pareça ser o mais sensato a fazer), pois a sede e o doce sabor do poder lhes impede. Muitos até querem abandonar, mas precisam de uma intervenção de fora, não de deus, que é outro que tem uma sede infindável de poder, mas talvez de especialistas em dependentes químicos, só neles estes encontrarão ajuda.

Anderson Luiz de Souza

Licença Creative Commons
O poder, a fama e a verdade (se é que há uma verdade) de Anderson L. De souza é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Brasil.
Baseado no trabalho em andersonmineiro70.blogspot.com.br.
Perssões além do escopo dessa licença podem estar disponível em http://omundodaanja.blogspot.com/.

domingo, 22 de abril de 2012

Fortaleza (By Ivani Medina)



Até que naquele horário a av. Rio Branco não estava muito movimentada. Naquele flutuar de cabeças uma lhe pareceu familiar. Mas quem era? Aquela sensação de déjà vu nunca deixa agente em paz. O outro, percebendo que estava sendo observado, deu de cara com o observador. Ficou confuso a princípio, mas seu temperamento amistoso não o cercou de maiores cuidados. Estava curioso também. Quem era aquele sujeito que o fitava insistentemente? Foram se aproximando, pois caminhavam em sentido contrário, até a um passo de distancia um deles exclamou sorrindo:

 ─Fortaleza! 

Ainda um pouco atônito o outro respondeu:

─Sim. Fortaleza. Caramba, como é que eu não lembrei logo, pensou consigo mesmo.

Vamos tomar um chope? Tá com pressa? 

Não. O que eu tinha a fazer aqui no centro já está feito. Estava só passeando um pouco, pra espairecer, sabe como é, né?

─Claro, então vamos lá.

─Tem voltado a Fortaleza? Que clima maravilhoso, o melhor do Brasil, pelo que dizem... Aliás, não só.
Acomodaram-se em uma das muitas mesas disponíveis e foram rapidamente servidos.

─Verdade. Acabei casando com uma moça de lá.

─Sério? Disse quase engasgando com o chope.

─Ás vezes a gente estraga tudo assim. Mas vamos indo.

─Curioso, ontem eu estava pensando que na vida não existe nada. A gente, movido pelos nossos desejos e ansiedades, vai construindo uma teia de eventos e acaba emaranhado nela. O pior é que, apesar da autoria, não fazemos a menor ideia da sua configuração, pois cada nó e fio estendido assim o foram sem a menor consciência do que estávamos construindo.  Ás vezes até fica bom ou vai dando pra levar. Mas, na maioria dos casos não dá certo. Em qual dos casos você está?

─Acho que em todos.

─Esse seu humor é um sinal de sanidade. Sorriu solidariamente.

─ Pode ser. Ás vezes penso que não sou normal.

─hahahaha! E quem é normal? Ora, o normal só existe socialmente. É aquele que segue as normas como um cachorrinho amestrado. Cachorro só na hora do cio kkkkkkkk

─Vamos tomar mais um?

─Vamos. Só mais essa rodada, pois eu tenho que ir. Mais tarde as conduções ficam insuportáveis e terei que responder a um questionário enfadonho quando chegar a casa.

─ Ih, caramba! Como você deixou ficar assim?

─Eu não deixei nada. Aquela cearense é um poço de ciúmes. Mas tem lá as compensações que ainda me prendem a ela. Sabe como é.

─Francamente, Amaral, o que pode compensar o desperdício da juventude que nos resta?

─Discordo inteiramente e não me chamo Amaral.

─Não?

─Não. E você se chama Olavo?

─Não.

─ Ora bolas...

Pagaram a conta e cada um tomou seu rumo sem olhar pra trás.


Ivani Medina
via: Mundo Da Anja(link)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Eu, Mulher, Hétero, Brasileira, mãe, crente em Nossa Senhora…






By Maju Giorgi

Resposta de uma mãe as acusações de um pastor

Relembremos alguns fatos:

 “AFRICANOS DESCENDEM DE ANCESTRAL AMALDIÇOADO POR NOÉ. ISSO É FATO.” PASTOR e DEPUTADO FEDERAL MARCO FELICIANO.

“O caso envolvendo o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), que afirmou nessa quarta-feira (30/03/2011), no Twitter, que os “africanos descendem de um ancestral amaldiçoado”, deverá será analisado pela Corregedoria da Câmara dos Deputados. A presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, deputada Manuela d’Avila (PCdoB-RS), disse que irá encaminhar as mensagens do parlamentar para o órgão.” (esta informação esta disponível na internet para todos que queiram ver).

“Sem dúvida, avançamos muito na luta contra o racismo, mas não o extirpamos totalmente. Hoje, pelo menos, sabemos que não se deve discriminar ninguém e é de mau gosto alguém se proclamar racista. Mas nada disso existe no que se refere a gays, lésbicas e transexuais. Quanto a eles, podemos desprezar e maltratar impunemente. Eles são a demonstração mais reveladora de quão distante boa parte do mundo ainda está da verdadeira civilização.” (Mario Vargas Llosa).

As polêmicas ainda atuais envolvem outro pastor, o Malafaia.

Pastor Silas Malafaia, DISCURSO DE ÓDIO NÃO É LIBERDADE DE EXPRESSÃO…É CRIME OU PELO MENOS, DEVERIA SER !

O Pastor quer fazer crer que LGBTs, afrontam o povo negro quando pedem a aprovação do PCL122.

A alegação do Pastor Malafaia é que ser negro não é comportamento, ser gay é. E que querem equiparar o PCL 122 a lei do racismo. Desta forma acho que estamos afrontando a todo ser humano protegido por lei especial. Pastor, caso o senhor não acredite na palavra de milhões de mães e pais heterossexuais, de famílias heterossexuais, presentes, dedicados, livres da promiscuidade que o senhor tanto condena, muitas vezes religiosos praticantes e fervorosos que tiveram filhos gays pelo mundo afora, MAS que não teriam a suficiente credibilidade para o senhor, incontáveis, estudos científicos tem saído todos os dias para provar que homossexualidade NÃO é comportamento, é CONDIÇÃO.

Eu gostaria que o senhor me provasse a sua teoria. Vou fazer uma pergunta: Ser judeu é comportamento ou condição ou a que categoria pertence, para q eu possa entender melhor.

A grande diferença, Pastor, é que ser negro, mulher, pessoa com deficiência, criança ou idoso, É CONDIÇÃO VISTA A OLHO NU, ser gay, não. Mas vamos aos estudos:

Cito alguns recentes:

I- Dr. Jerome Goldstein, diretor do San Francisco Clinical Research Center (EUA) enfatizou que “A orientação sexual NÃO É UMA QUESTÃO DE ESCOLHA, é principalmente questão neurobiológica pré-natal. Existem vínculos inegáveis.” “Nós queremos torná-los visíveis”. Confira aqui
II- “A neurocientista sueca Ivanka Savic, do Instituto Karolinska de Estocolmo e os estudos com gêmeos homossexuais.” Confira Aqui.
III- “O trabalho Anglo-Sueco da Queen Mary University of London.” Leia Aqui.

Então, muito rapidamente e só pra começar, podemos pelo menos colocar uma dúvida nessa sua VERDADE que LGBTS afrontam os negros por quererem uma lei que os proteja. Aliás, me parece que não são os gays que perseguem os seguidores das religiões Afro incansável, sistemática e dedicadamente.

O senhor acha dentro desse seu total entendimento de que uma atitude isolada de uma pessoa ou algumas pessoas em uma Parada que reúne milhões de pessoas pertencentes a um grupo que só no Brasil soma muito mais de 10 milhões de pessoas, lhe dá o direito de conclamar os católicos a “baixar o porrete” nos gays ou algo parecido? (fato pelo qual o senhor foi chamado ao ministério público).

Será que gays poderiam usar desta mesma artimanha, quando um pastor evangélico quebra a marteladas um dos símbolos mais amados da Igreja Católica?

Poderiam homossexuais conclamar os católicos a “baixar o porrete” nos evangélicos?

Ou neste especifico caso seria uma atitude isolada? “É” uma atitude isolada, Pastor. Julgar todo um povo por atitudes de um, não é arma justa nem legitima.

É neste tipo de mundo que o senhor quer viver Pastor Malafaia uma guerra declarada entre tudo e todos? Ou o que o senhor realmente quer é que todos abaixem a cabeça ao senhor, ao que o senhor ACHA, ao que o senhor SUPÕE, ao que o senhor IMAGINA, ao que o senhor ACREDITA?

De que forma o senhor ama os gays?

Desde que eles não sejam gays? Desde que se limitem ao lugar de cidadão de segunda categoria reservado a eles, onde se tem muitos deveres, poucos direitos e as vozes caladas?

AH… A Mãe de Jesus Cristo, A Nossa Senhora, A Virgem Maria tão amada. Foi a ela que entreguei meus filhos quando nasceram. E é a ela que peço TODOS os dias que cubra com seu manto sagrado, MEU FILHO GAY, quando ele sai as ruas do país CAMPEÃO MUNDIAL EM CRIMES HOMOFÓBICOS, sem LEI que o proteja, sendo alvo certo e constante do ÓDIO incessantemente propagado. Porque Pastor, eu sei q NESTE caso o amor realmente é inconteste e incondicional. Foi ela A NOSSA SENHORA, a protetora dos MEUS filhos que eu vi ser quebrada a marteladas e pontapés, mas em nome dela, eu peço a PAZ, porque ela é AMOR.

O alento a meu coração de mãe, é que existem bons cristãos no mundo, vide o Padre Jesuíta Luís CorrêaLima e o Pastor Ricardo Gondim que assopram vida e luz em almas torturadas por pessoas como o senhor! Isso é ser cristão, amar, compreender, evoluir, aceitar. Isso é ser HUMANO, isso é viver no AMOR. Ser gay não se escolhe, não se ensina, homossexualidade não se transmite por contagio.

Quando o senhor se refere a “ditadura gay”, o senhor se refere a que exatamente? Alguém já ouviu falar em Bancada Gay? Televisão Gay? Radio Gay? Ministro Gay? Tem certeza que é gay a ditadura que esta sendo instaurada?


VIVA E DEIXE VIVER PASTOR.

Gays são uma minoria e contam apenas com suas vozes nessa luta tão injusta.

Por isso eu peço a TODO, O POVO LGBT, seus pais, suas famílias e seus amigos que se assumam num ato político por um Brasil e um mundo melhor.

Vamos lutar para que TODOS os brasileiros tenham seus direitos assegurados pela Constituição. Mesmo que para isso se criem leis especiais.

ATÉ O DIA 6 DO MÊS DE ABRIL DESTE ANO DE 2012, 106 JOVENS HOMOSSEXUAIS FORAM TORTURADOS CRUELMENTE COM TODO TIPO DE REQUINTE, OLHOS PERFURADOS, DEDOS ARRANCADOS, CRANIOS ESMAGADOS E FINALMENTE MORTOS. E ESSE NÚMERO NÃO PARA DE CRESCER. POR TUDO ISSO…

EU, MULHER, HETEROSSEXUAL, CASADA, BRASILEIRA, MÃE, CRENTE EM NOSSA SENHORA, CIDADÃ DE UM PAIS LAICO E DEMOCRATICO, PEÇO A APROVAÇÃO DA PCL 122 !!!

Eu dedico a minha luta, as “MÃES PELA IGUALDADE” algumas das quais já tiveram seus filhos levados pela homofobia e mesmo assim se levantam TODOS os dias para defender e proteger TODOS os filhos gays.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Panteímo e panenteísmo: distinção necessária



Por Leonardo Boff

Uma visão cosmológica radical e coerente afirma que o sujeito último de tudo o que ocorre é o próprio universo. É ele que faz emergir os seres, as complexidades, a biodiversidade, a consciência e os conteúdos desta consciência pois somos parte dele. Assim, antes de estar em nossa cabeça como idéia, a realidade de Deus estava no próprio universo. Porque estava lá, pôde irromper em nós. A partir desta compreensão se entende a imanência de Deus no universo. Deus vem misturado com todos os processos, sem perder-se dentro deles.  Antes, orienta a seta do tempo para a emergência de ordens cada vez mais complexas, dinâmicas (portanto, que se distanciam do equilíbrio para buscar novas adaptações) e carregadas de propósito. Deus comparece, na linguagem das tradições transculturais, como o Espírito criador e ordenador de tudo o que existe. Ela vem misturado com as coisas. Participa de seus desdobramentos, sofre com as extinções em massa, sente-se crucificado nos empobrecidos, rejubila-se com os avanços rumo a diversidades mais convergentes e interrelacionadas, apontando para um ponto Omega  terminal.

Deus está presente no cosmos e o cosmos está presente em Deus. A teologia antiga expressava esta mútua interpenetração pelo conceito “pericórese”, aplicada às relações entre Deus e a criação e depois entre as divinas Pessoas da Trindade. A teologia moderna cunhou outra expressão, o “panenteísmo” ( em grego: pan=tudo; en= em; theos=Deus). Quer dizer: Deus está em tudo e tudo está em Deus. Esta palavra foi proposta evangélico Frederick Krause (l781-1832), fascinado pelo fulgor divino do universo.

O panenteísmo deve ser distinguido claramente do panteísmo. O panteísmo (em grego: pan-tudo; theos=Deus) afirma que tudo é Deus e Deus é tudo. Sustenta que Deus e mundo são idênticos; que o mundo não é criatura de Deus mas o modo necessário de existir de Deus. O panteísmo não aceita nenhuma diferença: o céu é Deus, a Terra é Deus, a pedra é Deus e o ser humano é Deus. Esta falta de diferença leva facilmente à indiferença. Se tudo é Deus e Deus é  tudo, então é indiferente se me ocupo com uma menina estuprada num ônibus no Rio ou com o carnaval, ou com indígenas em extinção ou com uma lei contra a homofobia.  O que é manifestamente um erro, pois diferenças existem e persistem.

Tudo não é Deus. As coisas são o que são: coisas. No entanto, Deus está nas coisas e  as coisas estão em Deus, por causa de seu ato criador. A criatura sempre depende de Deus e sem Ele voltaria ao nada de onde foi tirada. Deus e mundo  são diferentes. Mas não estão separados ou fechados. Estão abertos um ao outro. Se são diferentes, é para possibilitar o encontro e a mútua comunhão.   Por causa dela superem-se as categorias de procedência grega se contrapunham: transcendência e imanência. Imanência é este mundo aqui. Transcendência é o mundo que está para além deste.  O Cristianismo por causa da encarnação de Deus, criou a categoriatransparência. Ela é a presença da transcendência (Deus) dentro da imanência(mundo). Quando isso ocorre, Deus e mundo se fazem mutuamente transparentes. Como dizia Jesus: “quem vê a mim, vê o Pai”. Teilhard de Chardin viveu uma comovente espiritualidade da transparência. Bem dizia:” O grande mistério do Cristianismo não é a aparição, mas a transparência de Deus no universo. Não somente o raio que aflora, mas o raio que penetra. Não a Epi-fania mas a Dia-fania” (Le milieu divin 1957, 162).

O universo em cosmogênese nos convida a vivermos a experiência que subjaz ao panenteísmo: em cada mínima manifestação de ser, em cada movimento, em cada expressão de vida estamos às voltas com a presença e a ação de Deus. Abraçando o mundo, estamos abraçando Deus. As pessoas sensíveis ao Sagrado e ao Mistério tiram Deus de seu anonimato e dão-lhe um nome. Celebram-no com hinos, cânticos e ritos mediante os quais expressam sua experiência de Deus. Testemunham o que Paulo disse aos gregos de Atenas:”Em Deus vivemos, nos movemos e existimos”(17, 28).


domingo, 15 de abril de 2012

Inferno, uma hipérbole aos mortais







“Se o teu olho direito te faz pecar, arranca-o e lança fora, pois é melhor entrar na Vida com um só olho do que ir com os dois para o inferno”. Hora essa! Porque na nossa interpretação o olho é simbólico e o inferno é literal? Porque ninguém até agora arrancou o olho direito que tanto o fez pecar, e mais ainda: porque nenhum homem ainda não arrancou alguma de suas partes “indignas” para poder ser salvo. Então é assim: o inferno ta lá queimando que uma beleza! Mas arrancar a língua, a mão, o olho ou qualquer outro membro que é bom ninguém arranca!

Qual o critério de uma coisa ser literal e a outra alegórica? Porque se ignora um “mandamento” enquanto se teme uma analogia mítica como força de expressão de uma realidade eterna não compreensível? Entende-se que o bom senso é o discernimento do que se é fictício ou literal. Agora me diz uma coisa: que bom senso tem na existência de um lugar de condenação permanente para quem (não pediu para vir ao mundo) peca por setenta anos nesta vida (e não consentiu em nascer pecador) e passa o resto da eternidade pagando por esses seus pecados hediondos: dançar, beber e fazer “amor” fora de hora!

Meu Deus! Como assim? Eu lá no céu na maior alegria e milhares dos meus semelhantes queimando para sempre no quinto dos infernos? Só se eu estiver sedado para não me importar com isso! Ou será necessário Ele (usar deste artifício) apagar da nossa memória a existência dos nossos entes queridos que ficaram para traz, (blasfemando de Deus para sempre) para nós termos paz! Que paz? E a promessa de nunca mais choro, nunca mais dor? (nunca mais pra meia dúzia, será? Enquanto a maioria da humanidade se arrebenta, se acotovelando em ódio mútuo, perpetuando o pecado na existência?)

Aquele que era o pedagogo por excelência, instrutor em parábolas, analogias, metáforas, poeta das plantas e animais, prosador da vida do homem do campo, e contador de historias e enigmas, não nos quis falar do inferno como algo literal. Mas sim como uma hipérbole que é força de expressão do significado de aniquilação irreversível que representa o fogo eterno. Hipérbole é uma exageração intencional de linguagem com o intento de tornar mais expressiva à idéia, como figura metafórica propositada para acentuar a expressão do conceito, de modo a expor de forma dramática aquilo que se pretende vocabular, transmitindo uma idéia aumentada do autêntico.

Isso não é engano ou mentira, mas metodologia consciente para se dizer aos que não tem estrutura e entendimento para receber toda verdade. Pois sendo universal a sua mensagem Ele usava desses recursos para atingir de forma subjetiva cada pessoa, de todas as eras e povos, com entendimentos e capacidades de compreensão diferentes. Mas agora que crescemos e temos a capacidade de suportar certas desconstruções dos dogmas provisórios, e não somos crianças disciplinadas pelo medo, uma coisa não podemos deixar de sentir e dizer: que o inferno entendido como condenação literal e perpétua, não condiz nem com o senso de justiça intrínseco no espírito do homem e muito menos com o espírito do evangelho revelado no Amor e Graça do maior Mestre em figura de linguagem, contos alegóricos e palavras expressivas que já existiu!


sexta-feira, 13 de abril de 2012

O FIM DOS SERMÕES (By Elienai Jr.)




Há um limite para a convivência das expectativas da multidão e a linguagem lúdica de um sonhador. Pode se manter muita gente por perto, bastante tempo, contando histórias. Respondendo com novas e escorregadias perguntas, distraindo com meias palavras, usando as mesmas figuras para indicar outras imagens. O Reino de Deus, invisível. Fermento para o bolo. Um grão de mostarda. A luz no candeeiro. O sal. Um casamento surpreendente. Outra coisa com as mesmas palavras. Parábolas que postergam os julgamentos, que iludem a ilusão (Kierkegaard).

Mas há um ponto de fervura em toda esperança adiada. Um prazo estreito para o encantamento popular, quando a violência adormecida de todos acorda. Parece que é o que está acontecendo. Ninguém pede mais sinais. Nenhuma nova pergunta é feita e sequer mais uma história é tolerada. Antes, cercado por demandas, agora, rodeado por suspeitas.

Se o apetite por poder não é saciado, aquele que a todos distraiu, de quem nunca se deixou de esperar a mais vulgar e velada satisfação, deve ser consumido nas aspirações desapontadas da turba. Se Jesus não é o Cristo que se reivindica, Barrabás.

Um ídolo não tem o direito de não ser.

Não dá para não trair alguém que tinha tudo para ser o que todos esperavam. Não dá para não repudiar aquele com quem se decepcionou nas mais doces fantasias. Não dá para não condenar aquele que não consentiu com mais uma ilusão.

Um ídolo não tem o direito de se mover.

Todo líder é constituído em um jogo erótico. E toda intriga é uma pornografia. Ninguém toca no assunto, mas todos esperam secretamente que ele seja o que ninguém consegue ser. Este é o segredo que excita os ajuntamentos. Mas, se alguém acende a luz e frustra o fetiche coletivo, retomam-se as sombras, agora para destruir. Odeia-se quem não se deixou amar com máscara. Este é o segredo que perpetua as taras para os próximos ajuntamentos.

Por isso o insinuante beijo de Judas virá. Estalará como um tapa, cheio de um estranho sadismo. A primeira e mais ardida bofetada que o Filho do homem terá recebido.

As palavras de Jesus estão gastas. O prazo se esgotou. Tudo o que diz, desde então nada fala. As multidões atraídas por ele, agora o repelem. Resta o lugar de poucos, o espaço dos amigos. Quem sabe? Jesus se faz anfitrião e põe a mesa. Oferece pão, ainda que ninguém aparente chegar à saciedade. Enche as taças, que insistem em parecer vazias. Cheios estão os corações, mas de diabos. Sente-se sozinho também em casa.

O limite das palavras é um convite para os gestos de amor.

As palavras, amordaçadas, descobrem que o amor se expressa a despeito delas. Silenciosamente, Jesus encena o último sermão antes da cruz. Despe-se da capa para ocupar o lugar discretíssimo do servo. O mestre lava os pés dos discípulos. As mãos de um Deus calado conversam com os pés trôpegos da humanidade.

Nunca se olhou tanto para baixo como no dia em que Deus ficou de cócoras. Quem quisesse olhar para o céu a procura de Deus teria que vê-lo refletido nas águas turvas da bacia sobre o chão. E os pés sujos e vacilantes da humanidade, finalmente, imersos no céu gracioso de Deus.

Por um instante, vendo-o prostrado, alguém entre os discípulos, muito constrangido, se lembrou do que ouviu do próprio Jesus. Que um diabo, em um deserto, tentou fazê-lo se prostrar por poder e fama e ele recusou. Assustado, chegou a pensar: não se prostrou diante da fama para ser ouvido, mas se curvou diante de pessoas para amar… E teve medo do futuro. Do que teria que fazer com todos os seus planos.


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Inferno, uma hipérbole aos mortais




“Se o teu olho direito te faz pecar, arranca-o e lança fora, pois é melhor entrar na Vida com um só olho do que ir com os dois para o inferno”. Hora essa! Porque na nossa interpretação o olho é simbólico e o inferno é literal? Porque ninguém até agora arrancou o olho direito que tanto o fez pecar, e mais ainda: porque nenhum homem ainda não arrancou alguma de suas partes “indignas” para poder ser salvo. Então é assim: o inferno ta lá queimando que uma beleza! Mas arrancar a língua, a mão, o olho ou qualquer outro membro que é bom ninguém arranca!

Qual o critério de uma coisa ser literal e a outra alegórica? Porque se ignora um “mandamento” enquanto se teme uma analogia mítica como força de expressão de uma realidade eterna não compreensível? Entende-se que o bom senso é o discernimento do que se é fictício ou literal. Agora me diz uma coisa: que bom senso tem na existência de um lugar de condenação permanente para quem (não pediu para vir ao mundo) peca por setenta anos nesta vida (e não consentiu em nascer pecador) e passa o resto da eternidade pagando por esses seus pecados hediondos: dançar, beber e fazer “amor” fora de hora!

Meu Deus! Como assim? Eu lá no céu na maior alegria e milhares dos meus semelhantes queimando para sempre no quinto dos infernos? Só se eu estiver sedado para não me importar com isso! Ou será necessário Ele (usar deste artifício) apagar da nossa memória a existência dos nossos entes queridos que ficaram para traz, (blasfemando de Deus para sempre) para nós termos paz! Que paz? E a promessa de nunca mais choro, nunca mais dor? (nunca mais pra meia dúzia, será? Enquanto a maioria da humanidade se arrebenta, se acotovelando em ódio mútuo, perpetuando o pecado na existência?)

Aquele que era o pedagogo por excelência, instrutor em parábolas, analogias, metáforas, poeta das plantas e animais, prosador da vida do homem do campo, e contador de historias e enigmas, não nos quis falar do inferno como algo literal. Mas sim como uma hipérbole que é força de expressão do significado de aniquilação irreversível que representa o fogo eterno. Hipérbole é uma exageração intencional de linguagem com o intento de tornar mais expressiva à idéia, como figura metafórica propositada para acentuar a expressão do conceito, de modo a expor de forma dramática aquilo que se pretende vocabular, transmitindo uma idéia aumentada do autêntico.

Isso não é engano ou mentira, mas metodologia consciente para se dizer aos que não tem estrutura e entendimento para receber toda verdade. Pois sendo universal a sua mensagem Ele usava desses recursos para atingir de forma subjetiva cada pessoa, de todas as eras e povos, com entendimentos e capacidades de compreensão diferentes. Mas agora que crescemos e temos a capacidade de suportar certas desconstruções dos dogmas provisórios, e não somos crianças disciplinadas pelo medo, uma coisa não podemos deixar de sentir e dizer: que o inferno entendido como condenação literal e perpétua, não condiz nem com o senso de justiça intrínseco no espírito do homem e muito menos com o espírito do evangelho revelado no Amor e Graça do maior Mestre em figura de linguagem, contos alegóricos e palavras expressivas que já existiu!


terça-feira, 10 de abril de 2012

Anatomia da inveja





O Barcelona se classificou merecidamente para quinta semifinal consecutiva da Liga dos Campeões da Europa. O time vem apresentando exibições vibrantes e jogando com beleza e plasticidade. Já é praticamente consenso, entre os que realmente apreciam arte, que esse time não apenas joga futebol; faz esculturas com a bola, faz pinturas com a armação tática e faz poesia em cada partida. Há um casamento perfeito entre esporte e elegância, entre arte e maestria. O Barcelona já é visto, pela crônica esportiva, como o melhor time de clube da história do futebol, e já está alcançando status suficiente para rivalizar com os melhores combinados de seleção.

O que se espera é que o Barcelona, com uma história de sucesso como essa, dissemine apenas admiração, encantamento e simpatia mundo afora. Mas não é exatamente o que vem acontecendo por essas bandas daqui.  Enquanto a torcida pelo Barça só faz aumentar mundo a fora, independentemente das preferências por clubes locais, nas terras tupiniquins cresce uma onda insana de antipatização. É grande, por aqui, o número de (des)torcedores que querem ver o tropeço do time catalão, e de preferência para um timezinho sem qualquer expressão. Há por aqui uma legião de pessoas que não suportam o sucesso, a beleza, a competência de outro futebol que não seja brasileiro. Como o nosso futebol está numa fase ruim, em que desaprendeu a elegância e a plasticidade, aí é que a coisa fica pior; aí é que não suportamos mesmo ver o Barcelona jogar. Por que tanta antipatia? Não pretendo aprofundar essa questão. Quero apenas usar esse sentimento de antipatia pelo Barcelona como ilustração de um mal que corrói a alma: a inveja[1].

Torcer contra quem é bem sucedido, bonito, rico etc. pode indicar uma predileção para a mediocridade e uma incapacidade de lidar (reconhecer, apreciar e aprender) com a grandeza do outro. Quando o sucesso alheio (especialmente de que o alcançou legitimamente) começa incomodar é sinal de que a inveja está se aninhando na alma.

A inveja é um vício complicado e difícil de ser combatido por diversas razões. Quero neste artigo traçar algumas linhas sobre a anatomia da inveja. Só quando a desvendamos é que nos tornamos capazes de lhe fazer uma oposição consistente, de minar suas bases. Façamos o exercício de descortiná-la para, então, podermos combatê-la. Vamos a alguns pontos importantes[2].

A inveja é mal vista, logo tem de ser negada. Talvez a inveja seja o vício mais difamado e rejeitado. Não é bonito ser invejoso. Outros vícios como a raiva, o orgulho etc. são mais higienizados e aceitos socialmente. Não é tão feio assim ser esquentado. Também não causa tanta vergonha ser orgulhoso. Quem projeta orgulho não arranha drasticamente sua própria imagem; talvez até ganhe com isso. Mas quando se fala em inveja, a coisa é bem diferente. Ela é um vício sujo, humilhante e degradante. Ninguém gosta de se mostrar invejoso. Praticamente todas as pessoas reagem com furor quando são identificadas como invejosas. Toda essa representação negativa da inveja só contribui para que ela exista na clandestinidade da alma. Ela é enxotada para os porões e só sai de lá disfarçada. Em boa parte dos casos, sob um disfarce tão bom que nem o invejoso percebe.

A inveja não oferece ganho real e nem gratificação duradoura. A inveja não melhora a vida do invejoso e nem lhe dá prazer. Antes, lhe cria uma série de problemas relacionais, levando-o a se corroer solitariamente.  O invejoso vive possuído por uma raiva insana dos outros (porque são prósperos) e de si mesmo (porque é medíocre). A inveja nunca se sacia porque não age para fora. Diferentemente da raiva, que exige uma ação externa para se locupletar, a inveja, por ser preguiçosa e covarde, só age internamente; só ataca o mais fraco, o próprio invejoso. Ela sempre quer ver mais desgraça na vida do outro, mas é impotente para fazer isso acontecer. Ela sempre se frustra: ou porque o outro só prospera ou porque a desgraça que sobreveio é pequena demais aos seus olhos.

A inveja subverte a fonte da felicidade. Em vez se basear no que é bom, a inveja arma sua estrutura sobre o que é mau. Ambrose Bierce apresenta, no Devil’s Dictionary[3](Dicionário do Diabo), uma definição de felicidade que se ajusta perfeitamente à fisiologia da inveja:

“Felicidade – uma sensação agradável proveniente da contemplação da miséria alheia”.

A inveja se fundamenta no infortúnio, na desgraça, na miséria, e extrai daí fiapos de felicidade para o invejoso. Ambrose Bierce deixou de colocar em sua definição que essa sensação de felicidade é absurdamente efêmera e só se repete quando a desgraça alheia se aprofunda. A inveja constrói, então, uma estrutura de felicidade baseada na voracidade e insaciabilidade, tornando o invejoso viciado em desejo de desgraça. Como esse desejo nunca é plenamente satisfeito, o invejoso nunca experimenta a felicidade, mas apenas fragmentos extáticos de um prazer mórbido. A felicidade não se instala e nem se mantém quando o mal é o fundamento. Logo, todo invejoso é profundamente infeliz e morbidamente masoquista.

Termino este artigo com uma história muito conhecida. Eu a reescrevi e adaptei aos propósitos deste artigo:


Dois homens foram convidados para uma audiência com o rei.  Não foi por coincidência que o rei convocou justamente aqueles dois homens. Eles tinham vícios que os tornavam próximos e distantes ao mesmo tempo. Um era ganancioso e o outro, invejoso.

Os dois convidados chegam ao local do encontro. Estão meio apreensivos, um pouco amedrontados. Sentem-se interiormente culpados, embora nenhum deles se considere invejoso ou ganancioso.  Eles tinham visto no edital de convocação que cada um teria direito a um pedido, mas a essa altura não esperavam coisa boa. Talvez o rei lhes desse o direito de pedir um castigo mais brando ou coisa parecida.

No horário marcado, os dois súditos são chamados à sala real. Começa a audiência. O rei, vendo o terror estampado no rosto de cada um, diz:

_ Não tenham medo desse encontro. Hoje é um dia de sorte, não de infortúnio. Vocês foram convidados para receberem um presente. Peçam que quiserem e lhes darei.

A fala do rei os aliviou. De imediato cada um começou a fazer planos para o pedido, mas em silêncio. Um dos convidados esboçou fazer uma pergunta sobre haver ou não alguma condição que governasse o pedido. O rei de imediato o interrompeu:
_ Só há uma condição. Apenas um de vocês poderá fazer o pedido. Este receberá o que pedir e o outro receberá o que for pedido em dobro. Não há nenhuma regra que estabeleça quem deve fazer o pedido. Isso será decidido entre vocês.

Logo se instalou um drama na mente de cada um. O ganancioso pensou:
_ Se eu fizer o pedido vou ganhar menos que eu poderia ganhar. Devo convencer meu companheiro a fazer o pedido.

O invejoso, por sua vez, pensou:
_ Se eu fizer o pedido ele vai ganhar o dobro. Eu não suportaria vê-lo ganhar mais que eu. Devo convencê-lo a fazer o pedido.

Eles discutiram por alguns minutos, até que o ganancioso convenceu o invejoso a fazer o pedido. Este pensou consigo:
_ Preciso encontrar uma forma de fazer com que o meu pedido seja pior para ele. Mas é difícil. O rei foi muito sábio.

Num momento de profunda iluminação, sua inveja lhe forneceu uma ideia masoquista, mas suficiente para lhe satisfazer a compulsão por desgraça alheia. Antes de lançar o pedido ao rei, o invejoso se certificou da regra:
_ Qualquer coisa que eu pedir meu companheiro receberá em dobro? É isso mesmo, majestade? Qualquer coisa, mesmo?
_ Sim, disse o rei.
O invejou então pediu:
_ Quero que arranque um dos meus olhos.


Moral da história: a inveja não se importa com o sofrimento de quem lhe dá morada; o que ela quer mesmo é ver o infortúnio do outro. A inveja tem pavor de bem estar.  Ela leva o invejoso a condições degradantes  só para manter a obsessão por desgraça alheia. A inveja compele o invejoso à autoperversidade para se manter momentânea e morbidamente feliz.



[1] Me motivei a escrever este artigo depois de ler a crônica “A inveja é uma m...” de André Rizek (@andrizek), disponível em: http://sportv.globo.com/platb/andrerizek/2012/04/04/a-inveja-e-uma-m/. Devo a ele parte das ideias desenvolvidas nesses dois primeiros parágrafos.
[2] Parte das ideias desenvolvidas aqui foi inspirada em: Os Guinness. Sete pecados capitais.São Paulo: Shedd Publicações, 2006.

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